"A Venezuela está à beira de uma guerra. Não é possível prever a intensidade ou tipo de combate que pode vir a ser travado no país vizinho. Mas este é um dos cenários mais sólidos que se desenham nessa fase crítica da crise do chavismo
"Os cemitérios são ferramentas poderosas para nos recordar o custo humano das guerras. Em Arlington, cidade da Virgínia separada da capital dos Estados Unidos por um rio, está o mais famoso deles. Ali repousam os restos mortais de mais de 400.000 combatentes – uma fração do total de baixas somadas em todos os conflitos em que os americanos estiveram envolvidos desde a Guerra Civil (1861-1865).
Logo na entrada, uma escultura em bronze chamada “O preço da liberdade” resume o que está por vir: morte. No topo da estrutura de quase quatro metros, um anjo carrega um corpo sem vida. A mensagem é que não há libertação que não passe por batalhas ou não deixe um rastro do dor.
A Venezuela está à beira de uma guerra. Não é possível prever a intensidade ou tipo de combate que pode vir a ser travado no país vizinho. Mas este é um dos cenários mais sólidos que se desenham nessa fase crítica da crise do chavismo.
O presidente Nicolás Maduro e seu regime não dão sinais de que recuarão. Juan Guaidó, o deputado que se autoproclamou presidente interino e conquistou o apoio de quase todas as democracias do Ocidente, é uma realidade irreversível. O resultado de dois presidentes, com interpretações distintas de uma mesma Constituição e a disputa por um só país pode estar na origem de uma guerra civil.
Para entender a posição de Nicolás Maduro é preciso pensar no processo de criminalização do Estado venezuelano. Maduro não é um político. Ele se transformou em um dos líderes de uma organização criminosa que assaltou e o transformou em máfia ainda no primeiro mandato de Hugo Chávez, no início da década passada.
A mimetização do aparato estatal com o crime é tamanho que a Venezuela evoluiu do conceito de narcoestado para o que defino como estado-narco. O governo deixou se ser infiltrado ou influenciado pelo crime para ser o próprio agente criminosos. Promovendo o narcotráfico e o terrorismo. Na orbita do “chavismo madurista” estão cartéis de drogas, terroristas internacionais e contrabandistas.
As decisões que Maduro e seus comparsas tomarão nos próximos dias não seguirão as regras típicas de políticos, mas as de criminosos. Será um puro esforço de sobrevivência não só física, mas organizacional. Seus comparsas estão pensando em como salvar seus pescoços, bolsos e poder.
Os cenários que o regime tem pela frente conta com o apoio de governos autocráticos como Rússia, China, Irã, Turquia e os latino-americanos Bolívia, Cuba e Nicarágua. Essa retaguarda dá ao núcleo chavista e à sua elite militar a margem necessária para jogar com o tempo. Além de apoio diplomático, possibilidades de asilo e evasão de suas fortunas roubadas do povo venezuelano, os chavistas jogam com a ameaça de suporte militar.
Guaidó corre contra o relógio, pois ele sabe que como presidente interino tem ferramentas muito limitadas para conduzir o Estado. Sequer tem as condições de convocar as eleições que constitucionalmente está obrigado a fazer em um prazo de 30 dias.
Tarefa que tem parecido tão impossível de ser cumprida que, no início da semana, a Assembleia Nacional providenciou um ajuste legal ampliando para até doze meses o período de transição. Em resumo os 30 dias só começarão a ser contados a partir do dia em que Nicolás Maduro deixar o Palácio de Miraflores.
Enquanto Guaidó tenta pavimentar o acesso pacífico ao Palácio de Miraflores, oferecendo inclusive um plano de anistia aos chavistas, planos de intervenção são desenhados dentro e fora da Venezuela. Entre os vários cogitados, o que tem a maior adesão é o que considera a ajuda humanitária a melhor forma de iniciar esse processo. O próprio Guaidó deu a senha ao dizer que “em breve” militares chegarão da Colômbia, Brasil e de uma ilha do Caribe com alimentos e remédios. Uma forma de dizer ao regime que o relógio está correndo. Ou aceitam a anistia, ou enfrentarão uma coalizão que os apeará do poder à força. Na quarta-feira (06), Maduro mandou obstruir as pontes que conectam Venezuela a Colômbia e revelou detalhes de um dos planos de golpe, evidentemente obtidos sob tortura, com a prisão de um dos líderes dos planos de invasão, o coronel discente Oswaldo Garcia Palomo.
A atitude confirmou as melhores ponderações que vêm do lado brasileiro do tabuleiro. Nossos militares dão como impossível que Maduro aceite passivamente o ingresso de ajuda humanitária e o consequente acesso de forças estrangeiras no território venezuelano.
Enviar comboios à revelia do Palácio de Miraflores seria como jogar gasolina na fogueira. Qualquer tipo de movimento, como a interceptação da ajuda ou até mesmo uma retaliação violenta poderiam servir de catalisadores para um conflito que arrastaria até quem não quer briga, como o Brasil.
Os Estados Unidos passaram os últimos dois anos evitando uma intervenção. Mas há sinais de que isso pode ter mudado, devido à temperatura e a velocidade em que as coisas estão acontecendo. O Brasil é considerado um aliado chave nesse plano. Mas, em Brasília, os militares trabalham com o risco de cairmos no atoleiro de uma guerra.
Qual mãe e qual pai brasileiros estariam dispostos a enterrar um filho pela Venezuela? Quais seriam os impactos políticos e econômicos em um país que tenta se recuperar da pior crise da sua história? Os generais recomendam cautela. Ponderações que têm desagradado alguns segmentos do governo que creem o Brasil não tem outro papel senão o de fazer parte da coalizão para derrubar Nicolás Maduro.
Os nossos militares sabem que um possível conflito na Venezuela pode tomar caminhos e dimensões imprevisíveis. Está ai a Síria para nos ensinar. Bashar al-Assad é chamado de ditador, como Maduro. Não tem legitimidade internacional, como o ditador latino. Vê seu país sob duras sanções, como as que somente agora se abatem sobre a Venezuela. Tem grande parte do país sob o controle de terroristas do Estado Islâmico, rebeldes armados e minorias separatistas, coisa que nem de longe o Maduro enfrenta.
Apesar disso segue no poder depois de quase oito anos de guerra civil que já soma mais de meio milhão de mortos. Assad não só desdenha do conflito como se sustenta dele. Usa da violência para massacrar inimigos e compartilhar com os aliados Rússia e Irã o manejo do conflito e a reengenharia da influência na região. Seria esse o plano de Maduro?
A última guerra que aconteceu nas nossas franjas foi em 1982, a quase 500 quilômetros da costa da Argentina, nas Malvinas. Os 75 dias de combate tiveram efeito zero sobre a vida dos brasileiros. A despeito dos 649 mortos e das profundas cicatrizes que o conflito deixou em toda sociedade argentina, os nossos vizinhos viram a guerra de longe.
Uma guerra total, como desejam muitos venezuelanos que vivem no exílio e alguns brasileiros mais sensibilizados com o sofrimento dos vizinhos, pode incluir bombardeios, confrontos terrestres e um saldo humanitário devastador. O tal “O preço da liberdade” que está representado em bronze no maior Cemitério Arlington.
Essa conta não chegará apenas para os venezuelanos. Ainda que se mantenha de fora, o Brasil não estará imune aos efeitos da eclosão de um conflito dessa magnitude em um país polarizado e repleto de criminosos que se nutrem do regime. Uma crise de refugiados em padrões bíblicos pode ser apenas um dos desafios que poderá vir a enfrentar. Nicolás Maduro e seu regime precisam de um ponto final.
Mas qual é o preço que o Brasil está disposto a pagar? Congelar ativos, neutralizar aliados e estrangular o regime pode ser mais eficiente que uma reconstrução em de um país assolado pela crise e que pode vir a ser arrasado em uma luta fratricida. Na guerra contra a Maduro o cérebro seria mais poderoso que as armas. Mas isso tomaria tempo que hoje é incompatível com o ambiente em que todos parecem estar com uma faca entre os dentes."
Logo na entrada, uma escultura em bronze chamada “O preço da liberdade” resume o que está por vir: morte. No topo da estrutura de quase quatro metros, um anjo carrega um corpo sem vida. A mensagem é que não há libertação que não passe por batalhas ou não deixe um rastro do dor.
A Venezuela está à beira de uma guerra. Não é possível prever a intensidade ou tipo de combate que pode vir a ser travado no país vizinho. Mas este é um dos cenários mais sólidos que se desenham nessa fase crítica da crise do chavismo.
O presidente Nicolás Maduro e seu regime não dão sinais de que recuarão. Juan Guaidó, o deputado que se autoproclamou presidente interino e conquistou o apoio de quase todas as democracias do Ocidente, é uma realidade irreversível. O resultado de dois presidentes, com interpretações distintas de uma mesma Constituição e a disputa por um só país pode estar na origem de uma guerra civil.
Para entender a posição de Nicolás Maduro é preciso pensar no processo de criminalização do Estado venezuelano. Maduro não é um político. Ele se transformou em um dos líderes de uma organização criminosa que assaltou e o transformou em máfia ainda no primeiro mandato de Hugo Chávez, no início da década passada.
A mimetização do aparato estatal com o crime é tamanho que a Venezuela evoluiu do conceito de narcoestado para o que defino como estado-narco. O governo deixou se ser infiltrado ou influenciado pelo crime para ser o próprio agente criminosos. Promovendo o narcotráfico e o terrorismo. Na orbita do “chavismo madurista” estão cartéis de drogas, terroristas internacionais e contrabandistas.
As decisões que Maduro e seus comparsas tomarão nos próximos dias não seguirão as regras típicas de políticos, mas as de criminosos. Será um puro esforço de sobrevivência não só física, mas organizacional. Seus comparsas estão pensando em como salvar seus pescoços, bolsos e poder.
Os cenários que o regime tem pela frente conta com o apoio de governos autocráticos como Rússia, China, Irã, Turquia e os latino-americanos Bolívia, Cuba e Nicarágua. Essa retaguarda dá ao núcleo chavista e à sua elite militar a margem necessária para jogar com o tempo. Além de apoio diplomático, possibilidades de asilo e evasão de suas fortunas roubadas do povo venezuelano, os chavistas jogam com a ameaça de suporte militar.
Guaidó corre contra o relógio, pois ele sabe que como presidente interino tem ferramentas muito limitadas para conduzir o Estado. Sequer tem as condições de convocar as eleições que constitucionalmente está obrigado a fazer em um prazo de 30 dias.
Tarefa que tem parecido tão impossível de ser cumprida que, no início da semana, a Assembleia Nacional providenciou um ajuste legal ampliando para até doze meses o período de transição. Em resumo os 30 dias só começarão a ser contados a partir do dia em que Nicolás Maduro deixar o Palácio de Miraflores.
Enquanto Guaidó tenta pavimentar o acesso pacífico ao Palácio de Miraflores, oferecendo inclusive um plano de anistia aos chavistas, planos de intervenção são desenhados dentro e fora da Venezuela. Entre os vários cogitados, o que tem a maior adesão é o que considera a ajuda humanitária a melhor forma de iniciar esse processo. O próprio Guaidó deu a senha ao dizer que “em breve” militares chegarão da Colômbia, Brasil e de uma ilha do Caribe com alimentos e remédios. Uma forma de dizer ao regime que o relógio está correndo. Ou aceitam a anistia, ou enfrentarão uma coalizão que os apeará do poder à força. Na quarta-feira (06), Maduro mandou obstruir as pontes que conectam Venezuela a Colômbia e revelou detalhes de um dos planos de golpe, evidentemente obtidos sob tortura, com a prisão de um dos líderes dos planos de invasão, o coronel discente Oswaldo Garcia Palomo.
A atitude confirmou as melhores ponderações que vêm do lado brasileiro do tabuleiro. Nossos militares dão como impossível que Maduro aceite passivamente o ingresso de ajuda humanitária e o consequente acesso de forças estrangeiras no território venezuelano.
Enviar comboios à revelia do Palácio de Miraflores seria como jogar gasolina na fogueira. Qualquer tipo de movimento, como a interceptação da ajuda ou até mesmo uma retaliação violenta poderiam servir de catalisadores para um conflito que arrastaria até quem não quer briga, como o Brasil.
Os Estados Unidos passaram os últimos dois anos evitando uma intervenção. Mas há sinais de que isso pode ter mudado, devido à temperatura e a velocidade em que as coisas estão acontecendo. O Brasil é considerado um aliado chave nesse plano. Mas, em Brasília, os militares trabalham com o risco de cairmos no atoleiro de uma guerra.
Qual mãe e qual pai brasileiros estariam dispostos a enterrar um filho pela Venezuela? Quais seriam os impactos políticos e econômicos em um país que tenta se recuperar da pior crise da sua história? Os generais recomendam cautela. Ponderações que têm desagradado alguns segmentos do governo que creem o Brasil não tem outro papel senão o de fazer parte da coalizão para derrubar Nicolás Maduro.
Os nossos militares sabem que um possível conflito na Venezuela pode tomar caminhos e dimensões imprevisíveis. Está ai a Síria para nos ensinar. Bashar al-Assad é chamado de ditador, como Maduro. Não tem legitimidade internacional, como o ditador latino. Vê seu país sob duras sanções, como as que somente agora se abatem sobre a Venezuela. Tem grande parte do país sob o controle de terroristas do Estado Islâmico, rebeldes armados e minorias separatistas, coisa que nem de longe o Maduro enfrenta.
Apesar disso segue no poder depois de quase oito anos de guerra civil que já soma mais de meio milhão de mortos. Assad não só desdenha do conflito como se sustenta dele. Usa da violência para massacrar inimigos e compartilhar com os aliados Rússia e Irã o manejo do conflito e a reengenharia da influência na região. Seria esse o plano de Maduro?
A última guerra que aconteceu nas nossas franjas foi em 1982, a quase 500 quilômetros da costa da Argentina, nas Malvinas. Os 75 dias de combate tiveram efeito zero sobre a vida dos brasileiros. A despeito dos 649 mortos e das profundas cicatrizes que o conflito deixou em toda sociedade argentina, os nossos vizinhos viram a guerra de longe.
Uma guerra total, como desejam muitos venezuelanos que vivem no exílio e alguns brasileiros mais sensibilizados com o sofrimento dos vizinhos, pode incluir bombardeios, confrontos terrestres e um saldo humanitário devastador. O tal “O preço da liberdade” que está representado em bronze no maior Cemitério Arlington.
Essa conta não chegará apenas para os venezuelanos. Ainda que se mantenha de fora, o Brasil não estará imune aos efeitos da eclosão de um conflito dessa magnitude em um país polarizado e repleto de criminosos que se nutrem do regime. Uma crise de refugiados em padrões bíblicos pode ser apenas um dos desafios que poderá vir a enfrentar. Nicolás Maduro e seu regime precisam de um ponto final.
Mas qual é o preço que o Brasil está disposto a pagar? Congelar ativos, neutralizar aliados e estrangular o regime pode ser mais eficiente que uma reconstrução em de um país assolado pela crise e que pode vir a ser arrasado em uma luta fratricida. Na guerra contra a Maduro o cérebro seria mais poderoso que as armas. Mas isso tomaria tempo que hoje é incompatível com o ambiente em que todos parecem estar com uma faca entre os dentes."
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