Nas
primeiras quatro semanas do Curso de Operações na Selva (COS), os
participantes aprendem lições em diversas situações reais, como tiro,
deslocamento em selva portando equipamentos, salto de helicóptero de uma
altura de até 40 metros na terra e água, e movimentações da tropa.
[Foto: Luís Gustavo da Silva/CIGS/EB]
O Centro de Guerra na Selva (CIGS) do Exército Brasileiro (EB) , que já é referência no mundo na formação de combatentes, vai se internacionalizar ainda mais através de dois eventos previstos para este ano em sua sede em Manaus, capital do Amazonas.
O CIGS está preparando a primeira edição
do Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) e um simpósio com o
Exército dos Estados Unidos para fortalecer as relações com o parceiro
norte-americano. As edições anteriores do Curso de Operação na Selva
(COS) mesclaram brasileiros e alguns estrangeiros, mas o EIOS é
exclusivo para soldados estrangeiros.
“O CIGS deixa a condição de mero promotor
de um curso para desenvolver uma nova missão, devido ao reconhecimento
que temos no exterior”, diz o Coronel de Infantaria Alcimar Marques de
Araújo Martins, comandante do CIGS. “Também focamos países que podem nos
aportar mais conhecimento nos níveis tático e técnico.”
Além de fortalecer os laços
internacionais, o centro começa a adaptar a estrutura e os parâmetros de
aptidão física e treinamento para receber mulheres em suas turmas em
2017. Em seus mais de cinco décadas de existência, o COS recebeu apenas
três militares brasileiras, e apenas duas foram diplomadas.
Preparação para a mudança
Preparação para a mudança
O Major Leonidas Domingues Teixeira Neto,
chefe da Divisão de Ensino do CIGS, espera intensa troca de
informações, a maioria sobre aspectos técnicos e táticos, no simpósio
com a delegação dos EUA, de 17 a 21 de outubro. “Os exércitos do mundo
costumam falar a mesma língua em termos de operação. Queremos conhecer
técnicas que podem facilitar a ação na selva, vamos anotar e avaliar a
aplicação aqui.”
Os instrutores do CIGS estão aprendendo
inglês para o simpósio, que foi marcado após conversações entre as duas
forças em 2015. A visita ocorre 52 anos após a criação do centro em
Manaus (em 1964). O COS teve início em 1966, depois que 16 soldados
brasileiros fizeram um estágio no Centro de Treinamento de Selva dos EUA
no Panamá, de acordo com o Maj Domingues. O EB espera que alguns dos
instrutores do CIGS tenhama oportunidade de visitar o Centro de
Treinamento de Operações na Selva da 25a Divisão de Infantaria dos EUA,
no Havaí, após o simpósio.
O domínio do idioma também ajudará no
treinamento durante o EIOS, que será realizado entre 12 de setembro e 26
de outubro, diz o Maj Domingues. O EIOS inicialmente abriu 25 vagas,
mas em abril já tinha 55 inscritos. “Como será todo em inglês, o
interesse aumentou”, diz o Cel Alcimar.
Outras iniciativas também intensificarão a
ida de instrutores do centro situado em Manaus, onde é vinculado ao
Comando Militar da Amazônia (CMA), para conhecer a formação feita em
unidades semelhantes no México, Tailândia e Guiana Francesa. Os
intercâmbios foram definidos a partir de Conferências Bilaterais do
Estado Maior do Exército (CBEM).
Na Tailândia, há semelhança da selva
tropical e o interesse é ver como os militares fazem a movimentação em
áreas inundadas, diz o Maj Domingues, lembrando que entusiasmado com a
segunda edição da Competição Internacional de Patrulhas do CMA, que
ocorrerá de 15 a 26 agosto. “É uma competição, mas serve para disseminar
o conhecimento na selva, e esperamos pelo menos dez equipes
estrangeiras”, afirma. A região, conhecida como “Quadrado Maldito”, é a
base de formação dos guerreiros de selva. Para cumprir as missões de
treinamento, o centro está recebendo melhorias que somarão R$ 550.000
(US$ 160.000) em investimentos entre 2015 e 2016, informou o Cel
Alcimar.
Mais de 6.000 guerreiros treinados
“Se defendendo essa brasileira
Amazônia, tivermos de perecer, ó Deus, que o façamos com dignidade e
mereçamos a vitória. Selva!”
Essa é uma parte da oração que o
guerreiro da selva e Segundo Sargento Fa?bio Gonc?alves Matos declamou
trajando a vestimenta e pintura no rosto com as características de
camuflagem na parada militar em 7 de abril, na sede do 61o Batalhão de
Infantaria de Selva (61o BIS) em Cruzeiro do Sul, no Acre, durante a
Operação Traíra . A operação envolveu tropas do Brasil, Colômbia e Peru
no combate aos crimes transnacionais.
Em 2003, o Seg Ten Matos concluiu as 12
semanas do CIGS, que se divide nas fases de vida na selva, técnicas
especiais e operações na selva. “Precisamos conhecer e saber lidar com a
selva para defender o Brasil”, diz.
Durante a Operação Traíra, o 2º Ten Matos
e seu batalhão aplicaram as técnicas e táticas aprendidas no curso.
Além de ambientação na selva, os alunos participaram de missões
operacionais, incluindo algumas na fronteira entre o Brasil e os países
que participaram da Operação Traíra.
“Em 2015, os participantes fizeram
incursões na porção norte da Amazônia”, diz o Maj. “Afundamos dragas que
faziam extração ilegal de ouro e explodimos pistas de pouso
clandestinas.O militar é preparado com tudo que precisa saber sobre a
Amazônia e pode atuar em um Pelotão Especial de Fronteira (PEF).” Os
PEFs são postos avançados que fazem a proteção do território brasileiro.
Mais de 6.000 soldados, incluindo 482
estrangeiros de 29 países, já se formaram no curso desde que foi
lançado, em 1966, de acordo com o CIGS. Os países que enviaram mais
participantes são França (108), Equador (61), Argentina (56), Guiana
(40), Suriname (32) e Estados Unidos (26).
Noventa participantes se apresentaram na
sede do CIGS em 3 de abril para começar uma nova edição, sendo que
passaram na primeira semana, oito deles estrangeiros. Os 20 que ficaram
de fora “pediram o desligamento”, diz o Maj Domingues. “O ambiente
operacional da floresta já é um item de seleção natural. O militar
chega, olha e vê que não é para ele.”
Guerreiras mulheres
O EB deve inaugurar um novo momento com o
ingresso de mulheres em unidades de formação de combatentes, entre elas
as Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), Academia
Militar das Agulhas Negras (AMAN) e Escola de Sargentos das Armas (ESA).
“Há três anos que se trabalha com essa meta e estamos visualizando como
proceder”, diz o Cel Alcimar.
A legislação federal de 2012 prevê o
ingresso de alunas nas escolas, com vagas incluídas nas seleções feitas
em 2016. Espera-se maior demanda após as diplomações nas fileiras da
EsPCEx, AMAN e ESA. “As duas alunas que concluíram o curso em 2009
registraram em relatórios que as maiores dificuldades foram na questão
física”, diz o Maj Domingues. “Um militar sempre leva mais peso, e as
mulheres sentem mais. Mesmo assim, as duas alunas se saíram muito bem e
foram aprovadas.”
No entanto, todos os soldados inscritos
no programa terão de raspar completamente a cabeça para evitar contrair
rabdomiólise , uma síndrome caracterizada pela necrose muscular causada
pela desidratação e elevado desgaste físico nos treinamentos.
A Primeiro Tenente Camila Tochetto,
veterinária no zoológico do CIGS, vai se postular para uma vaga no COS,
que segundo ela pode se tornar mais popular entre as mulheres.
Ela afirma que o corte do cabelo é “o
menor dos problemas” e concentra sua atenção nas diferenças
fisiológicas, que exigem uma preparação diferente da do homem. “Você tem
de começar meses antes o treinamento físico para passar nos testes
preliminares. Depois tem de compatibilizar os aspectos psicológicos.”
O website do CIGS
contém uma tabela mostrando a dieta calórica e as orientações
nutricionais para homens e mulheres. “Nossos parâmetros já estão
ajustados às mulheres”, diz o Cel Alcimar. “Só não apareceu nenhuma
interessada a entrar ainda.”
Comentários
Postar um comentário