COBERTURA ESPECIAL - America Latina - Segurança
Patrulha do exército venezuelano junto à fronteira com a Colômbia FEDERICO PARRA/AFP
Por Ana Fonseca Pereira – Texto do Público.pt
Adaptação e edição – Nicholle Murmel
O
Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, decretou estado de exceção nos
municípios do estado do Amazonas que fazem fronteira com a Colômbia,
colocando sob jurisdição militar o único trecho da linha divisória entre
os dois países que ainda não havia sido bloqueado. O anúncio foi feito
24 horas depois de Caracas e Bogotá terem se comprometido a encerrar a
crise diplomática que se arrasta há um mês e que já levou 20 mil
colombianos a abandonar a Venezuela.
O
líder venezuelano assegura que não há nenhuma incongruência entre as
duas decisões, dizendo que apesar de ter ficado decidida a “normalização
gradual da situação na fronteira” isso só acontecerá mediante acões que
os dois países venham a adotar para combater o contrabando de
mercadorias, o tráfico de drogas e a presença de grupos armados. Algo
que, sublinha o presidente, não deverá demorar menos de seis meses e
estará condicionado à situação no terreno. “Até lá não vacilaremos nem
um minuto. É preciso cerrar punhos contra o crime, os delinquentes e os
paramilitares”, disse o líder bolivariano no seu programa semanal na
televisão venezuelana.
O
estado de exceção prevê a mobilização das Forças Armadas e a limitação
das liberdades constitucionais proibindo, entre outros, o direito de
manifestação – um fator importante tendo em conta que as legislativas
venezuelanas estão marcadas para Dezembro, adianta o jornal espanhol El País, acrescentando que oito dos 23 municípios fronteiriços onde a medida está já em vigor são governados pela oposição.
Ao todo, Caracas interditou 1400
dos 2200 quilômetros da fronteira comum, uma região que tem sido alvo
de frequentes tensões entre dois países e que é uma auto-estrada para
actividades ilegais, do tráfico de drogas ao contrabando, adianta a
Reuters. Do petróleo (o mais barato do mundo) à comida são milhares as
mercadorias que se podem comprar a preços subsidiados na Venezuela para
vender com enormes margens de lucro na Colômbia. O negócio é antigo, mas
a penúria de bens essenciais no país levou o Governo venezuelano a
apertar o cerco, que se transformou em guerra depois de, em 19 de
Agosto, três militares colombianos terem sido feridos num ataque que
Caracas atribuiu a paramilitares e contrabandistas colombianos.
Além
do fechamento das fronteiras e do estado de exceção, a Venezuela
expulsou 1500 colombianos sob alegação de estarem em situação irregular.
Outros 18 mil deixaram às pressas o país por medo de represálias,
segundo números recolhidos pela ONU. A tensão atingiu o pico quando, uma
semana depois do ataque, Caracas e Bogotá chamaram os respectivos
embaixadores e o Governo colombiano acusou o país vizinho de incursões
aéreas no seu território.
As
tentativas de solução começaram durante encontro na última
segunda-feira (21) no Equador, entre Maduro e o Presidenteo colombiano,
Juan Manuel Santos, em que ficou decidido o regresso imediato dos
embaixadores e a criação de um grupo ministerial para melhorar a
cooperação fronteiriça. “Hoje triunfou a sensatez, o diálogo e, aquilo
que deve imperar sempre, a paz”, afirmou Maduro. Santos disse entender
as preocupações da Venezuela com a presença de grupos armados na região,
mas sublinhou que os dois governos devem “agir juntos” apesar das
divergências ideológicas e exigiu respeito pelos direitos dos
colombianos que vivem no país vizinho.
Na
Venezuela, a oposição acusa Maduro de usar o conflito fronteiriço para,
em vésperas de eleições, desviar as atenções da derrocada econômica.
Acusações que podem ganhar fôlego diante das denúncias da Guiana sobre a
“extraordinária escalada da actividade militar da Venezuela” desde o
início do mês numa zona marítima que os dois países reclamam e onde a
Exxon Mobil está a fazer prospecções petrolíferas.
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