Informe Otálvora - Maduro procura deliberadamente criar conflitos internacionais


Tropas do Exército da Venezuela chegam ao estado de Zulia, fronteira com a Colômbia, em 10 de setembro por órdens de Nicolás Maduro. Foto:@Ceofanb

Nota DefesaNet

Texto original em espanhol no Diario las Américas

Maduro busca deliberadamente pleitos internacionales Link

O editor



 Edgar C. Otálvora
Caracas
@ecotalvora

O progresso na normalização das relações com os EUA, assunto para o qual o Presidente Nicolás  Maduro e  o Presidente da Assembleia Nacional Diosdado  Cabello mostram especial interesse, também foi afetado pelos temas Colômbia e Lopez. O Secretário de Estado John Kerry (09SET15), telefonou para a Chanceler chanceler do Governo Maduro, Delsy Rodriguez.

O Presidente de Cuba Raul Castro estará na primeira fila durante a Missa que o Papa Francisco realizará na Praça da Revolução, em Havana (20SET15). Castro convidou vários líderes regionais dos amigos do governo cubano para acompanhá-lo, entre os quais está Cristina Kirchner que já confirmou a sua presença.

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O regime chavista da Venezuela, encabeçado por Nicolás Maduro e Diosdado Cabello, enfrenta sérios problemas de governabilidade  interna, e está rapidamente perdendo os apoios  internacionais, legado político de Hugo Chávez. A imagem internacional do projetado governo "humanista" construído com custosas “doações” ao longo de quase duas décadas, foi seriamente danificada após a recente expulsão em massa de colombianos  da região de fronteira entre os dois países. Este impacto negativo foi multiplicado após a sentença de quase 14 anos de prisão contra o opositor Leopoldo Lopez (10SET15), em um processo de clara  motivação política.

O procresso na normalização das relações com os EUA, assunto para o qual Maduro e Cabello mostram especial interesse, também foi afetado pelos temas da Colômbia e Lopez. O Secretário de Estado John Kerry telefonou (09SET15), à  chanceler Delsy Rodriguez. A conversa foi tornada público imediatamente por Rodriguez via Twitter, sem especificar o seu conteúdo e limitou-se a observar que "o diálogo foi para normalizar as relações diplomáticas". No entanto, em seu briefing diário, o porta-voz  do Departamento de Estado, John Kirby (10SET15), disse que Kerry tinha tratado de  três temas: o interesse de Washington em manter canais de comunicação com o governo Maduro, a preocupação dos EUA e a necessidade de atender prontamente a crise humanitária na fronteira com a Colômbia e a preocupação dos EUA sobre o destino de Leopoldo Lopez.

Assim, o Secretário Kerry colocou nos ouvidos da chanceler de Maduro duas expressões que geram alergia regime venezuelano: as acusações de violações dos direitos humanos na fronteira com a Colômbia e repressão de oponentes políticos. Após a  a decisão contra López (11SET15), o Departamento de Estado distribuiu uma declaração escrita em que Kerry descreve como alegações "ilegítimas" contra Lopez, e  acusou o governo venezuelano de utilizar o sistema judiciário para "reprimir e punir os críticos do governo "e ele reiterou o pedido de liberdade para Lopez e todos os presos políticos.

Depois de informar-se sobre a declaração de  Kerry, a chanceler de Maduro, que estava em Nova York, (11SET15) denunciando a Colômbia perante as agências da ONU, twittou: "Os Estados Unidos, com sua interferência insolente, fez retroceder os tímidos avanços para regularizar as relações bilaterais ". O chavismo esperava normalizar suas relações com os EUA com o compromisso de um silêncio de Washington em questões como os direitos humanos na Venezuela, na mesma linha  que  governos como o de Juan Manuel Santos realizou nos últimos anos. No entanto, agora  nem o próprio Santos segue as condições impostas por Chávez e Maduro como preço das relaçoes diplomáticas.

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Além do confronto com Israel, que mantém relações rompidas desde a época de Chávez, a Venezuela não tem embaixadores em Washington ou Bogotá (as duas principais embaixadas  do país), nem em Georgetown. Colômbia e Guiana, dois países que fazem fronteira com a Venezuela, não têm embaixador  venezuelano por causa dos choques que Maduro mantêm  simultaneamente com ambos. Em contraste, Maduro nomeou embaixador na Abcásia e na Ossétia do Sul, dois países fictícios inventados por Moscou, que só são reconhecidos pela Rússia, Nicarágua e Venezuela.

As relacionamentos de Maduro com os aliados naturais do chavismo tenderam a azedar nos últimos meses. O presidente Maduro deixou inesperadamente o Palácio do Itamaraty (17JUL15), em Brasília, onde uma cúpula presidencial semestral do Mercosul era realizada. A decisão de Dilma Rousseff ematender minutos antes da reunião o novo presidente da Guiana David Granger, teria desencadeado a reação de Maduro, que esnobou a anfitriã ao deixar o almoço oferecido aos líderes presentes.

Maduro assumiu crescente posição de arrogância com os seus colegas da região, de acordo com várias fontes diplomáticas de países sul-americanos, o que levou a avaliação que o regime venezuelano criou conflitos internacionais de forma deliberada e os deixou ganhar corpo ao retardar uma solução diplomática. Em qualquer caso, a diplomacia chavista se mostra  ultrapasada pelos próprios fatos gerados pelo seu próprio governo, e tem recorrido a empresas de lobby americanas, de forma sistemática, além do acompanhamento já habitual da diplomacia cubana.

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O início da crise atual entre os Governos Santos e  Maduro e a retirada de seus embaixadores, foi precedido por vários dias em que o presidente colombiano tentou, sem sucesso, contato por telefone com o Palácio de Miraflores, sem resposta. O Presidente uruguaio Tabaré Vázquez, na sua qualidade de presidente da UNSUL, tentou, sem sucesso por vários dias, comunicar-se diretamente com Maduro para oferecer, como tinha feito com Santos, os seus préstimos para uma aproximação entre os dois líderes. Maduro que havia retornado a Caracas  de sua viagem de uma semana Ásia, irritado com o Uruguai que apoiou a realização de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da OEA, ele optou por não responder a chamadas telefônicas de seu aliado político uruguaio. A antipatia do chavismo extendeu-se ao governo brasileiro, cujo representante na OEA se absteve na votação, na qual Maduro aspirava no apoio automático do Brasil.

O novo Secretário-Geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, não conseguiu desde que tomou posse, em 26MAIO15, ser convidado a visitar a Venezuela. Almagro, que serviu como ministro das Relações Exteriores do Uruguai no governo esquerdista de Pepe Mujica, e que era um aliado natural de Maduro, tornou-se o inimigo do regime venezuelano, primeiro por promover o envio de observadores da OEAàs eleições Venezuelanas (06DEZ15), e depois pelo interesse demonstrado pela atuação da  Venezuela na expulsão dos colombianos. Almagro foi convidado pelo Governo da Colômbia para visitar a área de fronteira Tachira-Norte de Santander, o que fez ( 05SEP15) acompanhado pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Maria Angela Holguin, o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo e do prefeito de Cucuta, Donamaris Ramirez com os quais ele visitou abrigos para pessoas deslocadas.

Almagro pediu ao governo Maduro a  a permissão para visitar o lado venezuelano da fronteira, sem obter resposta oficial. Em troca, o governo chavista organizou uma campanha de protesto liderada pelo governador de Táchira, José Vielma Mora, a poucos metros do limiteda fronteira para condenar a presença de Almagro. A partir de Caracas, a estação de rádio governamenal YVKE advertiu que "alertava San Antonio del Táchira da visita do Secretário da OEA Cucuta," como se a presença do ex-amigo dos chavistas fosse uma invasãos estrangeira.

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Em meio a temores de um confronto militar na fronteira Venezuela-Colômbia, e com o Secretário da UNASUL, o colombiano Ernesto Samper Pizano,inabilitado como um intermediário, o governo brasileiro juntamente com a Argentina, decidiu lançar uma iniciativa com os governos em conflito. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira desembarcou em Bogotá na sexta-feira (04SET15), com o seu homólogo argentino Hector Timerman. Eles foram recebidos no Palácio de San Carlos pelo ministro das Relações Exteriores da Colômbia, que apresentaram dois pontos: Brasil e Argentina se ofereciam para fazer a mediação entre os dois Governos, que procuravam uma reunião entre os dois presidentes e estes esforços devem ser feitos sob os auspícios da UNASUL. Note-se que a prresidência da organização está nas mãos do Uruguai. Os chanceleres  Vieira e Timerman chegaram a Caracas (05SET15) para reunir-se com a chanceler Delsy Rodriguez, que  não estava em casa naquele dia, pois estava em viagem do Catar para a Jamaica como parte da extensa delegação de Maduro e não iria voltar para o país até dois dias apesar da presença em Caracas dos enviados do Brasil e da Argentina.

Os ministros das Relações Exteriores de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner realizaram uma reunião com o vice-presidente executivo, Jorge Arreaza, a qual consideraram sem resultados pois o genro de Hugo Chávez é uma figura com pouca ou nenhuma capacidade de tomar decisões ou representação real dentro do regime chavista. Vieira e Timmerman imediatamente empreenderam viagem  para Montego Bay, Jamaica, onde eles finalmente se encontraram com Maduro, que aceitou os esforços da Argentina e do Brasil condicionando a participação do Uruguai.


Nesse mesmo dia, o presidente do Equador, Rafael Correa, que também preside a CELAC, anunciou durante seu programa semanal de televisão, os seus esforços para promover um encontro entre Santos e Maduro,ao qual já tinha a aprovação da Colômbia. Curiosamente, Correa também se queixou de problemas para iniciar o contato por telefone com Maduro. Ricardo Patiño, que retomou  seus deveres como ministro das Relações Exteriores do Equador depois de várias semanas dedicadas ao trabalho partidário, viajou a Caracas e Bogotá ( 08SEP15) para conversações com  Santos e Maduro, no mesmo tom dos ministros das Relações Exteriores do Brasil e da Argentina. Maduro concordou que a ministro das Relações Exteriores se reunisse com seu colega colombiano (12SET15), mas não no Uruguai e sim no Equador, permitindo a presença do ministro das Relações Exteriores do Uruguai Rodolfo Nin Novoa não deixar de fora das negociações  a UNASUL.

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