Quem é o capitão que liderou rebelião contra o governo de Maduro


Rodeado por cerca de 20 homens armados em um pequeno cômodo, um homem que se apresenta como capitão Juan Caguaripano declara uma rebelião contra o governo de Nicolás Maduro.

Cagauripano diz que o grupo está em "legítima rebeldia" contra a "tirania assassina do presidente Nicolás Maduro". E completa: "Esclarecemos que isto não é um golpe de Estado. Esta é uma ação civil e militar para restabelecer a ordem constitucional".

Este vídeo foi distribuído pela internet no momento em que surgiam as primeiras notícias de que um grupo teria invadido a base militar Forte de Paramacay, em Valencia, no norte da Venezuela, e que parte do grupo conseguira fugir levando armamentos e munições.

A ação foi chamada de "ataque terrorista" pelo governo, que afirmou que duas pessoas morreram em confrontos de creca de três horas na base militar. Ambos os lados se declaram vitoriosos e apresentam versões contraditórias sobre a ação.

Em discurso pela TV, Maduro elogiou a "reação imediata" do Exército em frustrar a rebelião. Segundo o presidente, civis vestindo uniformes do Exército foram liderados por um "tenente desertor".

Em um primeiro momento do discurso, Maduro diz que os insurgentes foram presos, entre eles o "tenente desertor", o que foi confirmado em um comunicado divulgado pela Força Armada Nacional Bolivariana (FANB).


Caguaripano apareceu em vídeo no domingo anunciando 'ação civil e militar' contra Maduro
Logo em seguida, no entanto, Maduro afirma que as forças de segurança estão buscando dez integrantes do grupo, entre eles "um tenente desertor" que viveu em Miami, Panamá, Colômbia e Costa Rica, e que está foragido desde 2014.

Essa descrição se aproxima à trajetória de Juan Caguaripano, um ex-capitão venezuelano foragido há três anos por supostamente planejar um golpe contra o governo, segundo a mídia local.

O ministro da Informação, Ernesto Villegas, divulgou no Twitter uma foto de sete homens que teriam sido detidos após a invasão. E informa que um oitavo foi ferido e encaminhado ao hospital. Caguaripano não aparece na imagem.




Embora as fontes oficiais afirmem terem conseguido frustrar o ataque, um perfil de Caguaripano no Twitter tem publicado, desde domingo, mensagens com uma versão diferente. "Não tivemos baixas de nossas forças, nem feridos nem capturados. Tudo foi alcançado com sucesso", afirma o perfil @JCaguaripanoV.

A conta diz que o grupo seguirá fazendo pressão sobre as bases militares nacionais e convoca o Exército a "empunhar suas armas em favor do povo que juraram defender". "É evidente o descontentamento da FANB e a fratura de sua estrutura", escreveu ainda.
'Lealdade incondicional'

Nos últimos quatro meses, marcados por violentos protestos na Venezuela, o Exército tem reafirmado sua "lealdade incondicional" ao presidente. Após o incidente, o comando da FANB voltou a se posicionar a favor de Maduro.

Mas o ataque levanta dúvidas sobre a extensão do apoio ao presidente, segundo a correspondente para América Latina da BBC, Katy Watson. "Com uma economia sendo pressionada ao extremo, quanto tempo ele pode garantir o apoio militar?", questiona.

Desde abril, mais de cem pessoas morreram no país, que enfrenta uma grave crise política e econômica, com escassez de alimentos e medicamentos, e com uma inflação de mais de 700%. "Os soldados têm famílias e ninguém pode escapar da escassez de alimentos e da inflação crescente enfrentadas por milhões a cada dia", completa Watson.
Quem é Juan Carlos Caguaripano Scott?
No vídeo divulgado no domingo, Caguaripano diz que, além de capitão, seria comandante da "operação David Carabobo" e que estava acompanhado por "oficiais e tropas", assim como por "tropas ativas e reservistas".

Ele exige a formação "imediata" de um governo transitório e disse ter a intenção de "salvar o país da destruição total". Mas embora Caguaripano tenha se identificado como membro ativo das Forças Armadas, ele teve baixa do corpo militar em 2014 por sua ligação com um movimento de insurreição conhecido como Golpe Azul. "Fui duramente perseguido pelo governo desde que foi descoberta minha ação há anos no chamado Golpe Azul, mas aqui estou", escreveu no Twitter.

Oito pessoas, entre elas quatro tenentes, foram condenadas em janeiro passado por participação na conspiração. Caguaripano, entretanto, continuava na clandestinidade - ele teria fugido para o Panamá após a tentativa de golpe.
'Baixa por razões políticas'



Em 2014, já foragido, Caguaripano fez um pronunciamento em vídeo de 12 minutos contra o governo, denunciando a "violação da soberania nacional" por parte de "agentes cubanos e grupos narcoterroristas estrangeiros" na "administração pública e militar".

A repercussão do vídeo levou-o a conceder uma entrevista à CNN em espanhol, na qual disse que sua baixa das Forças Armadas teria sido motivada por "razões políticas". "Não sou político, portanto, desconheço esta baixa e continuo sendo capitão", afirmou, na conversa por Skype.

Caguaripano disse ainda que vinha há uma década se "opondo a irregularidades" dentro das Forças Armadas venezuelanas e que sua postura o levou a ter cargos "que ninguém queria", em prisões ou em patrulhamento de fronteiras "dos lugares mais remotos".

Ele contou também que tinha "um histórico de rebeldia contra as coisas feitas pelo governo" e, por isso, chegou a ser preso em 2008, acusado de uma "suposta conspiração", o que atrasou em dois anos sua ascensão militar.

Apesar de não identificá-lo, informações divulgadas pela FANB no domingo sobre um dos envolvidos no "ataque terrorista" se aproximam com o que se sabe de Caguaripano. Em um comunicado, a Força Armada informou que um "oficial subalterno" detido na operação foi afastado do cargo há três anos (2014) por "traição à pátria e rebelião".
Caçada aos líderes de ataque a base militar¹
O governo venezuelano lançou uma caçada por todo país nesta segunda-feira em busca dos homens que atacaram uma base do Exército na véspera e usou a TV estatal para exibir fotos dos rebeldes acusados ??que escaparam com armas depois de um tiroteio com soldados.

O ataque ocorreu apenas algumas horas após a primeira sessão de uma nova Assembleia Constituinte criada pelo presidente Nicolás Maduro, que os opositores dizem que irá consolidar a ditadura, em meio a meses de protestos no país.

Aqueles que atacaram a base perto da cidade de Valência disseram que suas operações visavam iniciar uma insurgência contra o impopular Maduro. Não foram notificados mais ataques, e os protestos anti-Maduro em Valência foram rapidamente contidos, mas hackers invadiram dezenas de sites estatais para demonstrar seu apoio ao ataque.

O ministro da Defesa, Vladimir Padriño, disse em um discurso na televisão que dois dos homens que atacaram a base foram mortos e oito foram capturados. Cerca de 10 outros estão sendo procurados. "Este bando de criminosos não atuou por ideais nobres ou princípios patrióticos de qualquer tipo.

Eles operaram como mercenários pagos por grupos de extrema-direita em Miami", disse ele. O líder do ataque foi Juan Carlos Caguaripano, um ex-capitão da Guarda Nacional. Outro envolvido era um tenente do Exército, que foi capturado, além de um grupo de civis que escapou junto com Caguaripano. "Eles conseguiram fugir.

Uma operação especial começou para sua busca e captura", disse Padriño, acrescentando que três soldados ficaram feridos no tiroteio de domingo, antes do amanhecer. Cerca de 2.000 apoiadores do governo fizeram um passeata em Caracas para mostrar o apoio à Assembleia Constituinte eleita oito dias antes, apesar das amplas críticas na região e no mundo.

Mais de 120 pessoas morreram em protestos anti-governo desde abril. Maduro argumenta que a assembleia é a única esperança de paz da nação, mas muitos venezuelanos dizem que ficaram sem opções democráticas para se opor a ele.

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