A crença de que o Brasil está livre dos grandes terremotos pode estar com os dias contados. O país já teve sismos de grande magnitude, um deles tão forte que inverteu o curso de rios e provocou um verdadeiro tsunami fluvial. E isso pode acontecer de novo.
Escombros da casa de Joselino do Silva, após o terremoto que atingiu a cidade de João Câmara, no RN, em 1986.
Antigamente,
era comum se afirmar que o Brasil era um país livre de grandes
terremotos, já que a esmagadora maioria acontece quase sempre próxima às
bordas das grandes placas tectônicas. Isso é parcialmente verdade, mas a
posição privilegiada do país, praticamente no centro da placa tectônica
sul-americana, não significa que estamos livres desse fenômeno natural.
O
motivo é que, diferentemente dos terremotos provocados pela subducção
de placas (quando uma placa tectônica mergulha abruptamente abaixo de
outra) os sismos no Brasil são causados quase que totalmente ao longo
das chamadas falhas geológicas, grandes e profundas cicatrizes que
cortam a crosta terrestre e que vez ou outra desmoronam ou se acomodam
poucos quilômetros abaixo da superfície.
Estudos recentes mostram
que um sismo de magnitude 7 aconteça no Brasil a cada 500 anos e um
tremor de 5 magnitudes, cada cinco anos.
Megaterremoto no Brasil
Embora
os tremores no Brasil sejam fracos quando comparados aos que ocorrem
nas bordas das placas, um estudo publicado nos Anais da Academia
Brasileira de Ciências demonstra que o Brasil já sofreu um poderoso
terremoto estimado em 7.0 magnitudes em junho de 1690, nas proximidades
de Manaus.
De acordo com o autor do estudo, cientista Alberto
Veloso, ligado à Universidade Nacional de Brasília, este tremor teve seu
epicentro localizado na margem esquerda do rio Amazonas,
aproximadamente 45 km abaixo da cidade de Manaus. Segundo Veloso, o
sismo foi tão intenso que foi sentido em uma área superior a 2 milhões
de km2, causou severos danos no terreno e produziu ondas no rio Amazonas
que criaram um pequeno tsunami que inundou as aldeias indígenas nas
margens do rio Urubu.
"Não existe nada similar em nossa história.
Esse evento foi percebido a mais de mil quilômetros do epicentro e é sem
dúvida o maior terremoto brasileiro", afirma o cientista, criador do
Observatório Sismológico de Brasília. "As águas do Amazonas balançaram
de forma incomum, com tanta força que inverteu o fluxo do rio Urubu,
inundando aldeias a cerca de 5 km de sua foz", completou.
Podemos ter outro terremoto no Brasil?
Para
Veloso, tremores parecidos com o de 1690 poderão repetir-se, não
somente na Amazônia, mas em qualquer outra região brasileira, já, que o
país é repleto de falhas geológicas.
Segundo o professor,
estima-se que um sismo de magnitude 7 aconteça no Brasil a cada 500 anos
e um tremor de 5 magnitudes, cada cinco anos.
Mesmo os abalos
menores podem fazer estragos em construções frágeis, comuns pelo país
afora. Em 1986 um abalo de 5.1 danificou cerca de 4.500 construções e
desabrigou mais de 25 mil pessoas em João Câmara, RN. Já tivemos
tremores de 6.1 e 6.2 que só não causaram danos importantes por terem
epicentros em áreas despovoadas.
Falhas brasileiras
O
Brasil é cortado por uma enorme quantidade de falhas, entre elas o
chamado Lineamento Pernambuco, uma falha geológica abaixo do território
pernambucano, com 700 km de extensão e 30 metros de profundidade. A
falha tem início no oceano Atlântico, na cadeia de montanhas submersas
da Dorsal Atlântica e rasga o continente na altura de Recife, passando
pelas cidades de Pombos, Bezerros, Caruaru, Pesqueira e Arcoverde, até
terminar na divisa do Piauí, na altura do Sertão do Araripe.
Embora
o Brasil não tenha um mapeamento oficial da localização de todas as
falhas geológicas, esse mapa mostra a posição de diversas delas. Observe
a grande quantidade de cicatrizes que cortam o solo brasileiro.
Outra
falha muito importante e causadora de grandes sismos no Nordeste é a
falha geológica de Samambaia, com 38 km de comprimento por cerca de 4 km
de largura. A enorme cicatriz atravessa os municípios de Parazinho,
João Câmara, Poço Branco e Bento Fernandes, no Rio Grande do Norte. Sua
profundidade varia entre 1 e 9 km.
O famoso terremoto de João Câmera (RN) e os famosos enxames sísmicos de Pedra Preta (RN) ocorreram devido a essa falha.Próximo
à Samambaia se encontra a falha geológica de Poço Branco, que apesar de
ser bem menor também contribui por alguns tremores naquela região.
Escombros da casa de Joselino do Silva, após o terremoto que atingiu a cidade de João Câmara, no RN, em 1986.
Embora
o Brasil não tenha um mapeamento oficial da localização de todas as
falhas geológicas, esse mapa mostra a posição de diversas delas. Observe
a grande quantidade de cicatrizes que cortam o solo brasileiro.
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