Para Igor Konashenkov, porta-voz das forças russas na Síria, estrangeiros devem apoiar, e não atrapalhar o processo político no país. Em entrevista, ele destaca o papel de militares russos e a cooperação com os EUA.
Militares e aviões russos na base aérea de Hmeimim, na Síria
Militares russos vêm desempenhando um
papel decisivo nos recentes êxitos das tropas do presidente sírio,
Bashar al-Assad. A reconquista de Palmira das mãos do "Estado Islâmico"
(EI), no final de março deste ano, é um exemplo.
"Assad valorizou muito a ajuda que a
Força Aérea russa tem fornecido e sublinhou que sucessos como a retomada
de Palmira teriam sido impossíveis sem o apoio russo", disse o
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na ocasião.
Em entrevista à Deutsche Welle, o
major-general Igor Konashenkov, porta-voz das forças de combate russas
na Síria, fala sobre as operações no país. Apesar de o presidente
Vladimir Putin ter ordenado, em meados de março, o início da retirada de
suas forças militares da Síria, Konashenko diz que aviões e militares
russos permanecem no país.
Para ele, além de participarem dos
preparativos de operações e transferir conhecimentos militares, cabe aos
militares russos apoiar o processo político na Síria, do qual a
realização de eleições é o primeiro passo.
Deutsche Welle: Há algumas
semanas jatos militares russos ainda cortavam o céu sobre a Síria. Agora
tudo ficou mais calmo. Mas militares russos ainda estão presentes. O
que eles fazem no país?
Igor Konashenkov: Conselheiros
militares russos participam dos preparativos de operações militares,
como a libertação de Palmira, Al-Qaratein e outras grandes localidades
das mãos do "Estado Islâmico" (EI). Eles transferem a peritos sírios o
conhecimento técnico necessário para operar armas que os fornecermos
como parte de nossa cooperação. É claro que também participamos da
elaboração dessas operações.
Os aviões russos desapareceram do
céu sírio de maneira tão repentina quanto nele surgiram. A Síria,
porém, continua repleta de terroristas. A Rússia não cumpriu, portanto,
sua própria missão de livrar o país de extremistas?
Não, vejo isso como completamente
equivocado. Os aviões russos continuam na base aérea de Hmeimim. E temos
tantos aviões de quanto precisamos. São aeronaves modernas e
helicópteros, que ainda realizam missões de combate. O alvo deles são
grupos terroristas. Mas nossos peritos também desempenham uma missão
humanitária, por exemplo, ao livrarem a antiga cidade de Palmira de
minas. Para que, assim, possamos todos admirar novamente o que a
humanidade criou há milênios.
Como é a cooperação com outros países, como os Estados Unidos?
Muito ativa, no contexto dos acordos no
processo de reconciliação das partes em conflito e da suspensão das
hostilidades. Estabelecemos um ponto de observação na nossa base de
Hmeinmim, aqui na Síria. Os americanos têm um centro semelhante em Aman.
Estamos em contato diariamente. Informamos nossos colegas dos EUA sobre
todos os casos de violação de cessar-fogos, e eles – é preciso
reconhecer – compartilham conosco todas as informações que obtêm através
de seus canais.
No momento, a situação é problemática
somente em Aleppo. Segundo nosso levantamento, há mais de mil
combatentes fortemente armados concentrados na cidade, sobretudo do
grupo Jabhat al-Nusra. Eles têm armas pesadas, muitos veículos
blindados, tanques.
No dia 13 de abril, serão
realizadas eleições parlamentares na Síria – num momento extremamente
desfavorável. Não há campanha eleitoral nem paz no país. Como o senhor
acha que serão estas eleições?
É difícil dizer se a Síria está preparada
para eleições ou não. Tudo é relativo. Sim, do ponto de vista europeu o
país não está preparado. Mas é preciso começar em algum momento. Com
alguma coisa. E essa coisa precisa ser o processo político. Eu viajo
muito pela Síria e vejo como se trata de um país único. E diverso – em
termos de mentalidade, estilo de vida das pessoas, de religião. Mas
todas essas pessoas viveram juntas por milhares de anos. Acho que é
preciso dar a elas, assim como a todos os outros, a chance de tomar as
rédeas da própria vida. Não deveríamos atrapalhá-las nisso, mas sim
apoiá-las.
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