Leste e Oeste da Europa coesos no caso Skripal




Mesmo que por pragmatismo, também Estados do antigo bloco comunista e não-membros da UE se uniram contra Moscou na expulsão de diplomatas. E exceções não tiram o mérito da iniciativa, opina o jornalista Robert Schwartz.

As tradicionais interconexões econômicas e políticas com a Rússia não foram capazes de impedir que também a maioria dos Estados europeus participasse da expulsão de diplomatas russos, no contexto do caso de envenenamento do ex-agente duplo Sergei Skripal em Salisbury, Inglaterra.
Enquanto, no que toca aos países-membros da União Europeia, a solidariedade com o Reino Unido é citada como motivo principal, no caso da Albânia, Ucrânia ou República da Moldávia a decisão é, possivelmente, antes fruto de pragmatismo político. Ainda assim, a participação desses países não surpreendente, em absoluto.
A Albânia já é filiada à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) há mais de uma década, mas agora quer negociar logo seu ingresso na UE. Portanto trata-se de uma boa oportunidade para se comportar como nação europeia convicta. Até porque – assim como a Macedônia ou a Romênia, que aderiram às expulsões – os albaneses têm uma postura tradicionalmente antirrussa.
Também no caso das ex-repúblicas soviéticas Ucrânia e Moldávia, o ressentimento contra Moscou é profundo. A anexação da Crimeia, a agressão russa no leste da Ucrânia, a continuada presença russa na região secessionista moldava da Transnítria: todos esses são fatores decisivos na expulsão de representantes da Rússia.
Lançando uma sombra sobre toda a iniciativa, está o fato de a UE não avançar de forma coesa, com países como a Áustria, Bulgária ou Grécia retraindo-se quanto às expulsões. Ainda assim, as ressalvas de nações isoladas não negam o fato de que Estados democráticos do Oeste e Leste do continente europeu finalmente opuseram resistência conjunta a anos de contínuo comportamento agressivo por parte da Rússia.
Não se deve superestimar a significação das diferentes quantidades de diplomatas russos devolvidos a seu país. Um ou 60: na política internacional não é o número em si que conta, mas sim o valor simbólico. Isso está claro também para países como a Itália ou Hungria, cujos governos até então vinham agindo a favor da Rússia.
E Viena? O novo governo de Sebastian Kurz evoca a tradicional neutralidade da república alpina, a função de ponte que há anos desempenha na intermediação entre o Leste e o Oeste. Por isso, a Áustria não pretende expulsar nenhum russo – o que não a impediu de retirar seu embaixador de Moscou. Aparentemente mais um exemplo do sardônico humor vienense.
Vem a Bulgária. Ela está cheia de si por poder se apresentar de seu "lado mais europeu", neste semestre em que ocupa a presidência rotativa do Conselho Europeu. No entanto Sófia dá agora um tiro no próprio pé com seu posicionamento nas expulsões. Os tradicionais laços com Moscou são aparentemente mais fortes do que a solidariedade europeia. Um sinal nada bom, partindo de uma presidente do Conselho da UE.
A Grécia completa o pequeno grupo dos renitentes. Ao que tudo indica, também aqui nem mesmo o generoso pacote de resgate financeiro europeu conseguiu afrouxar os laços com a Rússia. Atenas deixou mais uma vez claro que está aberta para jogar com uma alternativa à UE. Porém até mesmo o melhor jogador às vezes erra o lance.
A reação do Kremlin preencheu as expectativas: diplomatas de 23 países deverão deixar o território russo, entre eles quatro representantes da Alemanha, como informou o Ministério do Exterior em Berlim. Trabalhar honestamente pelo esclarecimento do escândalo Skripal teria certamente sido mais sensato para os russos do que fechar o instituto de cultura British Council em Moscou.

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