Governo turco convoca representante diplomático em protesto à decisão de tribunal alemão. Corte proibiu veiculação de mensagem em vídeo do presidente turco durante protesto na cidade de Colônia.
O governo turco convocou nesta
segunda-feira (01/08) um alto representante diplomático da Alemanha em
Ancara em protesto à decisão do Tribunal Constitucional Federal alemão
de proibir a participação do presidente Recep Tayyip Erdogan, por meio
de vídeo, em manifestação em Colônia.
"O Encarregado de Negócios da Alemanha
foi convocado ao Ministério do Exterior turco às 14 horas [hora local]",
afirmou uma porta-voz da embaixada alemã em Ancara. O funcionário
Robert Dölger, o segundo na hierarquia, foi chamado porque o embaixador
alemão, Martin Erdmann, está de férias.
O Tribunal Constitucional Federal alemão,
com sede em Karlsruhe, havia confirmado a proibição do discurso por
vídeo de Erdogan horas antes do protesto, devido a temores de que os
ânimos pudessem se exaltar no comício.
"Durante a avaliação do evento, chegamos à
conclusão de que já se tratava de uma situação muito emocional", disse
um porta-voz da polícia de Colônia à DW. "E se discursos do ministro do
Exterior out mesmo de Erdogan fossem exibidos, então a coisa toda
poderia sair de controle. Essa foi a nossa estimativa."
A decisão foi condenada na Turquia, e o
porta-voz da presidência, Ibrahim Kalin, a chamou de "violação da
liberdade de expressão e do direito à liberdade de reunião".
O protesto pró-Erdogan em Colônia, no
oeste da Alemanha, reuniu neste domingo de 30 mil a 40 mil pessoas,
segundo a polícia. Os manifestantes foram às ruas para demonstrar
solidariedade ao líder turco após a tentativa de golpe de Estado
ocorrida na Turquia no último dia 15 de julho. Manifestações menores
contra o presidente turco também foram registradas em outros pontos da
cidade alemã.
O clima de instabilidade na Turquia é
acompanhado com interesse na Alemanha, país que acolhe a maior
comunidade da diáspora turca: 1,55 milhão de pessoas, número que chega a
3 milhões se contabilizados os alemães de origem turca.
Governo turco admite que pode haver "injustiça" na repressão pós-golpe
O primeiro-ministro turco, Binali
Yildirim, admitiu nesta segunda-feira (01/08) que pode ter havido um
tratamento "injusto" na repressão iniciada na sequência da tentativa de
golpe de estado na Turquia.
Desde 15 de julho, quase 19 mil pessoas
foram detidas e estima-se que mais de 50 mil funcionários públicos e
membros das Forças Armadas tenham sido afastados dos cargos.
"Definitivamente, deve haver alguns entre
eles que foram submetidos a procedimentos injustos", reconheceu
Yildirim em entrevista à agência estatal de notícias Anadolu. "Vamos
fazer uma distinção entre os que são culpados e os que não são",
prometeu.
O vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, endossou o posicionamento do governo: "Se houver qualquer erro, vamos corrigi-los."
A comunidade internacional pressiona a
Turquia a dar esclarecimentos sobre o expurgo. EUA e Europa fizeram
duras críticas às medidas adotadas pelo presidente Recep Tayyip Erdogan.
Erdogan quer subordinar Forças Armadas à presidência
O presidente da Turquia, Recip Tayyip
Erdogan, afirmou neste sábado (30/07) que os comandantes militares
passarão a responder ao Ministério da Defesa e que as academias
militares serão fechadas. As medidas visam colocar os militares sob
completo controle civil após uma tentativa fracassada de golpe de
Estado.
"Vamos apresentar uma pequena reforma
constitucional [ao Parlamento] que, caso seja aprovada, colocará o
Serviço Nacional de Inteligência e os chefes do Estado-maior sob
controle da presidência", disse Erdogan em entrevista à emissora de
televisão pró-governo A-Haber.
O governo precisará do apoio dos partidos
de oposição para avançar com a mudança, já que são necessários dois
terços dos deputados para alterar a Constituição, e o partido de Erdogan
não tem essa maioria.
O presidente publicou na edição deste
domingo do diário oficial do país o decreto que fecha todas as escolas
militares e as substitui por uma universidade nacional para formar
militares para as Forças Armadas. Além disso, expulsou mais 1.389
soldados, entre eles um de seus antigos assessores.
Erdogan declarou ainda que o estado de
emergência de três meses poderá ser prolongado, assim como fez a França
após os ataques terroristas.
O presidente disse que, até agora, 18.699
pessoas foram detidas após a tentativa frustrada de golpe, sendo que,
delas, 10.137 ainda estão presas. Estima-se que mais de 50 mil pessoas
perderam seus empregos.
O líder turco voltou a acusar o clérigo
Fethullah Gülen, que vive exilado nos EUA, de ser o responsável pela
tentativa de golpe de Estado de 15 de julho. Ele afirmou, ainda, que
Gülen tem atrás de si um "mentor", dando a entender que mais forças
estariam por trás da tentativa frustrada.
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