Múltiplas explosões abalam Bruxelas
A capital da Bélgica e sede da União
Europeia e da Otan amanheceu sob ataque nesta terça-feira (22/03). Pouco
antes das 8h (hora local), duas explosões foram ouvidas no aeroporto
internacional de Bruxelas – uma delas teria ocorrido no balcão da
companhia aérea American Airlines, no setor de embarque.
Pouco tempo depois, as autoridades
afirmaram também ter havido uma explosão na estação de metrô de
Maelbeek, no centro da capital, localizada próxima aos escritórios da
UE.
As múltiplas explosões provocaram um total de ao menos 21 mortos, disse um porta-voz do corpo de bombeiros.
Testemunhas relatam ter visto fumaça
saindo de um dos terminais, e as primeiras imagens mostram destruição
nos prédios e pessoas em fuga. Outras testemunhas afirmaram ter ouvido tiros antes das explosões. De acordo com uma testemunha citada pela agência de notícias Reuters, alguém teria gritado palavras em árabe.
As explosões ocorrem quatro dias após a
captura, em Bruxelas, de Salah Abdeslam, principal suspeito de
arquitetar os ataques de Paris em novembro de 2015.
O governo da Bélgica elevou ao máximo o nível de alerta no país, para o grau 4, que indica ameaça "séria e imimente".
Celeiro para o jihadismo europeu
Celeiro para o jihadismo europeu
Por volta de 11 mil combatentes
estrangeiros juntaram-se a jihadistas na Síria e no Iraque entre 2011 e
2013, e quase um quinto deles partiu da Europa Ocidental, segundo o
Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e Violência Política
(ICSR). Com ao menos 296 combatentes, a Bélgica está no topo da lista
em termos de números absolutos.
Para efeito de comparação, na Alemanha,
um país oito vezes maior, estima-se que haja até 240 combatentes na
suposta "guerra santa". Em relação à população, a Bélgica tem 27
combatentes para cada milhão de habitantes, sendo, portanto, o principal
"fornecedor" de jihadistas europeus.
"Os belgas afrouxaram as rédeas quanto à
observação da cena [jihadista] e medidas preventivas", diz Asiem El
Difraoui, cientista político especializado em Oriente Médio, em
entrevista à DW.
Para os fracassos na luta contra o
terrorismo islâmico, ele vê uma razão clara: o conflito interno no país
europeu. "Os belgas estão, simplesmente, muito preocupados com eles
mesmos." Há anos, a rivalidade entre flamengos (língua holandesa) e
valões (língua francesa) tem impedido o governo de cuidar dos problemas
internos do país, diz o especialista.
Da pequena cidade à jihad
A pequena Verviers, no leste do país,
tornou-se símbolo do que é tão atraente para alguns cidadãos nessa forma
militante extrema do islamismo. Pesquisadores da Universidade de Liège
estudaram a integração e as condições sociais em Verviers, uma das
cidades mais pobres da Bélgica. Dos 53 mil habitantes, cerca de 15% têm
origem imigrante.
Ao todo, 117 nacionalidades vivem na
cidade, entre elas a segunda maior comunidade chechena do país, que é
considerada uma espécie de núcleo de combatentes islâmicos.
No começo de 2015, ficou claro como a
cena jihadista tornou-se mais violenta quando dois islâmicos foram
mortos numa batida da polícia belga por suspeita de planejarem ataques
terroristas. Eles haviam aberto fogo contra os oficiais com armas
automáticas.
Perspectivas econômicas
Não só os muçulmanos radicais na Bélgica
são um problema: a discriminação no mercado de trabalho também é
grande. Cerca de 6% dos belgas são muçulmanos, e mesmo quando falam a
língua perfeitamente ou são falantes nativos são tratados como
estrangeiros, aponta um estudo da Rede Europeia Contra o Racismo. A taxa
de desemprego entre as pessoas que nasceram fora da União Europeia (UE)
em 2012 foi três vezes maior que a dos nascidos na Bélgica.
A Anistia Internacional também criticou o
governo belga pela falta de esforços para a integração. Segundo um
estudo de 2012, a empresas foi facilitada a recusa de candidatos a um
emprego por causa da religião. As mulheres muçulmanas que usavam o véu
foram as mais afetadas.
A frustração resultante de situações
como essa faz com que seja mais fácil grupos fundamentalistas violentos
radicalizarem indivíduos a favor de sua causa.
Ponto de virada?
Embora o problema seja conhecido há
muito tempo, o governo belga investe mais em políticas simbólicas e de
segurança que em medidas de integração eficazes. Em 2009, a cidade de
Antuérpia proibiu o uso do véu islâmico em público.
Dois anos mais tarde, a Bélgica criou
uma lei que gerou um grande alarde. No ônibus, durante uma caminhada ou
no cinema, mulheres foram proibidas de usar burca, sendo aplicada uma
multa de 137,50 euros em caso de violação da lei. Das quase 200 mil
mulheres muçulmanas no país, "apenas" 270 foram afetadas.
Num julgamento em 2012, a organização
Sharia4Belgium, que abertamente recruta combatentes jihadistas, foi
oficialmente proibida. Na maior ação judicial da história da Bélgica
contra o terrorismo islâmico, o chefe do grupo radical, Fouad Belkacem,
foi condenado a 12 anos de prisão em fevereiro de 2015. Depois de vários
ataques, o governo estabeleceu, no início deste ano, o alerta de
terrorismo e reforçou a vigilância telefônica.
El Difraoui espera que, depois dos
atentados de Paris, maiores esforços sejam feitos para integrar os
cidadãos muçulmanos do país à sociedade – uma das condições para
combater o radicalismo islâmico. Talvez pressão de fora do país seja
necessária, diz. "Os franceses não vão mais aceitar que a Bélgica
continue tão inativa."
Procuradoria belga identifica cúmplice dos ataques de Paris
A procuradoria federal belga afirmou
nesta segunda-feira (21/03) que descobriu a verdadeira identidade de um
dos possíveis cúmplices dos atentados terroristas de Paris, em novembro
de 2015, e que até então era conhecido sob um nome falso. A
identificação se deu por testes de DNA.
O suposto cúmplice foi identificado como
Najim Laachraoui, de 24 anos, até então conhecido pelo nome falso de
Sufiane Kayal. A Justiça belga divulgou uma foto do suspeito e lançou um
novo apelo a pessoas que possam ajudar na sua localização.
Segundo o comunicado da procuradoria
federal belga, o suspeito teria alugado, usando a identidade falsa, uma
casa em Auvelais, no sul da Bélgica, onde teriam sido preparados os
atentados de 13 de Novembro em Paris. Laachraoui é também suspeito de
ter estado em contato telefônico com membros do comando terrorista na
noite de 13 de Novembro.
Além disso, o suspeito estava num carro
que foi abordado por policiais em 9 de setembro de 2015 na fronteira
austro-húngara, viajando com Salah Abdeslam e Mohamed Belkaïd, um
argelino de 35 anos que foi morto numa operação policial, na terça-feira
passada, em Forest, um distrito de Bruxelas. Os acompanhantes de
Abdeslam usavam as identidades falsas de Sufiane Kayal e Samir Bouzid.
Promotores disseram que o DNA de
Laachraoui foi encontrado na casa alugada em Auvelais, num outro
esconderijo no distrito de Schaerbeek, em Bruxelas, e em explosivos
usados em Paris.
A identificação de Laachraoui foi feita
após a captura, na sexta-feira, de Abdeslam, no distrito de Molenbeek,
em Bruxelas, após mais de quatro meses em fuga. Abdeslam foi formalmente
acusado de homicídios terroristas e de participação nas atividades de
um grupo terrorista.
Os atentados de 13 de Novembro em Paris,
reivindicados pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), deixaram
130 mortos e mais de 300 feridos.
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