Os agentes 007 entre nós: um milhão de pessoas já foram investigadas no Rio
RIO - Em uma sala no quarto andar do
prédio da Polícia Federal, na Praça Mauá, depois de passar por
detectores de metais e preencher uma extensa ficha de visitante, onde
até o tipo sanguíneo é exigido, a equipe de repórteres do GLOBO espera
para ser atendido. O pedido é para entrevistar agentes estrangeiros que
estão no país, num trabalho inédito de cooperação internacional com o
governo brasileiro que reúne mais de 250 policiais de 55 países, em uma
troca constantes de informações. Tudo para assegurar o sucesso dos Jogos
Olímpicos e Paralímpicos.
Desde o dia 5, num expediente que se estende por 24 horas, para atender todos os fusos horários, eles já investigaram a vida de mais de um milhão de pessoas que tentaram entrar ou chegaram ao país no período dos Jogos. Pelo menos cinco foram impedidas, três delas por histórico de ligação com células terroristas ou por antecedentes criminais graves.
Como o americano Michael Anthony Brockman, de 20 anos, que já foi acusado de roubo nos Estados Unidos e estava na lista de pessoas que não poderiam ingressar no Brasil. Brockman chegou na última quinta-feira no Aeroporto Internacional Tom Jobim, mas acabou barrado. Ele teve que voltar aos EUA.
Depois de meia hora de espera, um agente inglês aparece. É o único que aceita a entrevista. Explica que pode conversar, mas precisa aguardar uma autorização do governo inglês. Nova espera até Frank Dick, 57 anos, entrar na sala. Vai logo brincando:
— Só não tenho autorização para falar sobre James Bond, porque teria que te matar depois! — diz para acrescentar em seguida: “Desculpe a demora, mas precisava de uma autorização formal do governo inglês. Agora tudo bem”.
No Brasil para os Jogos Olímpicos, Frank é lotado oficialmente em Brasília, na Embaixada Britânica, mas está no Rio durante os Jogos. É o oficial de ligação da Agência Nacional de Combate ao Crime (National Crime Agency, NCA, na sigla em inglês) com a Polícia Federal brasileira. Ele explica que o Reino Unido tem ajudado muito o país no combate ao terror porque tem oficialmente cerca de 150 policiais espalhados em mais de 45 países. A Polícia Federal brasileira, por exemplo, atua em 20 países (três na América do Norte, dez na América do Sul, cinco na Europa, um na Asia e um na África).
— Os ingleses tem uma tradição muito grande e antiga de cooperação com as autoridades brasileiras no combate ao crime, como o tráfico de drogas. Agora nos Jogos Rio 2016, também estamos contribuindo na área de antiterror — afirma o agente.
Para o britânico, o Brasil não é um alvo preferencial de terroristas do Estado Islâmico como são França, Alemanha, Estados Unidos e Bélgica, mas por estar sediando um grande evento pode virar palco (os terroristas podem atacar aqui países considerados alvos). Isso, na sua opinião, demanda um esforço grande de todos para garantir tranquilidade às delegações, atletas, público e chefes de estado. Frank elogia o trabalho das autoridades brasileiras, em especial da Polícia Federal. Segundo ele até agora excelente, um exemplo a ser exportado.
Na análise do agente inglês, entretanto, o Brasil tem muitos buracos e precisa repensar rapidamente sua segurança em um país de dimensões continentais.
— O problema do Brasil é ser muito grande. Ter uma extensa fronteira, muitos aeroportos e inúmeros portos. O tamanho torna sua segurança muito complicada de ser executada. O controle das fronteiras é muito difícil, falho e cheio de buracos — afirma Frank.
Uma opinião semelhante de outros agentes estrangeiros que estão no Brasil, que conversaram com o jornal pedindo anonimato. Agente secreto normalmente não gosta de aparecer em público.
— Tivemos um começo confuso, com muitos problemas, mas agora está muito bom. Esperamos que continue assim até o fim dos Jogos Paralimpicos — revelou um deles, de um país europeu, com tradição de ser alvo e de combate ao terrorismo.
Um outro agente, que também pediu para não ser identificado, revelou que embora o país tenha dificuldade em policiar sua imensa fronteira, os Jogos no Rio tem suas vantagens para a segurança.
— Como os eventos esportivos estão concentrados aqui no Rio, é mais fácil logisticamente para a segurança. É mais fácil cercar as entradas do estado, verificar suspeitos hospedados em hotéis e identificar deslocamentos em direção à cidade — contou o policial.
O delegado federal Fábio Alceu Mertens, da PF de Brasília, é o coordenador do Centro de Cooperação de Polícia Internacional (CCPI) — onde os estrangeiros trabalham aqui no Rio. O espaço faz parte da estrutura montada pela Polícia Federal brasileira para garantir a segurança do maior evento esportivo do mundo.
Fábio lembra que no CCPI são realizadas inúmeras checagens. Uma delas é de estrangeiros que embarcam em direção ao Brasil nesse período. As investigações começam quando o avião ainda está longe, no momento em que recolhe as escadas e tranca as portas nos primeiros procedimentos de voo em direção ao Brasil.
— Logo depois da decolagem, a lista completa dos passageiros e tripulantes é enviada à Polícia Federal brasileira num acordo com as companhias aéreas. Um por um os nomes passam pela checagem, com a ajuda dos agentes estrangeiros que estão aqui trabalhando conosco. Temos americano, francês, belga, inglês, japonês, holandês, alemão, italiano e representantes de mais 47 países — afirma Fábio.
Tudo que acontece no Rio, segundo o delegado brasileiro, tem impacto imediato no CCPI. Um conflito registrado outro dia entre guardas municipais e camelôs na Zona Sul, demandou vários pedidos de informações. O caso dos nadadores americanos também. Primeiro quando disseram que foram assaltados. Depois para checar a história até finalmente o desfecho.
— Não é só o trabalho de checar pessoas, investigar antecedentes, buscar alvos que ocupa nosso tempo. O conflito numa rua da Zona Sul teve reflexos imediatos aqui. Como várias delegações, atletas e autoridades estrangeiras estão em hotéis do Rio, eles queriam detalhes do que estava acontecendo para repassar aos seus governos — disse Fábio Alceu.
O ataque de traficantes da Favela da Vila do João aos soldados da Força Nacional que resultou na morte de um militar, também refletiu. Os agentes estrangeiros pediram informações à Polícia Federal e até agora não conseguem entender como isso pôde acontecer.
— São inúmeras informações que trocamos. Algumas de caráter reservado, assunto classificado, outras não: como questões relacionadas ao trânsito — revelou o delegado Fábio.
Até a última terça-feira, mais de um milhão de pessoas foram checadas, mais de 1.200 protocolos de troca de informações foram feitos e cerca de 200 mil pessoas foram submetidas a testes de biometria na chegada ao Rio (para saber se conferia a identidade). Além disso, os policiais federais em conjunto com os estrangeiros prenderam no Rio três estrangeiros que eram procurados internacionalmente.
— Temos um banco de dados com mais de 40 milhões de passaportes roubados, furtados ou extraviados no mundo. Como alguém pode estar usando um documento alheio fazemos a checagem de várias formas, até pela biometria ainda na fila do desembarque de estrangeiros. Até agora três pessoas foram impedidas de ingressar no país. Tiveram que voltar ao país de origem ao desembarcar no Rio — afirmou Fábio.
Nos números produzidos até agora pelo CCPI, explicou o delegado federal brasileiro, há ainda dezenas de “Mobile Patrols“ — quando policiais federais acompanham os agentes estrangeiros até um local de ocorrência.
— Tivemos até agora 254 registros de ocorrências policiais envolvendo estrangeiros. Ele foi vítima ou autor de algum crime. Mas é bom esclarecer: são ocorrências que chegaram ao nosso conhecimento — afirmou Fábio.
Os temas de interesse que demandam trocas de informações e as atividades das “mobile patrols”são bastante diversos, dependendo do país participante. Como ocorrências de segurança pública envolvendo estrangeiros; venda de ingressos falsos e cambismo; procedimentos de localização e desativação de artefatos suspeitos; diligências conjuntas nas regiões olímpicas; análise conjunta da operação de segurança dos jogos com foco em grandes eventos futuros, protestos e manifestações; levantamentos para direcionamento das agendas de chefes de estados e comitivas olímpicas; entrada/circulação no Brasil de pessoas suspeitas nos países de origem e terrorismo.
Desde o dia 5, num expediente que se estende por 24 horas, para atender todos os fusos horários, eles já investigaram a vida de mais de um milhão de pessoas que tentaram entrar ou chegaram ao país no período dos Jogos. Pelo menos cinco foram impedidas, três delas por histórico de ligação com células terroristas ou por antecedentes criminais graves.
Como o americano Michael Anthony Brockman, de 20 anos, que já foi acusado de roubo nos Estados Unidos e estava na lista de pessoas que não poderiam ingressar no Brasil. Brockman chegou na última quinta-feira no Aeroporto Internacional Tom Jobim, mas acabou barrado. Ele teve que voltar aos EUA.
Depois de meia hora de espera, um agente inglês aparece. É o único que aceita a entrevista. Explica que pode conversar, mas precisa aguardar uma autorização do governo inglês. Nova espera até Frank Dick, 57 anos, entrar na sala. Vai logo brincando:
— Só não tenho autorização para falar sobre James Bond, porque teria que te matar depois! — diz para acrescentar em seguida: “Desculpe a demora, mas precisava de uma autorização formal do governo inglês. Agora tudo bem”.
No Brasil para os Jogos Olímpicos, Frank é lotado oficialmente em Brasília, na Embaixada Britânica, mas está no Rio durante os Jogos. É o oficial de ligação da Agência Nacional de Combate ao Crime (National Crime Agency, NCA, na sigla em inglês) com a Polícia Federal brasileira. Ele explica que o Reino Unido tem ajudado muito o país no combate ao terror porque tem oficialmente cerca de 150 policiais espalhados em mais de 45 países. A Polícia Federal brasileira, por exemplo, atua em 20 países (três na América do Norte, dez na América do Sul, cinco na Europa, um na Asia e um na África).
— Os ingleses tem uma tradição muito grande e antiga de cooperação com as autoridades brasileiras no combate ao crime, como o tráfico de drogas. Agora nos Jogos Rio 2016, também estamos contribuindo na área de antiterror — afirma o agente.
Para o britânico, o Brasil não é um alvo preferencial de terroristas do Estado Islâmico como são França, Alemanha, Estados Unidos e Bélgica, mas por estar sediando um grande evento pode virar palco (os terroristas podem atacar aqui países considerados alvos). Isso, na sua opinião, demanda um esforço grande de todos para garantir tranquilidade às delegações, atletas, público e chefes de estado. Frank elogia o trabalho das autoridades brasileiras, em especial da Polícia Federal. Segundo ele até agora excelente, um exemplo a ser exportado.
Na análise do agente inglês, entretanto, o Brasil tem muitos buracos e precisa repensar rapidamente sua segurança em um país de dimensões continentais.
— O problema do Brasil é ser muito grande. Ter uma extensa fronteira, muitos aeroportos e inúmeros portos. O tamanho torna sua segurança muito complicada de ser executada. O controle das fronteiras é muito difícil, falho e cheio de buracos — afirma Frank.
Uma opinião semelhante de outros agentes estrangeiros que estão no Brasil, que conversaram com o jornal pedindo anonimato. Agente secreto normalmente não gosta de aparecer em público.
— Tivemos um começo confuso, com muitos problemas, mas agora está muito bom. Esperamos que continue assim até o fim dos Jogos Paralimpicos — revelou um deles, de um país europeu, com tradição de ser alvo e de combate ao terrorismo.
Um outro agente, que também pediu para não ser identificado, revelou que embora o país tenha dificuldade em policiar sua imensa fronteira, os Jogos no Rio tem suas vantagens para a segurança.
— Como os eventos esportivos estão concentrados aqui no Rio, é mais fácil logisticamente para a segurança. É mais fácil cercar as entradas do estado, verificar suspeitos hospedados em hotéis e identificar deslocamentos em direção à cidade — contou o policial.
O delegado federal Fábio Alceu Mertens, da PF de Brasília, é o coordenador do Centro de Cooperação de Polícia Internacional (CCPI) — onde os estrangeiros trabalham aqui no Rio. O espaço faz parte da estrutura montada pela Polícia Federal brasileira para garantir a segurança do maior evento esportivo do mundo.
Fábio lembra que no CCPI são realizadas inúmeras checagens. Uma delas é de estrangeiros que embarcam em direção ao Brasil nesse período. As investigações começam quando o avião ainda está longe, no momento em que recolhe as escadas e tranca as portas nos primeiros procedimentos de voo em direção ao Brasil.
— Logo depois da decolagem, a lista completa dos passageiros e tripulantes é enviada à Polícia Federal brasileira num acordo com as companhias aéreas. Um por um os nomes passam pela checagem, com a ajuda dos agentes estrangeiros que estão aqui trabalhando conosco. Temos americano, francês, belga, inglês, japonês, holandês, alemão, italiano e representantes de mais 47 países — afirma Fábio.
Tudo que acontece no Rio, segundo o delegado brasileiro, tem impacto imediato no CCPI. Um conflito registrado outro dia entre guardas municipais e camelôs na Zona Sul, demandou vários pedidos de informações. O caso dos nadadores americanos também. Primeiro quando disseram que foram assaltados. Depois para checar a história até finalmente o desfecho.
— Não é só o trabalho de checar pessoas, investigar antecedentes, buscar alvos que ocupa nosso tempo. O conflito numa rua da Zona Sul teve reflexos imediatos aqui. Como várias delegações, atletas e autoridades estrangeiras estão em hotéis do Rio, eles queriam detalhes do que estava acontecendo para repassar aos seus governos — disse Fábio Alceu.
O ataque de traficantes da Favela da Vila do João aos soldados da Força Nacional que resultou na morte de um militar, também refletiu. Os agentes estrangeiros pediram informações à Polícia Federal e até agora não conseguem entender como isso pôde acontecer.
— São inúmeras informações que trocamos. Algumas de caráter reservado, assunto classificado, outras não: como questões relacionadas ao trânsito — revelou o delegado Fábio.
Até a última terça-feira, mais de um milhão de pessoas foram checadas, mais de 1.200 protocolos de troca de informações foram feitos e cerca de 200 mil pessoas foram submetidas a testes de biometria na chegada ao Rio (para saber se conferia a identidade). Além disso, os policiais federais em conjunto com os estrangeiros prenderam no Rio três estrangeiros que eram procurados internacionalmente.
— Temos um banco de dados com mais de 40 milhões de passaportes roubados, furtados ou extraviados no mundo. Como alguém pode estar usando um documento alheio fazemos a checagem de várias formas, até pela biometria ainda na fila do desembarque de estrangeiros. Até agora três pessoas foram impedidas de ingressar no país. Tiveram que voltar ao país de origem ao desembarcar no Rio — afirmou Fábio.
Nos números produzidos até agora pelo CCPI, explicou o delegado federal brasileiro, há ainda dezenas de “Mobile Patrols“ — quando policiais federais acompanham os agentes estrangeiros até um local de ocorrência.
— Tivemos até agora 254 registros de ocorrências policiais envolvendo estrangeiros. Ele foi vítima ou autor de algum crime. Mas é bom esclarecer: são ocorrências que chegaram ao nosso conhecimento — afirmou Fábio.
Os temas de interesse que demandam trocas de informações e as atividades das “mobile patrols”são bastante diversos, dependendo do país participante. Como ocorrências de segurança pública envolvendo estrangeiros; venda de ingressos falsos e cambismo; procedimentos de localização e desativação de artefatos suspeitos; diligências conjuntas nas regiões olímpicas; análise conjunta da operação de segurança dos jogos com foco em grandes eventos futuros, protestos e manifestações; levantamentos para direcionamento das agendas de chefes de estados e comitivas olímpicas; entrada/circulação no Brasil de pessoas suspeitas nos países de origem e terrorismo.
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