Tanques de guerra: 100 anos em ação







Carro de combate britânico Mark I capturado pelos Alemães durante a Primeira Guerra Mundial. As lagartas eram enormes de modo ao tanque poder escalar obstáculos. As principais armas eram montadas em ambos os lados do tanque, de modo a manter o centro de gravidade baixo.
Um carro de combate (conhecido popularmente como tanque de guerra) é um sistema de armas que reúne em si, sob determinada prioridade sistémica, as 5 ações essenciais ao combate: Poder de fogo, Ação de Choque, Protecção, Mobilidade, e Informações e Comunicações.
O termo "tanque" (ou no original em inglês, "tank") surgiu como um código criado por seus inventores, os ingleses, para disfarçar o projeto do primeiro carro de combate de seus inimigos à época, os alemães.
Há exatamente 100 anos, o coronel inglês Ernest Swinton apareceu com "o germe de uma idéia" para o tanque de guerra. Foi em grande parte graças à sua visão que os tanques se tornaram um dos desenvolvimentos da indústria militar mais importantes do século 20.

O primeiro tanque, batizado de "Mother" (mãe, em inglês), foi produzido pelo Exército Britânico em 1915. Um ano depois, tanques foram utilizados pela primeira vez, na batalha em Somme, na Irlanda.

1916: Primeiro tanque de guerra em ação

Em 15 de setembro de 1916, um tanque de guerra foi usado pela primeira vez na história militar em uma frente de batalha, no norte da França.  O primeiro carro de combate a entrar em serviço foi um Mark I, levado para combate pelo Capitão H. W. Mortimore da Marinha Real Britânica para Delville Wood durante a batalha do Somme.


Em setembro de 1916, as tropas alemãs combatiam em Flers, na França, numa das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, que deixou um saldo de mais de um milhão de soldados mortos. Durante a chamada Batalha do Somme, alemães e aliados enfrentaram-se durante semanas numa frente de combate com mais de 40 quilômetros de extensão.
Na luta por alguns metros de terreno, foram cavadas longas trincheiras, e cercas de arame farpado protegiam os soldados de ataques repentinos do inimigo. Trocas de tiros e ataques diretos alternavam-se, sem que qualquer das partes conseguisse levar vantagem.
Na manhã do dia 15 de setembro de 1916, os alemães aguardavam os costumeiros ataques das tropas inglesas de infantaria. Para surpresa geral, no lugar de combatentes, surgiram à distância o que alguns soldados acreditaram tratar-se de tratores.
"Movidos por forças sobrenaturais"
Um correspondente de guerra relatou o fato da seguinte forma: "Sobre as crateras vinham dois gigantes. Os monstros aproximavam-se hesitantes e vacilantes, mas chegavam cada vez mais perto. Para eles, que pareciam movidos por forças sobrenaturais, não havia obstáculos. Os disparos das nossas metralhadoras e das nossas armas de mão ricocheteavam neles. Assim, eles conseguiram liquidar, sem esforço, os granadeiros das trincheiras avançadas".
O que os estupefatos alemães presenciaram era a ação dos primeiros tanques de guerra da história da humanidade – a nova arma que ingleses e franceses tinham construído em sigilo absoluto. Essa arma recebeu dos militares aliados o codinome de "tanque", a fim de que os inimigos pensassem em reservatórios de água ou de combustível, caso extravasasse alguma informação sobre o projeto secreto.
Os novos tanques de guerra desencadearam a situação mais fatídica ocorrida até então numa frente de combate. Os "monstros" superavam obstáculos, em função dos quais milhares de soldados tinham morrido antes. Armas, trincheiras ou cercas de arame farpado – nada conseguia deter os poderosos veículos.
Um tanque inglês avariado foi descrito da seguinte forma pelos militares alemães que conseguiram tomá-lo: "Nos lados, ele tem chapa de blindagem de dois centímetros e meio de espessura e uma torre giratória de canhão, do formato de um ninho de andorinha. É dirigido através de uma peça traseira de articulação que pode ser movida para cima e para baixo. O veículo é tão pesado, que um vagão de trem sucumbiu sob o seu peso. Eles transportam muita munição, alimentos e uma gaiola com pombos-correio".
Os primeiros tanques eram consideravelmente lentos, perfazendo apenas seis quilômetros por hora, além de serem bastantes difíceis de manobrar. Dos 49 tanques de guerra da primeira geração, que foram usados em Flers, poucos retornaram a seus postos de origem.
Elogios à coragem alemã
Grande parte deles foi abandonada no caminho em função de panes no motor ou na esteira de rodagem ou acabou atolada em algum buraco ou lamaçal profundo. Nove tanques foram destruídos pelos alemães. Depois de vencer o susto inicial, os soldados alemães passaram a atacar os tanques com granadas de mão e armas de fogo.
Segundo um correspondente de guerra inglês, "a coragem dos alemães era fora do comum. Ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos, eles tentavam, com uma fúria desesperada, assaltar os tanques e matar a sua tripulação. Eles se alçavam reciprocamente ao teto do tanque, procuravam escotilha ou fendas e atiravam com revólveres nas frestas".
O número consideravelmente alto de baixas dos tanques de guerra levou o Exército alemão a acreditar que a artilharia seria sempre superior à nova invenção, o que foi considerado um erro estratégico alguns anos mais tarde.
A França mais tarde desenvolveu o Schneider CA1 a partir de tractores Holt, sendo utilizadores pela primeira vez a 16 de Abril de 1917. Posteriormente desenvolveram os pesados St. Chamond. Em seguida veio um tanque leve amplamente fabricado e muito utilizado pelos aliados, o Renault FT-17. Os alemães também criaram o seu tanque, o A7V. A primeira utilização maciça de carros de combate ocorreu a 20 de Novembro de 1917, na batalha de Cambrai.
A guerra terminou antes que o uso de carros de combate pudesse ter um impacto significativo, apenas algumas centenas de veículos tendo efectivamente sido postos em campo. No entanto, o resultado do uso de carros de combate na Batalha de Amiens, perto do final da guerra, veio demonstrar que o combate de trincheiras estava obsoleto.

Enquanto franceses e ingleses trabalharam na melhoria da qualidade dos seus tanques, chegando a ter no último ano da guerra alguns milhares deles, os alemães só tinham produzido 45 unidades até então. Um desequilíbrio que se tornou cada vez mais visível e acelerou a derrota alemã na guerra.

 
2ª Guerra Mundial e Guerra Fria¹ 
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi a primeira guerra onde os veículos blindados foram fundamentais para o sucesso no campo de batalha. Neste período os tanques se transformaram em verdadeiros sistemas complexos de armas móveis, sendo capaz de alcançar vitórias táticas em tempos incrivelmente curtos.

Entretanto, ao mesmo tempo foram desenvolvidas eficientes armas anticarro, provando que por mais fortes que fossem, os blindados não eram invulneráveis. Alguns exércitos aliaram a mobilidade da infantaria com a proteção da cavalaria, criando divisões de infantaria motorizada altamente poderosas.
Libertar a Europa da opressão nazista foi o ponto alto da carreira política do tanque no século 20. Depois da guerra, ele rapidamente virou símbolo de repressão durante a Guerra Fria e depois.
Tanques soviéticos avançaram na Hungria em 1956 e na Tchecoslováquia em 1968 para impedir que saíssem da linha básica comunista e não prosseguissem com "liberalizações" do sistema.
Do outro lado do espectro político, tanques foram às ruas de São Paulo, do Rio e cercaram o Congresso durante a Revolução Militar de 1964. "Tanques nas ruas" também foi a ordem do dia durante o golpe do general Pinochet no Chile, em 1973.
Duas das melhores imagens simbólicas de tanques vieram da Ásia. É o caso do tanque do Vietnã do Norte detonando o portão e invadindo o palácio presidencial em Saigon, então capital do Vietnã do Sul, em 1975.
A outra é a clássica imagem do provável estudante chinês que fez tanques pararem na praça da Paz Celestial em Pequim, em 1989, quando os protestos foram esmagados pelo governo.
Ou então é o caso do garoto palestino jogando pedra em tanque israelense em 2000, outra imagem que correu o mundo. Ironicamente, tanques israelenses impediram o país de ser varrido do mapa pelos seus inimigos árabes em 1967 e 1973.
"O monstro que veio rastejando da Guerra Fria era de jeito nenhum apenas um instrumento prático de guerra. Ele também veio acompanhado do seu próprio culto mítico — uma vida após a morte miasmática, que elevou a máquina do seu lugar costumeiro nas garagens de quartéis e campos de batalha e a relançou como um fantasma da imaginação moderna", escreveu o historiador cultural britânico Patrick Wright, mais interessado no simbolismo do tanque do que nos seus motores

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