O ataque, ocorrido no último dia 28 de junho, deixou mais de 40 mortos e 200 feridos. E obrigou os recém-casados a mudarem os planos em cima da hora.
"Viajaríamos no dia seguinte a Istambul. Decidimos correr para o aeroporto e cancelar a passagem. E optamos por comprar um outro voo para Dubai antes de seguir para as Maldivas", disse Jana à BBC Brasil.
"Adiamos o sonho de conhecer Istambul. Mas não queríamos correr risco. Ficamos com medo", acrescentou.
De janeiro a maio deste ano (dado mais recente disponível), o fluxo de turistas brasileiros caiu pela metade (52,05%) na comparação com o mesmo período de 2015, segundo o Ministério de Cultura e Turismo do país. Foi mais do que o dobro da queda geral (22,93%).
Retrocesso
O cenário atual representa uma reversão de uma tendência verificada desde a última década, quando a Turquia entrou definitivamente no radar dos brasileiros que viajavam de férias ao exterior, segundo operadores de viagem e guias de turismo ouvidos pela BBC Brasil.Em 2009, por exemplo, para atender a forte demanda, a companhia aérea Turkish Airlines passou a operar um voo sem escalas entre São Paulo e Istambul.
O ápice, disseram eles, aconteceu em 2013, durante a transmissão da novela Salve Jorge pela TV Globo.
Naquele ano, cerca de 113,5 mil brasileiros visitaram o país, contra apenas 12 mil em 2000 - um aumento de 845%. Parte da trama global se passava na Capadócia, região montanhosa conhecida por suas cavernas e pelos passeios de balão.
Mas, por causa da crise econômica, o fluxo caiu gradativamente. No ano passado, o número de turistas brasileiros que viajou à Turquia foi de 85.473, uma queda de 7% em relação a 2014.
E neste ano, a situação deve ser ainda pior.
"Tivemos uma queda de 80% no número de pacotes fechados desde 2015", afirmou à BBC Brasil Dinah Carvalho, gerente de marketing da operadora turística Kangaroo Tours, especializada em destinos exóticos e luas de mel e com escritórios em três Estados brasileiros.
Motivos
O temor de novos atentados é a principal razão que afasta os turistas, mas o agravamento da crise de refugiados - a Turquia é o país que mais recebe deslocados sírios - também contribui para o clima de desconfiança.Mais recentemente, a tentativa de golpe frustrada contra o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, ocorrida no último dia 15 de julho, também deve adiar uma eventual retomada, de acordo com o turco Silvyo Benbassat, que foi consul-honorário do Brasil em Istambul por 14 anos e hoje desempenha a mesma função na cidade de Bursa, no noroeste do país.
"Ninguém quer ir a um país onde há atentados frequentes. Infelizmente, a Turquia passa por um período de tensão. O problema é, sem dúvida, o terrorismo, uma vez que não sabemos onde e quando os ataques vão acontecer", afirma ele.
Bensassat e sua mulher, a brasileira Claudia Demasi, têm uma operadora de turismo. Radicada há 30 anos na Turquia, ela diz que os brasileiros estão "apavorados".
"Nessa mesma época no ano passado, todos os nossos dez guias turísticos estavam trabalhando. Hoje, estão todos desocupados. Nem os cruzeiros estão vindo mais. A situação está muito difícil", afirmou Claudia, primeira guia brasileira cadastrada pelo Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.
Segundo ela, embora o real tenha passado por um período de forte desvalorização em relação ao dólar, o câmbio não vinha afetando o turismo brasileiro à Turquia. Agora, o cenário mudou.
"Ninguém quer mais vir. É como se tivéssemos sido demitidos sem aviso prévio", lamentou.
O casal, no entanto, diz ter esperança em uma retomada das viagens de brasileiros à Turquia nos próximos anos.
"Quando cheguei aqui, na década de 80, vivíamos um toque de recolher. E com o tempo melhorou. Infelizmente, estamos passando por esta situação. Mas sou otimista em relação ao futuro. A Turquia é um país com atrações turísticas maravilhosas", disse Claudia.
De acordo com estatísticas oficiais, o turismo responde por 4,5% da economia da Turquia e gera cerca de 1 milhão de empregos.
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