Nova Guerra Fria? Ou Fake?




Nos últimos meses, fatos relevantes emergiram na conjuntura internacional, os quais requerem acompanhamento atento, especialmente, pelos países com significativas interações externas, como o Brasil: a escalada da tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte, controlada, em tese, após o encontro de seus dirigentes máximos; o anúncio da nova estratégia de defesa americana, classificando China e Rússia, entre outros, como grandes preocupações para a segurança nacional norte-americana; e o continuado desentendimento entre Estados Unidos e Rússia sobre diferentes pontos, principalmente, no que tange à complexa guerra na Síria.

No mesmo sentido, as constantes reações da Rússia às alegadas intervenções da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no seu entorno estratégico, o aumento da disputa entre Estados Unidos e China pelo controle geopolítico da bacia do Oceano Pacífico e a “guerra comercial” travada entre eles são fatos que evidenciam um novo quadro de oposição entre as principais potências militares.

No cenário sul-americano, o recente acordo de cooperação firmado entre Colômbia e OTAN ensejou reação da Venezuela, firme parceira da Rússia e China. Aquela nação bolivariana afirmou que o compromisso entre Colômbia e OTAN viola acordos bilaterais e multilaterais estabelecidos com a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) e a Comunidade dos Estados Latinos Americanos (CELAC), por entender que a presença da aliança atlântica na América do Sul muda o quadro regional de “zona de paz” declarado por essas organizações.

Diante do exposto, alguns analistas chegaram a enunciar que o mundo caminhava para uma “nova guerra fria”, hipótese que não se confirmou, revelando-se fake. Apesar disso, configura-se um quadro em que se registram conflitos distintos ao redor do planeta, com envolvimento direto ou indireto das grandes potências militares.

Estamos, agora, assistindo a um movimento de fortalecimento dos principais Estados Nacionais, mudando o eixo do superado movimento de formação de blocos supranacionais para uma fase na qual os interesses eminentemente locais voltarão a ditar os movimentos no xadrez geopolítico internacional.

Esse contexto, aliado ao atual cenário brasileiro, enseja reflexões relevantes, com implicações diretas para o desenvolvimento do País. “Deitada em berço esplêndido”, a sociedade brasileira, tradicionalmente, não dedica muita atenção à conjuntura externa. Tal fato, associado à inexistência de inimigos declarados, colabora para uma baixa perspectiva da necessidade de proteger o Brasil.

Não obstante, a problemática da segurança pública e de outras necessidades domésticas relevantes, que interferem fortemente na vida cotidiana dos cidadãos, acabam por determinar o emprego da reserva estratégica do Estado brasileiro – suas Forças Armadas – para apoiar a consecução de distintas demandas internas. Porém, ao se deparar com a encruzilhada que definirá o futuro próximo do País, é fundamental manter a opinião pública, em especial, os formadores de opinião, constantemente alertada de que as missões de apoio interno não devem ser priorizadas, em detrimento das atribuições das Forças Armadas afetas à defesa da Pátria.



O Brasil, independentemente de seus problemas internos, é o quinto em área territorial, abrigando a quinta maior população do globo. É possuidor de vastos recursos naturais, que constituem riquezas incalculáveis, e de uma força econômica que gera, atualmente, o oitavo Produto Interno Bruto mundial, estimado em cerca de US$ 2 trilhões. Esse colossal patrimônio, pelo seu vulto, requer efetiva e constante proteção contra qualquer ameaça, ostensiva ou velada.

Além disso, a preparação e a manutenção de uma defesa brasileira forte e atualizada, com capacidade dissuasória, têm potencial para induzir geração de empregos e contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento científico e tecnológico.

Como exemplos, podem-se citar os diferentes projetos estratégicos em curso, desenvolvidos pela Marinha, pelo Exército e pela Força Aérea. Finalmente, ao aprimorarem constantemente suas capacidades para atuar nas tarefas puramente militares, as Forças Armadas tornam-se, também, mais aptas para contribuir com a Nação de forma decisiva, quando necessário, e maximizar os esforços em apoio ao povo ao qual servem.

Um claro exemplo é o excelente desempenho das tropas nas operações de garantia da lei e da ordem, em território nacional, nos últimos anos, o que foi constantemente aperfeiçoado por meio do aprendizado da participação brasileira na missão de paz da ONU, no Haiti.

A conjuntura internacional evidencia, claramente, a importância do fomento das capacidades militares clássicas das Forças Armadas, a fim de continuarem assegurando a soberania e a independência plena do Brasil.

Os recursos empregados na defesa são investimentos concretos para o desenvolvimento e o futuro da Nação. Essa assertiva não é clichê para justificar o emprego de capital naquela área, mas decorrência natural do presente cenário, ao qual o País deve estar cada vez mais atento.

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