A licitação para o leasing de uma aeronave B767-300ER é uma decisão controversa e de risco para a FAB. Além de retirar a oportunidade de geração de empregos na Base Industrial de Defesa.
Aeronave B767-200ER convertida pela IAI para a Força Aérea da Colombia. Esta aeronave operou na CRUZEX 2013.
Editorial DefesaNet - Na Pressão- Um Passo Prejudicial
O Comando da Aeronáutica pressionado em atender à demanda de apoio logístico para as Missões Brasileiras no e além do território Nacional e constrangido pela restrição orçamentária lançou uma licitação internacional através da Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington (BACW).
O plano do Comando da Aeronáutica, através da BACW, baseado em um estudo da DIRMAB, lançou o edital para o leasing de uma aeronave de transporte de passageiros Boeing B-767-300ER (Extended Range).
Com data de 31 de Maio de 2016, divulgada em 01 Junho saiu a vencedora da licitação a empresa brasileira COLT Transportes Aéreos SA.
O Documento Final Result of Bidding Judgement, com data de 31 de Maio 2016, pode ser acessado em Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington (BACW) Link |
Porém, o que temos é uma questão estratégica que transcende a uma decisão paliativa e emergencial.
No Planejamento da Força Aérea Brasileira estava o Projeto KC-X2, iniciado em 2008, que previa a aquisição de aeronaves de grande porte em substituição aos KC-137 (Boeing 707 oriundos da ex-VARIG). Inclusive considerado um dos Projetos Estratégicos da Força Aérea Brasileira (FAB).
Estas aeronaves (KC-137) foram desativadas após um acidente no aeroporto de Porto Príncipe, no Haiti, quando uma decolava de retorno ao Brasil com um contingente da MINUSTAH, em 2013. Acidente, que poderia ter custado a vida de mais de uma centena de militares brasileiros.
Uma sequência das ações tomadas:
1 – Em 14 de Março 2013 a FAB anunciou que a empresasIsrael Aerospace Industries - IAI, foi a escolhida para converter 3 aeronaves comerciais Boeing 767-300ER em plataformas capazes de realizar reabastecimento em voo, transporte estratégico de carga e tropa e evacuação aeromédica, de acordo com os requisitos formulados pela Força Aérea Brasileira;
2 – Em 26 de Maio de 2013, acidente no aeroporto de Porto Principe, Haiti, com um KC-137 (explosão da turbina), conhecidos como sucatões, do 2º/2º GT;
3 – A aquisição do KC-X2 vem sendo adiada desde o anúncio pelo contingenciamento sucessivo de verbas;
3 – A FAB tenta usar sua frota de aeronaves C-130 Hercules, que mostram restrição pela capacidade de carga em jornadas tão longas e anos de uso (ver tabela abaixo);
4 – O Ministério da Defesa recorre à ONU para que esta forneça transporte de empresas aéreas, a maioria do Oriente Médio;
5 – Uma solução com o contrato de transportes para contingentes com a empresa Aérea nacional GOL, realizada nos rodízio dos contingentes 22 e 23 da MINUSTAH;
6 – E por fim a tentativa de leasing agora definido.
DefesaNet reconhece a tentativa do Comando da Aeronáutica de procurar uma saída, mas em nossa opinião não é o melhor passo e apresenta mais questões que Soluções.
Alguns pressupostos da licitação internacional são questionáveis, dentro do escopo básico da licitação:
OBJETO: O chefe da Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington (BACW), localizada na 1701 22nd Street, NW- Washington DC 20008-EUA comunica a quem possa interessar, que a BACW deve realizar um processo de licitação, a ser concedido com base no preço global mais baixo, para o arrendamento, com o apoio logístico e seguro, com base no pagamento mensal de horas de voo (Power By The Hour – PBH) de 01 (um) avião Boeing 767-300ER e seus equipamentos, garantindo o envio igual ou superior que 90% (noventa por cento), e uma disponibilidade operacional média igual ou superior a 80% (oitenta por cento), devidamente registrados nos SILOMS (Sistema Integrado de Logística de Material e de Serviços), para atender a meta estabelecida pela Diretoria de Material Aeronáutica e Bélico (DIRMAB) para este projeto, por um período de 36 (trinta e seis) meses podendo ser prorrogado por mais 12 (doze) meses.
Vamos aos fatos -
1 – A aeronave deverá estar em operação por uma empresa aérea. Após o período do leasing de 3 anos mais 1 de opção retornará para serviço civil. Questão - Aeronave uma vez com registro militar, já que não será registrada na ANAC, não pode retornar ao serviço civil;
2 – A FAB tenta se garantir com ações de seguro, já que a aeronave terá as cores, insígnias e será operada pelo 2º/2ºGT. Questão - não há seguro para aeronaves militares;
3 – Por fim a empresa COLT Transportes Aéreos não possui em seus registros nenhuma aeronave B-767-300ER.
Perdas para o Brasil - Conhecimento e Empregos
A participação da indústria nacional é significativa no Programa KC-X2 vinculada ao offset do contrato.
Consultada a TAP ME, localizada em Porto Alegre, onde seria feita a conversão das aeronaves em cargueiro e adicionada a capacidade REVO (Reabastecimento em Voo), vê como uma reentrada no mercado de conversões. A TAP ME já realizou várias conversões na década passada em conjunto com a própria IAI. Encerrou pela falta de competitividade com a valorização do Real frente ao Dólar.
E também um fato curioso, a falta de plataformas B-767-200 e 300 ER, pois o atraso nos programa Boeing B-787 e Airbus A-350 levou as companhias aéreas a reterem os melhores B767 em operação.
A empresa AKAER, de São José dos Campos, vê como oportunidade para adquirir o conhecimento em projeto de estruturas de aeronaves de grande porte. A AKAER realiza o desenvolvimento de cerca de 30% da estrutura do Gripen NG.
Aproveitando a própria tabela da licitação apresentada pela DIRMAB (Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico da Aeronáutica) apresentada na página 57 da licitação.
Tabela Comparativa entre o B767-300ER e o C-130 Hercules | |||
Missões / Dias | Horas Voo | Custo | |
767-300ER |
5 Missões / 5 Dias |
63:00 | U$ 780.000 |
C130 |
14 Missões 28 Dias |
310:00 | US 3.772.796 |
Podemos ver que os ganhos operacionais são enormes a cada troca de contingente da MINUSTA. E são dois ao ano.
Cabe ao governo Michel Temer e o Ministro da Defesa Raul Jungmann retomar o rumo, e propiciar o apoio ao Comando da Aeronáutica para iniciar as ações para que multipliquemos os ganhos:
1- Efetivação do contrato com a IAI apara a conversão de 3 B767-300ER em KC-X2, ou outra solução com a empresa mas que as aeronaves sejam realmente da FAB e envolva a indústria nacional;
2 – Gerar empregos e conhecimento na Base Industrial de defesa Brasileira, e,
3 – Garantir a projeção de poder ao país;
E por fim talvez o mais importante.
Segurança e confiabilidade de apoio logístico às tropas brasileiras.
O KC-X2 não compete com o EMBRAER KC-390 pois embora com missões similares um tem o aspecto estratégico e outro tático.
Comentários
Postar um comentário