Quando desembarcar em Santiago do Chile nesta quinta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro poderá sentir-se, de certa forma, em casa: em 2010, o país andino foi o primeiro da América Latina a romper a "onda" de governos de esquerda e de centro-esquerda - justamente com a primeira eleição do economista e político Sebastián Piñera.
Em seu segundo mandato presidencial, Piñera é o anfitrião de Bolsonaro e o receberá para um jantar no palácio de La Moneda, no sábado. A história recente do Chile é marcada pelo domínio de siglas de esquerda.
Depois que o ditador Augusto Pinochet (1915-2006) foi obrigado a passar o poder a um civil eleito, em 1990, o país passou a ser governado por políticos que pertenciam aos partidos da chamada "Concertación" - uma frente criada para se opor à permanência do ditador no poder. Os governos da Concertación se estenderam de 1990 a 2010 - e incluíram dois presidentes do Partido Democrata Cristão e dois do Partido Socialista (PS) do Chile. Pertence ao PS a antecessora de Piñera no cargo, Michelle Bachelet.
Depois da vitória em 2010, Piñera (pronuncia-se "pinhêra") foi derrotado por Bachelet em 2014. Ele voltou ao palácio de La Moneda no ano passado, depois de desbancar a socialista nas urnas no fim de 2017.
Após o êxito inicial de Piñera em 2010, uma série de mandatários de direita tingiu o mapa latino-americano de azul: Mauricio Macri na Argentina (2015); Michel Temer no Brasil, após o impeachment da petista Dilma Rousseff (2016); Lenin Moreno no Equador (2017); Martin Vizcarra no Peru (2018); Ivan Duque na Colômbia (2018); e Mario Abdo Benítez no Paraguai (2018).
Eleito com o apoio do esquerdista Rafael Corrêa no Equador, Lenin Moreno rompeu com seu antecessor e passou a governar com o apoio de partidos direitistas. O pai do atual presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, foi secretário pessoal do ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989).
O ex-mandatário foi elogiado por Bolsonaro no fim de fevereiro deste ano, em um evento com Benítez. Assim como Michel Temer (MDB), Martin Vizcarra era o vice-presidente do Peru: ele assumiu depois do titular Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, renunciar na esteira de um escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht. Todos os demais conquistaram seus mandatos nas urnas.
A "onda" de direita sucede uma outra na América Latina, de governos de esquerda e centro-esquerda, iniciada no começo dos anos 2000. Fizeram parte do movimento os governos do PT no Brasil (2003-2016), os mandatos dos peronistas Eduardo Duhalde, Néstor e Cristina Kirchner na Argentina (2003-2015); Evo Morales na Bolívia (2006-presente); e os governos de centro-esquerda do Peru que se sucederam após a queda de Alberto Fujimori (2000 em diante), entre outros exemplos. Carlos Gustavo Poggio é professor do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) em São Paulo.
Segundo ele, o conceito de "ondas" de esquerda e de direita são usados na Ciência Política, mas nem por isso é correto igualar todos os chefes de Estado que chegam ao poder nesses movimentos. Por exemplo: ao contrário de Bolsonaro, Piñera é um político tradicional do Chile - e tem também posições mais moderadas que o presidente brasileiro.
"É um fenômeno complexo. Mas não deixa de ser uma coisa relativamente comum. Se você pensar na história da América Latina, ela realmente parece seguir alguns padrões (de semelhança entre os países). Assim como estamos vivendo uma onda de direita neste momento, podemos ter outra de esquerda ali adiante", disse ele à BBC News Brasil.
"Me parece que esta onda atual (da direita) vem na esteira de fracassos dos projetos de esquerda na região. No Brasil, por exemplo, tivemos governos que apostaram numa estratégia de populismo macroeconômico (na época do PT), e que depois cobrou sua fatura", avalia ele.
Em outubro, o cientista político americano Anthony Pereira falou à BBC News Brasil sobre a perda de fôlego dos partidos de esquerda na América Latina. Para ele, a tendência - reforçada pela eleição de Bolsonaro - é a de que a voga de direita e conservadora se mantenha na região.
A ideologia no comando do Palácio do Planalto acaba ganhando força para influenciar o rumo da política nos demais países da região. Além disso, a afinidade ideológica com o Brasil pode favorecer ou atrapalhar os demais países que buscam acordos e parcerias com Brasília.
"Bolsonaro pode entrar em contato com presidente do Chile e da Colômbia para tentar fortalecer a direita e formar uma nova direita, mais ideológica", disse Anthony em outubro, pouco antes da vitória de Bolsonaro ser confirmada nas urnas. Ele é diretor do Brazil Institute da universidade King's College, em Londres, na Inglaterra.
Em seu segundo mandato presidencial, Piñera é o anfitrião de Bolsonaro e o receberá para um jantar no palácio de La Moneda, no sábado. A história recente do Chile é marcada pelo domínio de siglas de esquerda.
Depois que o ditador Augusto Pinochet (1915-2006) foi obrigado a passar o poder a um civil eleito, em 1990, o país passou a ser governado por políticos que pertenciam aos partidos da chamada "Concertación" - uma frente criada para se opor à permanência do ditador no poder. Os governos da Concertación se estenderam de 1990 a 2010 - e incluíram dois presidentes do Partido Democrata Cristão e dois do Partido Socialista (PS) do Chile. Pertence ao PS a antecessora de Piñera no cargo, Michelle Bachelet.
Depois da vitória em 2010, Piñera (pronuncia-se "pinhêra") foi derrotado por Bachelet em 2014. Ele voltou ao palácio de La Moneda no ano passado, depois de desbancar a socialista nas urnas no fim de 2017.
Após o êxito inicial de Piñera em 2010, uma série de mandatários de direita tingiu o mapa latino-americano de azul: Mauricio Macri na Argentina (2015); Michel Temer no Brasil, após o impeachment da petista Dilma Rousseff (2016); Lenin Moreno no Equador (2017); Martin Vizcarra no Peru (2018); Ivan Duque na Colômbia (2018); e Mario Abdo Benítez no Paraguai (2018).
Eleito com o apoio do esquerdista Rafael Corrêa no Equador, Lenin Moreno rompeu com seu antecessor e passou a governar com o apoio de partidos direitistas. O pai do atual presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, foi secretário pessoal do ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989).
O ex-mandatário foi elogiado por Bolsonaro no fim de fevereiro deste ano, em um evento com Benítez. Assim como Michel Temer (MDB), Martin Vizcarra era o vice-presidente do Peru: ele assumiu depois do titular Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, renunciar na esteira de um escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht. Todos os demais conquistaram seus mandatos nas urnas.
A "onda" de direita sucede uma outra na América Latina, de governos de esquerda e centro-esquerda, iniciada no começo dos anos 2000. Fizeram parte do movimento os governos do PT no Brasil (2003-2016), os mandatos dos peronistas Eduardo Duhalde, Néstor e Cristina Kirchner na Argentina (2003-2015); Evo Morales na Bolívia (2006-presente); e os governos de centro-esquerda do Peru que se sucederam após a queda de Alberto Fujimori (2000 em diante), entre outros exemplos. Carlos Gustavo Poggio é professor do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) em São Paulo.
Segundo ele, o conceito de "ondas" de esquerda e de direita são usados na Ciência Política, mas nem por isso é correto igualar todos os chefes de Estado que chegam ao poder nesses movimentos. Por exemplo: ao contrário de Bolsonaro, Piñera é um político tradicional do Chile - e tem também posições mais moderadas que o presidente brasileiro.
"É um fenômeno complexo. Mas não deixa de ser uma coisa relativamente comum. Se você pensar na história da América Latina, ela realmente parece seguir alguns padrões (de semelhança entre os países). Assim como estamos vivendo uma onda de direita neste momento, podemos ter outra de esquerda ali adiante", disse ele à BBC News Brasil.
"Me parece que esta onda atual (da direita) vem na esteira de fracassos dos projetos de esquerda na região. No Brasil, por exemplo, tivemos governos que apostaram numa estratégia de populismo macroeconômico (na época do PT), e que depois cobrou sua fatura", avalia ele.
Em outubro, o cientista político americano Anthony Pereira falou à BBC News Brasil sobre a perda de fôlego dos partidos de esquerda na América Latina. Para ele, a tendência - reforçada pela eleição de Bolsonaro - é a de que a voga de direita e conservadora se mantenha na região.
A ideologia no comando do Palácio do Planalto acaba ganhando força para influenciar o rumo da política nos demais países da região. Além disso, a afinidade ideológica com o Brasil pode favorecer ou atrapalhar os demais países que buscam acordos e parcerias com Brasília.
"Bolsonaro pode entrar em contato com presidente do Chile e da Colômbia para tentar fortalecer a direita e formar uma nova direita, mais ideológica", disse Anthony em outubro, pouco antes da vitória de Bolsonaro ser confirmada nas urnas. Ele é diretor do Brazil Institute da universidade King's College, em Londres, na Inglaterra.
O que Bolsonaro fará no Chile?
No fim de outubro de 2018, logo depois das eleições, o hoje ministro da Casa Civil,Onyx Lorenzoni (DEM) disse que a primeira viagem internacional de Bolsonaro seria ao Chile - o que não acabou acontecendo.
"O Chile é uma grande referência latino-americana. Tem boa educação, gera tecnologia e hoje comercializa com todo mundo. Temos que ter a humildade de olhar esse exemplo com atenção", disse Lorenzoni, que chamou o país andino de "farol da América Latina". Piñera foi um dos primeiros líderes internacionais a parabenizar Bolsonaro pela vitória, e o convidou a visitar o país.
A saída de Bolsonaro de Brasília está marcada para meio-dia desta quinta-feira (21) - ele deve chegar a Santiago por volta das 16h10. O primeiro compromisso é um jantar na residência oficial do embaixador brasileiro no Chile, Carlos Sérgio Duarte. Bolsonaro está completando 64 anos de idade, deve comemorar a passagem na casa do embaixador. Antes da festa, o presidente deve fazer uma "live" no Facebook por volta das 19h.
Viajam com o presidente três ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores); Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional, o GSI). Também estarão na viagem o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e Hélio "Bolsonaro" Lopes (PSL-RJ). Hélio é amigo pessoal do mandatário brasileiro.
Na sexta, Bolsonaro e Piñera participarão de uma reunião com os presidentes mais cinco países da América Latina - todos de direita ou centro-direita: Mauricio Macri (Argentina); Ivan Duque (Colômbia); Mario Abdo Benítez (Paraguai) e Martin Vizcarra (Peru).
Na reunião, esses líderes discutirão a possível criação de um novo organismo internacional na América Latina, para substituir a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) - entidade considerada "de esquerda".
O novo organismo está sendo chamado informalmente de "Prosul" - mas não há mais detalhes até o momento.
Segundo o chanceler brasileiro Ernesto Araújo, foi justamente Piñera quem trouxe a ideia de "trocar" a Unasul. O ministro confirmou na quarta-feira (20) a saída do Brasil e de outros países do organismo. "Gostamos muito da ideia que o Chile vem conduzindo que é a de substituir a Unasul, que é um organismo que não faz mais sentido, que foi criado e nasceu com vício de origem", disse Araújo.
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