Brasil condena "ditador" Maduro, EUA prometem ações contra "capangas"
No impasse em torno do fornecimento de ajuda humanitária internacional à Venezuela, os Estados Unidos prometeram "adotar ações" depois que as tentativas de ingresso no país através da Colômbia redundaram em caos sangrento.
Condenando a violência dos que classificou como "capangas" do presidente Nicolás Maduro, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu que seu país agirá. O presidente Donald Trump afirmou que não descarta partir para a ação armada.
Por sua vez, o governo brasileiro expressou sua "condenação mais veemente" contra os "atos de violência" perpetrados pelo "regime ilegítimo do ditador Nicolás Maduro", que deixaram mortos e dezenas de feridos. "O uso da força contra o povo venezuelano, que anseia por receber a ajuda humanitária internacional, caracteriza, de forma definitiva, o caráter criminoso do regime Maduro.
Trata-se de um brutal atentado aos direitos humanos, que nenhum princípio do direito internacional remotamente justifica e diante do qual nenhuma nação pode calar-se", assinalou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado. "O Brasil apela à comunidade internacional, sobretudo aos países que ainda não reconheceram o presidente encarregado Juan Guaidó, a somarem-se ao esforço de libertação da Venezuela, reconhecendo o governo legítimo de Guaidó e exigindo que cesse a violência das forças do regime contra sua própria população", concluiu a primeira reação oficial do governo Jair Bolsonaro aos recentes incidentes nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia.
O autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, apelou à comunidade internacional para que considere "todas as medidas para libertar" a Venezuela de Maduro. O oposicionista de 35 anos anunciou que participará do encontro do Grupo de Lima desta segunda-feira (25/02), na capital colombiana, Bogotá, reunindo sobretudo nações latino-americanas. O vice-presidente Mike Pence representará os EUA na ocasião. A ajuda humanitária, em grande parte oriunda dos EUA, tornou-se o foco do impasse político entre Maduro e Guaidó, o líder da Assembleia Nacional que se declarou presidente interino há cerca de um mês.
Alegando tratar-se de um "cavalo de Troia" de Washington, o regime em Caracas reprimiu duramente neste sábado as tentativas de comboios para ingressarem no país, a partir da Colômbia e do Brasil, com carregamentos de assistência humanitária, com o apoio de Guaidó.
Houve confrontos entre manifestantes antichavistas e forças governamentais, que reforçaram bloqueios montados na fronteira colombiana, onde caminhões foram incendiados. Devido às dificuldades e a violência, os oposicionistas liderados por Guaidó ordenaram o retorno dos veículos carregados aos centros de armazenamento.
Maduro anunciou o rompimento de todas as relações com Bogotá, ordenando a retirada dos funcionários diplomáticos colombianos do país. Segundo relatos da oposição, pelo menos três pessoas, uma delas de 14 anos, morreram durante confrontos com paramilitares chavistas.
Na sexta-feira, dois manifestantes indígenas já haviam sido mortos por forças do regime na vila venezuelana de Kumarakapay. Os feridos, em parte por armas de fogo, são calculados em torno de 300.
Nos confrontos com os que protestavam nas fronteiras colombiana e brasileira, no decorrer do sábado, militares venezuelanos empregaram gás lacrimogêneo e balas de borracha. Alguns manifestantes atiraram coquetéis molotov contra um posto da Guarda Nacional Bolivariana.
O dia de tensão foi também marcado por deserções de mais de 60 militares venezuelanos, que buscaram refúgio na Colômbia, vários deles declarando apoio a Guaidó.
Quem vai aguentar por mais tempo na Venezuela?
Há um mês começou a luta pelo poder na Venezuela, com a surpreendente declaração de guerra do líder oposicionista Juan Guaidó. Desde então foi um lance atrás do outro: Guaidó alcançou reconhecimento internacional graças a uma campanha preparada cuidadosamente; protestos em larga escala colocaram o presidente Nicolás Maduro sob pressão; e um embargo de petróleo dos Estados Unidos mira o orçamento de guerra do regime.
A turma de Maduro parece surpresa, reage na defensiva e seus assessores brigam até diante das câmeras. O vento histórico sopra a favor da oposição. No fim de semana, Guaidó completou mais um lance: fotos de centenas de milhares num show beneficente da oposição versus um esvaziado show de Maduro; uma "frente de batalha humanitária" coordenada, na qual se pôde acompanhar como milhares de civis tentavam levar mantimentos para a Venezuela e, do outro lado, milicianos e militares bloqueavam essa ajuda, atiravam em manifestantes e incendiavam caminhões.
Maduro parece ter perdido a guerra da propaganda: o mundo o vê como um ditador inescrupuloso, corrupto e sem povo. As motivações inquietantes de uma reorganização neoconservadora da América e o passado daqueles que estão por trás de Guaidó, como o arquiteto do Caso Irã-Contras, Elliott Abrams, ou o lobby ultraconservador dos exilados cubanos são, porém, raramente tematizados. Conflitos, porém – mesmo um com pretexto humanitário – são decididos no campo de batalha.
E lá Guaidó continua sendo um presidente sem Estado. Primeiro, ele falhou em levar a ajuda humanitária para a Venezuela. E uma ou duas dúzias de desertores, mesmo de altas patentes, como o ex-militar chefe da inteligência Hugo Carvajal, não servem para abalar a lealdade da liderança das Forças Armadas.
Por isso, a estratégia da ajuda humanitária não visa a liderança, mas as patentes medianas, aquelas que comandam os bloqueios. Se elas cederem, como calculado, serão seguidas por tropas desmoralizadas e vão isolar os generais. Aqui entra o fator tempo.
No curto prazo, Maduro e seus assessores cubanos conseguiram encontrar alternativas comerciais no Oriente Médio, na Índia e na Rússia e assim furar o embargo. Mas elas são dispendiosas devido aos custos de transporte, e em médio prazo a crise humanitária vai se intensificar.
Se isso levará a população à revolta ou à fuga, ainda não está claro. Quanto mais tempo a resistência de Maduro for bem-sucedida, maior é o risco de que o momento de Guaidó se atenue, a oposição se divida ou uma parte dela se radicalize.
Em longo prazo, o atual regime na Venezuela, assim como a economia deficitária de Cuba no passado, só conseguirá sobreviver se encontrar um aliado disposto a gastar bilhões para ter bases geoestratégicas no Caribe. Isso é duvidoso. A situação geopolítica mundial aponta para um recuo das superpotências para suas esferas regionais de influência. Trump, Putin e Xi Jingping vão selar entre si o destino da Venezuela?
O que pode convencer Trump a atacar a Venezuela é sobretudo possíveis lucros nas eleições de 2020. Até lá a questão tem que estar resolvida a contento. O quão longe ele irá para isso?
A opção militar é mais do que uma ameaça verbal? Até que ponto Trump joga com os europeus o jogo do bom policial e do mau policial para obrigar Maduro a negociar? No pôquer venezuelano, todas as cartas ainda não estão na mesa.
A turma de Maduro parece surpresa, reage na defensiva e seus assessores brigam até diante das câmeras. O vento histórico sopra a favor da oposição. No fim de semana, Guaidó completou mais um lance: fotos de centenas de milhares num show beneficente da oposição versus um esvaziado show de Maduro; uma "frente de batalha humanitária" coordenada, na qual se pôde acompanhar como milhares de civis tentavam levar mantimentos para a Venezuela e, do outro lado, milicianos e militares bloqueavam essa ajuda, atiravam em manifestantes e incendiavam caminhões.
Maduro parece ter perdido a guerra da propaganda: o mundo o vê como um ditador inescrupuloso, corrupto e sem povo. As motivações inquietantes de uma reorganização neoconservadora da América e o passado daqueles que estão por trás de Guaidó, como o arquiteto do Caso Irã-Contras, Elliott Abrams, ou o lobby ultraconservador dos exilados cubanos são, porém, raramente tematizados. Conflitos, porém – mesmo um com pretexto humanitário – são decididos no campo de batalha.
E lá Guaidó continua sendo um presidente sem Estado. Primeiro, ele falhou em levar a ajuda humanitária para a Venezuela. E uma ou duas dúzias de desertores, mesmo de altas patentes, como o ex-militar chefe da inteligência Hugo Carvajal, não servem para abalar a lealdade da liderança das Forças Armadas.
Por isso, a estratégia da ajuda humanitária não visa a liderança, mas as patentes medianas, aquelas que comandam os bloqueios. Se elas cederem, como calculado, serão seguidas por tropas desmoralizadas e vão isolar os generais. Aqui entra o fator tempo.
No curto prazo, Maduro e seus assessores cubanos conseguiram encontrar alternativas comerciais no Oriente Médio, na Índia e na Rússia e assim furar o embargo. Mas elas são dispendiosas devido aos custos de transporte, e em médio prazo a crise humanitária vai se intensificar.
Se isso levará a população à revolta ou à fuga, ainda não está claro. Quanto mais tempo a resistência de Maduro for bem-sucedida, maior é o risco de que o momento de Guaidó se atenue, a oposição se divida ou uma parte dela se radicalize.
Em longo prazo, o atual regime na Venezuela, assim como a economia deficitária de Cuba no passado, só conseguirá sobreviver se encontrar um aliado disposto a gastar bilhões para ter bases geoestratégicas no Caribe. Isso é duvidoso. A situação geopolítica mundial aponta para um recuo das superpotências para suas esferas regionais de influência. Trump, Putin e Xi Jingping vão selar entre si o destino da Venezuela?
O que pode convencer Trump a atacar a Venezuela é sobretudo possíveis lucros nas eleições de 2020. Até lá a questão tem que estar resolvida a contento. O quão longe ele irá para isso?
A opção militar é mais do que uma ameaça verbal? Até que ponto Trump joga com os europeus o jogo do bom policial e do mau policial para obrigar Maduro a negociar? No pôquer venezuelano, todas as cartas ainda não estão na mesa.
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