Durante cúpula em Budapeste, primeiro-ministro Li Keqiang garante investimentos na região. União Europeia vê ajuda com ceticismo e considera projeto Nova Rota da Seda estratégia geopolítica.
O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, prometeu cerca de 3 bilhões de dólares aos países do Leste Europeu durante um encontro de cúpula em Budapeste nesta segunda-feira (27/11).
O Banco Chinês de Desenvolvimento garantirá 2 bilhões de dólares para um fundo de desenvolvimento dos países da região, antecipou o primeiro-ministro, que também prometeu mais 1 bilhão de dólares numa segunda etapa de um projeto de investimentos e cooperação.
A China também ofereceu 5 mil bolsas de estudo para estudantes do centro e do leste da Europa no país, anunciou Li Keqiang.
Ele se reuniu, na capital húngara, com chefes de Estado e de governo de 16 países do centro e do leste da Europa, 11 deles membros da União Europeia.
Essa é a sexta cúpula anual do chamado "16+1", integrado por China, Hungria, Albânia, Bulgária, Bósnia, República Checa, Croácia, Estônia, Letônia, Lituânia, Macedônia, Montenegro, Polônia, Romênia, Sérvia, Eslováquia e Eslovênia.
Parte da Nova Rota da Seda
A cúpula faz parte da estratégia de investimento internacional da China chamada de Nova Rota da Seda. O objetivo é formar um corredor comercial por meio de amplos investimentos, estreitando as relações econômicas entre a Ásia e a Europa.
"Nós, desta região da Europa, vemos o papel central da China na nova ordem mundial mais como oportunidade do que como perigo", enfatizou o ministro do Exterior da Hungria, Peter Szijjarto.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, salientou que a Europa precisa de "um forte aliado" para poder lidar com "desafios históricos". Orban disse esperar a assinatura de 11 acordos bilaterais durante a cúpula, incluindo um crédito bancário chinês para a modernização da conexão ferroviária entre a Hungria e a capital da Sérvia, Belgrado.
China como oportunidade
A nova rota deve facilitar o transporte de produtos chineses do porto grego de Pireu para o Leste Europeu. No total, a Hungria estima um custo de 2,1 bilhões de dólares para o projeto em seu território. As obras devem começar no final de 2020.
"Se a Europa se fechar, perderá a possibilidade de crescer", observou Orban, quem é abertamente contrário à recepção de refugiados e de imigrantes não europeus na Hungria. "Nós, 16 países do centro e do leste da Europa, sempre fomos abertos e continuaremos assim. Sempre vimos a cooperação com a China como uma grande oportunidade."
A cooperação da Hungria com a China não será dificultada por barreiras políticas, prosseguiu Orban, que não costuma questionar a situação dos direitos humanos ou das minorias nos países com os quais a Hungria faz negócios.
Estratégia geopolítica
Representantes da União Europeia acusam os governos da Hungria e da Polônia de ferir seus próprios princípios constitucionais com o acordo com a China.
O projeto chinês Nova Rota da Seda é controverso na Europa. O ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, já havia se pronunciado em agosto passado, advertindo para os riscos de uma divisão da União Europeia diante do plano de expansão comercial chinesa no continente. Por detrás da iniciativa Nova Rota da Seda está implícita uma grande estratégia geopolítica, cultural, econômica e, no fundo, até mesmo militar, analisou Gabriel.
Nova Rota da Seda reflete ambições da China
A globalização e o livre comércio ganharam um defensor inusitado nos últimos anos: a China liderada pelo presidente Xi Jinping. A surpresa é ainda maior diante do contraste oferecido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que tem adotado um discurso protecionista e isolacionista.
"A globalização está enfrentando alguns ventos contrários. Temos de buscar resultados por meio de maior abertura e mais cooperação, evitando a fragmentação, nos abstendo de colocar limites inibidores à cooperação ou perseguindo acordos exclusivos, e rejeitando o protecionismo", declarou recentemente o líder chinês.
A menina dos olhos da globalização promovida pelos chineses é o projeto batizado One Belt, One Road, mais conhecido pelo nome de Nova Rota da Seda. Trata-se de um megaprojeto de infraestrutura que tenta reviver a antiga Rota da Seda, que ligava a China a Roma.
A iniciativa, lançada no fim de 2013, prevê investimentos de 1,3 trilhão de dólares em projetos de infraestrutura, ligando os centros industriais chineses aos mercados consumidores na Europa Ocidental por meio de rotas terrestres, marítimas e redes de comunicação.
O Belt do nome oficial do projeto se refere à rota que passa pela Ásia Central, Irã, Turquia e Leste Europeu. Já o Road é o caminho marítimo que passa pelo Sudeste Asiático, Sul da Ásia, África e Mediterrâneo. Ambos ligam a China à Europa Ocidental.
Bancos de investimentos chineses já colocaram 890 bilhões de dólares em cerca de 900 projetos de infraestrutura, incluindo uma vasta rede de portos, rodovias, estradas e parques industriais, em 65 países. Numa recente cúpula realizada em Pequim, Xi anunciou que mais 124 bilhões de dólares estão disponíveis.
O objetivo mais evidente da Nova Rota da Seda é abrir mercados para as empresas chinesas, criando um contraponto ao comércio transatlântico entre os Estados Unidos e a Europa. Mas a China também espera atrair para sua zona de influência países do Oriente Médio e da Ásia Central.
Além disso, a Nova Rota da Seda é uma expressão da maneira como a China se vê e quer ser percebida: um ator de primeira grandeza no cenário internacional, o equivalente aos Estados Unidos para a Ásia.
A China tem o apoio de países importantes para o sucesso do projeto, como a Turquia e a Rússia, mas líderes europeus têm se mostrado reticentes. Eles têm exposto, por exemplo, preocupações sociais e ambientais na execução de obras de infraestrutura.
Conflitos regionais também têm se mostrado um entrave para o sucesso da Nova Rota da Seda. A Índia não compareceu à recente cúpula em Pequim por se opor ao projeto conhecido como Corredor Econômico China-Paquistão, que liga a China ao Mar Arábico. A rota passa pela região da Caxemira administrada pelo Paquistão, um território disputado que a Índia reivindica para si.
Outro problema são as dificuldades para se investir em vários dos países da Nova Rota da Seda. Segundo o consultor Tom Miller, da consultoria Gavekal, os chineses deverão perder 80% dos investimentos no Paquistão, 50% em Myanmar e 30% na Ásia Central.
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