Seriam os Estados Unidos uma terra de jihad? Com o massacre que terminou em 49 mortos e 53 feridos em uma casa noturna gay de Orlando, levanta-se a questão da presença em solo norte-americano da organização EI (Estado Islâmico), que reivindicou esse atentado. Omar Mateen, o autor do massacre, estava no radar do serviço secreto depois de ter chamado a atenção da polícia federal em 2014, em razão de possíveis ligações com Moner Mohammad Abu Salha, o primeiro jihadista de nacionalidade norte-americana morto em um atentado suicida na Síria. É um caso que está longe de ser isolado.
No final de 2015, quase 250 norte-americanos entraram ou tentaram entrar para o EI na Síria ou no Iraque, segundo estimativas do programa sobre o extremismo da George Washington University, que se baseia em fontes das agências de inteligência. Entre cem e 150 teriam conseguido e uma dezena teria morrido, enquanto 900 investigações foram abertas em todos os 50 Estados norte-americanos sobre supostos simpatizantes do EI, dentre os quais 71 eram alvo de processos em novembro.
O fenômeno não é novo. Entre 2007 e 2009, duas dezenas de norte-americanos de origem somali se juntaram às fileiras do grupo islamita dos Al-Shabaab, afiliados à Al-Qaeda. Mas essa rede de Minneapolis, cidade do Minnesota de onde saíram os jihadistas, se baseava na época em laços pessoais, familiares, tribais e comunitários. Esses norte-americanos de origem somali --dentre os quais 15 em seguida entraram para as fileiras do EI no Iraque ou na Síria-- haviam crescido no mesmo bairro, frequentavam as mesmas escolas e os mesmos locais de prece.
Totalmente diferente é a "geração Estado Islâmico" e as 71 pessoas processadas (56 presas só no ano de 2015) de hoje, cujos perfis foram estudados pelos pesquisadores da George Washington University. Provenientes de 21 Estados em uma área geográfica extensa, cerca de 40% deles são convertidos. O mais jovem tinha 15 anos quando foi detido para averiguações, e o mais velho é um ex-piloto da US Air Force, de 47 anos. A maioria (86%) é homem, mas o número de mulheres tende a aumentar.
Em uma manhã de outubro de 2014, três jovens adolescentes de um subúrbio de Denver, duas irmãs de origem somali de 15 e 17 anos e uma amiga sudanesa de 16 anos, desapareceram quando iam para a escola. Elas foram interceptadas pela polícia alemã no aeroporto de Frankfurt, quando se encaminhavam para a Síria. Durante vários meses, elas fizeram contato e amizade pela internet com ativistas do EI, entre eles Oum Waqqas, uma "recrutadora" do movimento muito influente até o outono de 2015 no Twitter.
Dos cerca de 20 mil ativistas online do movimento jihadista que são muito ativos nas redes sociais, milhares de contas são baseadas em território norte-americano. É uma terra altamente simbólica para a missão do movimento jihadista.
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