Centenas de socorristas sírios conhecidos como “capacetes brancos” e suas famílias tiveram de fugir do avanço das tropas governamentais e cruzaram a fronteira com a Jordânia, onde passaram a noite, com a ajuda de soldados israelenses e de potências ocidentais, disseram autoridades.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em um breve comunicado neste domingo que ajudou na retirada a pedido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de outros líderes —havia temores de que a vida dos socorristas estivesse em risco.
O grupo, conhecido oficialmente como Defesa Civil da Síria, tem sido amplamente aclamado no Ocidente e creditado pela salvação de milhares de pessoas em áreas controladas pelos rebeldes durante os anos de ataques a bomba de Damasco e aliados.
Seus membros, conhecidos por seus capacetes brancos, alegam neutralidade. Mas o presidente sírio Bashar al-Assad e seus apoiadores, incluindo a Rússia, os consideram ferramentas de propaganda patrocinadas pelo Ocidente e representantes de insurgentes islamistas.
Síria denuncia retirada 'criminosa' de capacetes brancos por parte de Israel¹
Exército sírio conquista posições rebeldes perto das Colinas de Golã²
Israel bombardeia alvos militares no oeste da Síria³
O governo em Damasco não fez comentários a respeito nesse domingo.
Uma fonte do governo jordaniano disse que 422 pessoas foram trazidas da Síria, passando pela fronteira das Colinas de Golã ocupadas por Israel e entraram na Jordânia, um número bem menor do que os 800 anunciados anteriormente pelo Ministério das Relações Exteriores em Amã.
As pessoas serão mantidas em um local “fechado” na Jordânia e realocados para Grã-Bretanha, Alemanha e Canadá dentro de três meses, acrescentou a fonte.
Uma segunda fonte não-jordaniana, familiarizada com o acordo, disse que o plano original era retirar 800 pessoas, mas apenas 422 conseguiram deixar as operações. As demais foram impedidas pelos postos de controle do governo sírio e pela expansão do Estado Islâmico na área.
A Síria e seus aliados russos lançaram uma ofensiva contra rebeldes nessa sensível zona de fronteira sudoeste.
As autoridades de Damasco denunciaram, nesta segunda-feira (23), uma "operação criminosa" depois de Israel retirar um contingente de Capacetes Brancos e suas famílias do sul da Síria - informou a agência oficial de notícias Sana.
"As palavras não bastam para expressar a ira de todos os sírios diante desses complôs desprezíveis e desse apoio sem limite dados pelos países ocidentais, Israel e Jordânia à organização dos Capacetes Brancos", afirma uma fonte do Ministério sírio das Relações Exteriores, citado pela Sana.
"A operação criminosa de Israel" mostrou "a verdadeira natureza" dos Capacetes Brancos, insistiu a fonte.
A Síria "já havia advertido sobre o perigo para a segurança e a estabilidade do país, devido a natureza terrorista" que essa organização representava, acrescentou.
Regularmente, Rússia e Síria acusam os socorristas de estarem ligados a grupos extremistas e de divulgarem "mentiras" sobre suas operações militares.
Israel anunciou, no domingo, ter enviado para a Jordânia socorristas dos Capacetes Brancos e suas famílias. A operação secreta foi executada a pedido, em particular, de Grã-Bretanha, Alemanha e Canadá, disse o governo israelense.
Ao todo, 422 pessoas foram evacuadas, segundo números divulgados pela Jordânia. Em um primeiro momento, Israel havia falado em 800 evacuados.
Essas pessoas permanecerão nesse país por até três meses antes de serem levadas para Reino Unido, Alemanha e Canadá.
O exército sírio e forças aliadas obtiveram avanços no sudoeste do país e se aproximaram das Colinas de Golã, ocupadas por Israel, enquanto rebeldes que se recusam a ficar sob o comando do governo embarcaram em ônibus para o norte da Síria, controlada pela oposição, disseram rebeldes e uma televisão estatal.
O exército, apoiado por uma campanha aérea russa, tem encurralado os rebeldes para as pontas da província de Quneitra, seguindo uma ofensiva no último mês que derrotou rebeldes na província vizinha de Deraa.
A ofensiva restaurou o controle do governo sírio em grande porção do sudoeste do país, um território estratégico perto das fronteiras com Jordânia e Israel.
A captura de uma série de vilarejos, anunciada pelo exército sírio neste sábado, ocorre em um momento no qual rebeldes e suas famílias são retirados da região pelo segundo dia seguido, saindo de vilarejos na região de Golã para o norte sírio.
“Estamos em um ônibus com cerca de 60 pessoas, homens jovens e famílias, e estamos prestes a partir e ser extirpados de nossas casas”, disse Maher Ali, de 38 anos, um ativista que decidiu deixar a região com sua família.
O exército está consolidando seu controle sobre uma série de locais com vista privilegiada para Golã, que outrora permitiram aos rebeldes que controlavam a região uma forte posição na sensível área fronteiriça.
Um ataque aéreo israelense tomou como alvo neste domingo (22) uma posição militar das forças do regime no oeste da Síria, informaram os meios de comunicação oficiais sírios.
"Uma de nossas posições militares em Massyaf sofreu uma agressão aérea israelense", informou a agência oficial Sana, citando uma fonte militar que só se refere a danos materiais.
Israel lançou recentemente vários ataques aéreos contra posições do regime sírio e de seu aliado iraniano. Uma porta-voz do Exército israelense se recusou a comentar, pois seu país raramente confirma suas incursões militares na vizinha Síria.
"O local atacado neste domingo é uma oficina supervisionada pelos iranianos, onde são fabricados mísseis terra-terra de curto alcance", afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos, ONG que tem uma vasta rede de fontes em Síria.
Irã e Hezbollah
"As forças iranianas e o movimento libanês Hezbollah estão nesse setor", detalhou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane.
O Irã e o Hezbollah libanês, dois inimigos de Israel, são os principais aliados do regime sírio junto com a Rússia. Israel reiterou em várias ocasiões sua rejeição que a Síria se torne uma cabeça-de-ponte iraniana.
A região de Massyaf também abriga uma filial do Centro de Pesquisas e Estudos Científicos da Síria (SSRC), já atacado em setembro de 2017 pelo Exército israelense.
Esse órgão é acusado pelos Estados Unidos de ajudar a produzir gás sarin e fabricar armas químicas, mas o poder sírio nega que recorra a esse tipo de arsenal.
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