Sipri constata queda na exportação alemã de armas

EUA e Rússia fornecem mais da metade das armas adquiridas no mundo. Índia, Arábia Saudita e China são os que mais compram. Alemanha cai do terceiro para quinto lugar entre os exportadores, na comparação quinquenal

 

 
A exportação de armas da Alemanha caiu pela metade nos últimos cinco anos, segundo relatório anual do Instituto de Estudos da Paz em Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), na Suécia, que foi divulgado nesta segunda-feira (22/2).
Conforme os dados, a venda de armamento de guerra produzido na Alemanha entre 2011 e 2015 caiu 51% em comparação com o quinquênio de 2006 a 2010.
Conforme o instituto, a Alemanha caiu do terceiro para o quinto lugar na lista dos 58 países que mais exportam armas. Os principais fornecedores são Estados Unidos e Rússia, com grande diferença para o terceiro colocado, a China. Ambos atendem sozinhos mais da metade da demanda global.
A China também se destaca por ter aumentado as suas exportações em 88%, ocupando o terceiro lugar entre os países que mais exportaram armas nos últimos cinco anos. Já França ocupa 5,6% do mercado e está na quarta posição do ranking, à frente da Alemanha e do Reino Unido.
 
Na semana passada, o relatório de exportação de armas do governo alemão indicou que a Alemanha atingiu valor recorde de vendas em 2015, apesar de o vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, ter defendido mais cautela nas autorizações de exportação.
Ele atribuiu o recorde parcialmente a decisões de governos anteriores e "fatores especiais", como um contrato de grande volume com o Reino Unido.
Destaques entre os compradores
Por outro lado, o Sipri afirmou que seis países da Ásia e Oceania estão entre os dez que mais compram armas militares. As áreas de crise no Oriente Médio também se destacam, com um aumento de 61% nas aquisições.
A Índia continua liderando a lista dos países que mais importam armas, com 14% das compras globais – duas vezes mais do que a Arábia Saudita, que ocupa a segunda posição e tem um número de habitantes de 30 milhões de pessoas. China, Emirados Árabes Unidos e Austrália completam a lista dos cinco maiores compradores de armas no mundo.
A Arábia Saudita quase triplicou as suas importações de armas militares na comparação quinquenal. Na quarta posição estão os Emirados Árabes Unidos e, na sexta, a Turquia. Esses dois países também elevaram seus gastos com armas.
Em entrevista à DW, o especialista do Sipri Pieter Wezeman disse que isso não o surpreende. Segundo ele, a região se caracteriza por conflitos internos e entre países. Além disso, muitos países da região têm grandes orçamentos e não têm uma indústria própria para atender à demanda. Ele ressalvou, porém, que esse comportamento começa a mudar devido à queda no preço do petróleo.
Aumento do comércio de armas
O relatório do Sipri verificou aumento de 14% na transferência de armas de 2011 a 2015, em comparação com o quinquênio anterior. Somente os Estados Unidos, o líder no ranking de exportações, venderam armas para 96 países, ocupando 33% do mercado.
Metade do volume de vendas da indústria bélica americana se concentra em aeronaves de combate. As armas militares produzidas nos Estados Unidos atendem principalmente os mercados dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita e da Turquia.
A Rússia está na segunda posição, fornecendo um quarto do armamento global, com foco de mercado em 50 países, tendo China, Índia e Vietnã como principais clientes.
O Sipri adotou o ciclo de cinco anos a fim de atenuar as flutuações causadas por uma grande encomenda durante um ano específico.
A fonte da pesquisa são informações da mídia nacional e internacional, jornais especializados, relatórios governamentais e da indústria armamentista.
Impacto da crise do Brasil
Na América Latina, o México triplicou a sua importação de armas pesadas nos últimos anos em comparação com o período entre 2006 e 2010. O país enfrenta uma crise na segurança pública devido à intensa atividade do tráfico de drogas, que causou um número estimado de 100 mil mortes nos últimos dez anos.
Wezeman destacou que o México investiu em veículos blindados leves, que oferecem proteção contra fuzis e metralhadoras, mas não contra mísseis.
Na África, mais da metade das armas importadas são compradas por Marrocos e Argélia, dois países vizinhos. Uma situação econômica relativamente favorável e a rivalidade entre os dois países são apontados por Wezeman como fatores que estimularam essa demanda.
O Sipri destacou que a crise econômica brasileira provocou retração dos gastos do país com armamentos militares. Os ajustes econômicos feitos pelo governo Dilma Rousseff no início de 2011 provocaram diminuição de 27% no orçamento militar e queda da representação desses gastos no Produto Interno Bruto (PIB) do país já no início desta década.
Os gastos do Brasil com armamento militar entre 2003 e 2010 representaram em torno de 1,6% do PIB. Em 2010, o Brasil gastou 33,5 bilhões de dólares, 9,3% a mais do que em 2009. Na década passada, os gastos com armas militares chegaram a subir 30% – uma média anual de 2,9%.
Porém, antes da explosão dos gastos no setor, no em 2003, houve uma redução explicada pelo corte de 20% no orçamento militar como estratégia do programa Fome Zero.
 

Alemanha quase dobra exportação de armas em um ano

O volume de exportação de armas alemãs em 2015 quase dobrou em relação ao ano anterior, chegando a 7,5 bilhões de euros, ante cerca de 4 bilhões em 2014, anunciou nesta sexta-feira (19/02) o vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, ressaltando que "situações especiais" contribuíram para esse aumento.
O número é preliminar e não envolve cooperações para o armamento com outros países, por exemplo da União Europeia ou da Otan. O relatório final do Ministério da Economia deve ser apresentado nos próximos meses.
Gabriel citou os contratos de vendas de aviões-tanque para o Reino Unido, no valor de 1,1 bilhão de euros, e de mísseis para Coreia do Sul, em 500 milhões de euros, como exemplo de "situações especiais". O ministro ressaltou ainda que alguns contratos foram fechados no governo anterior, como a entrega de mais de 60 tanques para o Catar, no volume de 1,6 bilhão de euros.
Gabriel disse que ele não teria autorizado esse negócio, mas ressalvou que cancelá-lo envolveria uma decisão unânime de todos os ministérios que o autorizaram, o que não seria possível.
O vice-chanceler ressaltou, porém, que uma venda semelhante para a Arábia Saudita foi bloqueada. Em 2013, quando assumiu o cargo, ele afirmou que limitaria as exportações de armas, que, na Alemanha, necessitam de autorização do governo.
Mesmo com o aumento, Gabriel falou em progressos na meta do governo de avaliar com mais rigor as autorizações de exportações. "Avançamos bem no objetivo de reorientar a exportação por princípios políticos", disse. Como exemplo, o ministro citou a redução na venda de armas de pequeno porte para os países que não pertencem nem à União Europeia nem à Otan nos últimos três anos.
Em 2014, a venda dessas armas para esses países havia movimentado 21,6 milhões de euros, caindo para 16 milhões de euros no ano seguinte. Esse tipo de armamento pode ser usado em guerras civis e engloba metralhadoras, granadas e lança-mísseis portáteis.
A oposição criticou os dados apresentados, afirmando que os números representam um retrocesso na política alemã de exportação de armas, e pediu o fim das vendas para países do Golfo Pérsico.
A Alemanha é o quarto maior exportado de armas do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da Rússia e da China.

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