China promete bilhões para Nova Rota da Seda

Representantes de mais de cem países, inclusive 29 chefes de Estado e governo, participam do fórum internacional sobre ambicioso projeto global de transportes e telecomunicações planejado por Pequim.

O presidente da China, Xi Jinping, abriu neste domingo (14/05) o fórum internacional sobre a Nova Rota da Seda, insistindo nos fatores positivos de sua iniciativa, que trarão "benefícios que todos compartilharão".

Na ocasião, Xi prometeu US$ 124 bilhões (quase 400 bilhões de reais) para o ambicioso projeto global de transportes e telecomunicações planejado por Pequim.

Xi inaugurou a reunião de dois dias com um discurso de quase 45 minutos, no qual repassou o significado histórico das antigas rotas comerciais que uniam Leste e Oeste, e as relacionou com o plano que Pequim promove desde 2013.

Representantes de mais de cem países, inclusive 29 chefes de governo e Estado, anunciaram a sua presença em Pequim. Entre outros, participam da reunião o presidente russo, Vladimir Putin; seu colega de pasta turco, Recep Tayyip Erdogan; a presidente do Chile, Michelle Bachelet; o premiê espanhol, Mariano Rajoy; e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.

A Alemanha e o Reino Unido estão sendo representados por seus ministros da Economia, respectivamente, Brigitte Zypries e Philip Hammond. Além disso, a China convidou uma delegação da Coreia do Norte a Pequim, o que foi recebido com críticas pelos EUA devido à disputa sobre os programas nucleares e de mísseis de Pyongyang.

No encontro de dois dias, a China quer promover a sua ambiciosa visão de novas rotas comerciais. Assim, uma moderna rede de transportes com novos corredores econômicos deverá surgir entre a Ásia, África e Europa, ou seja, por onde passava a antiga Rota da Seda.

Isso significa novos trens de alta velocidade, gasodutos e um grande número de novas estradas e portos. Todos são bem-vindos a participar do projeto, declarou Xi na abertura do evento. A China não tem nenhuma intenção de "impor a sua vontade sobre os outros."

Convite tentador

Esse convite foi aceito de bom grado por muitos dos presentes. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, assegurou em Pequim que seu país está pronto para se converter na ponte entre a Ásia e a América Latina, e num dos protagonistas do novo plano de infraestruturas impulsionado pelo governo chinês.



Num período de desafios protecionistas no mundo e de um fraco crescimento global, "é o momento adequado para buscar novos horizontes", considerou Bachelet em seu discurso para líderes mundiais.

A iniciativa da Nova Rota da Seda impulsionada pelo presidente chinês, Xi Jinping, é o "maior projeto econômico" que se debate neste momento, destacou Bachelet, agradecendo o esforço da China por aproximar posturas entre os países.

Com foco em assegurar pactos comerciais com novos parceiros e antigos aliados após sua saída da União Europeia (UE), o ministro da Economia britânico, Philip Hammond, destacou: "À medida que deixamos a UE, queremos manter uma relação comercial próxima e aberta com nossos vizinhos europeus e ao mesmo tempo perseguir nossa ambição de assegurar acordos de livre-comércio no mundo."

O ministro britânico considerou que o plano de Pequim para promover o investimento em infraestruturas na Ásia e em outras regiões do planeta é "verdadeiramente revolucionário" quanto à escala.

O Reino Unido está "preparado" para contribuir para que a iniciativa seja um sucesso: Londres é, "por natureza, o parceiro [da China] no Ocidente", concluiu o ministro britânico.

Já o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, destacou neste domingo a posição geográfica de seu país como ponte entre a Europa e a Ásia para a implementação da iniciativa da Nova Rota da Seda.

"A Turquia se encontra no cruzamento entre Ásia e Europa, e é um dos países líderes da Rota da Seda com sua situação geográfica única", afirmou Erdogan em seu discurso no fórum internacional.

Erdogan disse que seu país está envolvido na construção de novas infraestruturas, como o túnel Europa-Ásia recentemente inaugurado, a nova ponte sobre os Dardanelos em construção e as obras em novos aeroportos.

Por isso, disse que a iniciativa chinesa "requer cooperação antes que competição" entre os Estados, e ofereceu "todo tipo de apoio" de sua parte.

Críticas ocidentais

Em Pequim, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiram a China para o plano de investimentos em infraestruturas promovido pelo Império do Meio.

Apesar de Jim Yong Kim e Christine Lagarde manifestarem apoio à iniciativa, para garantir o êxito das Novas Rotas da Seda, "o investimento estimado precisará ser grande", afirmou o presidente do Banco Mundial.

"Cumprir com esta promessa não vai ser tarefa fácil, mas se for levada a cabo, e bem realizada, pode trazer enormes benefícios", afirmou a diretora-gerente do FMI.

Já para a ministra da Economia alemã, Brigitte Zypries, a conferência em Pequim é um ato de equilíbrio: por um lado, ela não quer desapontar o anfitrião, que gostaria de ter a Alemanha do seu lado no ambicioso projeto, pelo outro, ela representa os interesses da União Europeia, para quem os padrões e ecológicos dos planos chineses não são satisfatórios.

China e Rússia

A conferência em Pequim foi ofuscada pelo lançamento de um míssil da Coreia do Norte, neste domingo. Durante o encontro, o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, "discutiram em detalhe a situação na península coreana" e "as duas partes exprimiram a sua preocupação diante uma escalada de tensão", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.



O presidente russo viajou no sábado com uma grande delegação para Pequim. Anteriormente, um assessor do Kremlin havia declarado que, em seu discurso de abertura do fórum, Putin iria expor "a visão russa sobre as perspectivas de desenvolvimento da cooperação no espaço eurasiático", informou Yuri Ushakov.

O assessor do Kremlin disse ainda que a fala de Putin deveria incluir várias "iniciativas concretas" sobre as rotas mais efetivas através de território russo e dos outros membros da União Econômica Eurasiática para o transporte de mercadorias do Oceano Pacífico ao Atlântico.

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