Acordo entre Embraer e Boeing será usado na negociação do aço



Brasil vai acenar com suspensão da operação caso EUA não exclua país da sobretaxa


O acordo entre Embraer e Boeing poderá ser usado como barganha nas duas pontas da negociação em torno da sobretaxa de 25% ao aço importado imposta pelos Estados Unidos. A expectativa de técnicos do governo brasileiro e representantes do setor privado ouvidos pelo GLOBO é que, de um lado, o Brasil acenará com a não permissão da operação entre as duas fabricantes de aeronaves caso os produtos siderúrgicos não sejam excluídos da medida protecionista. De outro, as autoridades americanas vão exigir que a negociação entre as duas companhias ocorra de forma mais rápida e simplificada.
Antes do impasse em torno do aço e do alumínio (cujas importações também serão sobretaxadas para os EUA, só que em 10%), a previsão era que o acordo entre Embraer e Boeing poderia ser finalizado ainda este mês. Porém, como o Departamento de Comércio americano, até esta terça-feira, ainda estava fechado para receber pedidos de exceção de países que alegam que serão prejudicados com a sobretaxa, é possível que a associação entre as duas companhias demore um pouco mais. As empresas, portanto, ficariam dependendo de um desfecho em outra área nas relações bilaterais para fecharem o negócio.
Pressão sobre etanol
Uma fonte explicou que, dentro desse grande arranjo de interesses da aviação, a Embraer tem concorrência direta com a canadense Bombardier. Por causa da forte competição, Brasil e Canadá brigaram várias vezes pelos mercados de aeronaves na Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, recentemente, a Bombardier se associou à Airbus, o que levou Embraer e Boeing a buscarem o mesmo, em uma contraposição de forças.
A lista de itens que poderiam ser negociados entre Brasil e EUA tem por objetivo evitar dois problemas: uma perda anual de US$ 2,6 bilhões com aços semiacabados que são exportados ao mercado americano e, no mercado doméstico, um surto de importações de siderúrgicos, causado por um excedente de mais de 700 milhões de toneladas que precisarão ser desovadas.
Conforme O GLOBO antecipou na segunda-feira, além da operação entre Embraer e Boeing, o Brasil será pressionado a ceder no etanol. Em setembro do ano passado, a Câmara do Comércio Exterior (Camex) aprovou a criação de uma cota de importação de 600 milhões de litros de etanol ao ano livre de tarifa. A importação acima desse volume passou a ser tributada com uma alíquota de 20%. A medida terá duração de 24 meses. A ideia é proteger os produtores do Nordeste, uma vez que as usinas estavam importando álcool de milho proveniente dos EUA. Foi detectado um aumento de 320% nas importações.
- Os EUA vão requerer que o governo volte atrás ou aumente essa cota - especulou um técnico da área de comércio exterior.
Por outro lado, o Brasil é o maior importador de carvão metalúrgico dos EUA. Uma forma de pressão seria passar a comprar o produto de outros fornecedores, como Austrália e Polônia. As compras de carvão americano somaram US$ 1 bilhão no ano passado.
Dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) mostram que o Brasil exportou, no ano passado, cerca de US$ 8 bilhões de produtos siderúrgicos para o mundo todo. Os EUA ficaram com US$ 2,6 bilhões e lideraram o ranking de importadores de aço brasileiro. Foram seguidos por Argentina, Alemanha, Turquia e México.

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