No início de novembro, o Exército fará um treinamento militar na Amazônia, numa área de fronteira com Peru e Colômbia, países cujas tropas estarão na atividade. As Forças Armadas dos Estados Unidos também vão participar, inédita presença do Tio Sam na Amazônia brasileira. Se os EUA terão portas abertas, por que não abri-las para um deputado?
É o que quer o líder do PSOL na Câmara, Glauber Braga (RJ). O parlamentar protocolou o pedido no ministério da Defesa na segunda-feira 9. O documento destinava-se ao ministro Raul Jungmann e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas.
“A observação do exercício in loco poderá contribuir para o acompanhamento da operação com o máximo de transparência”, diz o deputado no ofício.
No mesmo dia, Braga apresentou na Câmara um requerimento de informações dirigido a Jungmann. Quer detalhes sobre a presença, no treinamento, de militares que não sejam os dos países da tríplice fronteira. São cinco perguntas:
1) No entendimento do Ministério da Defesa, o que justificaria o convite a militares de países de fora da América do Sul, e particularmente dos Estados Unidos, para participação em exercício militar na Amazônia brasileira?
2) Quantos militares de outros países participarão do exercício Amazonlog17? Quais os seus nomes, nacionalidades e patentes, e quais funções desempenharão no exercício?
3) De quais outras formas os Estados Unidos participarão do exercício militar na Amazônia? Quais os nomes e funções do conjunto de estadunidenses (inclusive da equipe de saúde e de apoio logístico) que participarão da operação?
4) O que justificaria o convite aos Estados Unidos para participar da instalação de uma base militar na Amazônia brasileira, ainda que temporária?
5) Segundo o sítio do Ministério da Defesa, empresas do setor de Segurança e Defesa, do Brasil e do exterior, apresentarão, em exposição ou durante o exercício, produtos que possam ser pertinentes à defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia. Quais empresas, brasileiras e estrangeiras, foram convidadas para essa exposição e participação no exercício, com base em quais critérios e segundo quais procedimentos?
Para o governo ser obrigado a responder as questões, a Câmara precisa aprovar o requerimento. “A defesa da Amazônia é tema da maior relevância para a garantia da soberania e do desenvolvimento sustentável do Brasil, bem como dos direitos dos povos da região”, diz Braga no requerimento.
O deputado tem desconfianças adicionais, além daquelas apresentadas tanto no pedido para participar do treinamento (transparência) quanto para o requerimento de informações (defesa da Amazônia). “As riquezas da Amazônia e a maior reserva de petróleo do mundo estão muito próximas de onde será feito o treinamento”, afirma.
A maior reserva petrolífera do planeta fica na Venezuela, nação distante 600 quilômetros do centro da operação marcada para acontecer entre os dias 6 e 13 de novembro, Tabatinga, cidade de 60 mil habitantes no Amazonas, separada da colombiana Letícia por uma avenida e a uma corrida de barco da ilha peruana de Santa Rosa.
A Venezuela tornou-se um barril de pólvora nos últimos meses, graças a desavenças aparentemente insolúveis entre o governo chavista de Nicolás Maduro e a raivosa oposição direitista. Uma guerra civil não pode ser descartada.
Nesse clima, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse publicamente que considera usar uma ação militar no vizinho do Brasil, o que alimentou fantasmas de uma conflito armado.
Em reportagem na edição que chegou às bancas em 25 de agosto, CartaCapitaltratou desses “fantasmas”.
Na Venezuela, por exemplo, há chavista crente de que o treinamento é o prelúdio de uma invasão do país por mercenários que os EUA contactariam em novembro e depois incentivariam e abasteceriam.
A precariedade de informações brasileiras sobre o treinamento é uma das causas dos fantasmas. Jungmann não é lá muito eloquente a respeito. Tocou pela primeira vez no tema em 15 de maio. Bravo, como lhe é peculiar. “Não tem tropa americana aqui, não tem exército americano aqui, nem vai ter.”
Repetiu o tom em um debate no Senado em 29 de junho, única menção em três horas. “Esse é um caso escandaloso de fake news”, afirmou. “Serão quatro observadores, senhores, quatro observadores num exercício sobretudo voltado para a logística humanitária.”
Seria um propagador de fake news o site oficial do Amazonlog, nome de batismo do evento que se compõe do exercício militar de novembro e de um simpósio e uma feira de negócios em setembro? “Em toda a região serão desenvolvidas ações conjuntas, multinacionais e interagências por tropas e agências brasileiras, colombianas, norte-americanas e peruanas”, diz o site.
Ao listar os participantes do exercício militar por países, por órgãos brasileiros e por Forças Armadas, inclui entre estas últimas o “Comando Sul dos Estados Unidos”, ao lado de Brasil, Colômbia e Peru. Trata-se de uma instituição sediada em Miami, a olhar em nome do Tio Sam para tudo o que está para baixo dali, encarregada de operações no Caribe e na América do Sul.
Seu comandante, general Clarence Chinn, passou por Brasília em março, para conversar sobre os preparativos dos exercícios. De lá, viajou à Amazônia, a fim de conhecer o principal QG brasileiro na região.
Quatro dias depois da reportagem de agosto de CartaCapital, o comando do Exército publicou em seu site um relato um pouco mais informativo. Dizia que os EUA participarão cedendo uma aeronave de transporte C130, uma cozinha móvel, uma estação de purificação de água e uma equipe de saúde.
O teor do comunicado foi replicado parcialmente pelo Ministério da Defesa em 26 de setembro, no meio de um texto que abordava o início do simpósio que faz parte do Amazonlog17.
No início de novembro, o Exército fará um treinamento militar na Amazônia, numa área de fronteira com Peru e Colômbia, países cujas tropas estarão na atividade. As Forças Armadas dos Estados Unidos também vão participar, inédita presença do Tio Sam na Amazônia brasileira. Se os EUA terão portas abertas, por que não abri-las para um deputado?
É o que quer o líder do PSOL na Câmara, Glauber Braga (RJ). O parlamentar protocolou o pedido no ministério da Defesa na segunda-feira 9. O documento destinava-se ao ministro Raul Jungmann e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas.
“A observação do exercício in loco poderá contribuir para o acompanhamento da operação com o máximo de transparência”, diz o deputado no ofício.
No mesmo dia, Braga apresentou na Câmara um requerimento de informações dirigido a Jungmann. Quer detalhes sobre a presença, no treinamento, de militares que não sejam os dos países da tríplice fronteira. São cinco perguntas:
1) No entendimento do Ministério da Defesa, o que justificaria o convite a militares de países de fora da América do Sul, e particularmente dos Estados Unidos, para participação em exercício militar na Amazônia brasileira?
2) Quantos militares de outros países participarão do exercício Amazonlog17? Quais os seus nomes, nacionalidades e patentes, e quais funções desempenharão no exercício?
3) De quais outras formas os Estados Unidos participarão do exercício militar na Amazônia? Quais os nomes e funções do conjunto de estadunidenses (inclusive da equipe de saúde e de apoio logístico) que participarão da operação?
4) O que justificaria o convite aos Estados Unidos para participar da instalação de uma base militar na Amazônia brasileira, ainda que temporária?
5) Segundo o sítio do Ministério da Defesa, empresas do setor de Segurança e Defesa, do Brasil e do exterior, apresentarão, em exposição ou durante o exercício, produtos que possam ser pertinentes à defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia. Quais empresas, brasileiras e estrangeiras, foram convidadas para essa exposição e participação no exercício, com base em quais critérios e segundo quais procedimentos?
Para o governo ser obrigado a responder as questões, a Câmara precisa aprovar o requerimento. “A defesa da Amazônia é tema da maior relevância para a garantia da soberania e do desenvolvimento sustentável do Brasil, bem como dos direitos dos povos da região”, diz Braga no requerimento.
O deputado tem desconfianças adicionais, além daquelas apresentadas tanto no pedido para participar do treinamento (transparência) quanto para o requerimento de informações (defesa da Amazônia). “As riquezas da Amazônia e a maior reserva de petróleo do mundo estão muito próximas de onde será feito o treinamento”, afirma.
A maior reserva petrolífera do planeta fica na Venezuela, nação distante 600 quilômetros do centro da operação marcada para acontecer entre os dias 6 e 13 de novembro, Tabatinga, cidade de 60 mil habitantes no Amazonas, separada da colombiana Letícia por uma avenida e a uma corrida de barco da ilha peruana de Santa Rosa.
A Venezuela tornou-se um barril de pólvora nos últimos meses, graças a desavenças aparentemente insolúveis entre o governo chavista de Nicolás Maduro e a raivosa oposição direitista. Uma guerra civil não pode ser descartada.
Nesse clima, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse publicamente que considera usar uma ação militar no vizinho do Brasil, o que alimentou fantasmas de uma conflito armado.
Em reportagem na edição que chegou às bancas em 25 de agosto, CartaCapitaltratou desses “fantasmas”.
Na Venezuela, por exemplo, há chavista crente de que o treinamento é o prelúdio de uma invasão do país por mercenários que os EUA contactariam em novembro e depois incentivariam e abasteceriam.
A precariedade de informações brasileiras sobre o treinamento é uma das causas dos fantasmas. Jungmann não é lá muito eloquente a respeito. Tocou pela primeira vez no tema em 15 de maio. Bravo, como lhe é peculiar. “Não tem tropa americana aqui, não tem exército americano aqui, nem vai ter.”
Repetiu o tom em um debate no Senado em 29 de junho, única menção em três horas. “Esse é um caso escandaloso de fake news”, afirmou. “Serão quatro observadores, senhores, quatro observadores num exercício sobretudo voltado para a logística humanitária.”
Seria um propagador de fake news o site oficial do Amazonlog, nome de batismo do evento que se compõe do exercício militar de novembro e de um simpósio e uma feira de negócios em setembro? “Em toda a região serão desenvolvidas ações conjuntas, multinacionais e interagências por tropas e agências brasileiras, colombianas, norte-americanas e peruanas”, diz o site.
Ao listar os participantes do exercício militar por países, por órgãos brasileiros e por Forças Armadas, inclui entre estas últimas o “Comando Sul dos Estados Unidos”, ao lado de Brasil, Colômbia e Peru. Trata-se de uma instituição sediada em Miami, a olhar em nome do Tio Sam para tudo o que está para baixo dali, encarregada de operações no Caribe e na América do Sul.
Seu comandante, general Clarence Chinn, passou por Brasília em março, para conversar sobre os preparativos dos exercícios. De lá, viajou à Amazônia, a fim de conhecer o principal QG brasileiro na região.
Quatro dias depois da reportagem de agosto de CartaCapital, o comando do Exército publicou em seu site um relato um pouco mais informativo. Dizia que os EUA participarão cedendo uma aeronave de transporte C130, uma cozinha móvel, uma estação de purificação de água e uma equipe de saúde.
O teor do comunicado foi replicado parcialmente pelo Ministério da Defesa em 26 de setembro, no meio de um texto que abordava o início do simpósio que faz parte do Amazonlog17.
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