A modernização militar chinesa está avançando a passos largos - entenda como isso pode mudar o equilíbrio de poder no mundo.
A modernização das forças armadas chinesas está acontecendo mais rápido do que a maioria dos especialistas esperava. Cada vez mais, dizem observadores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), são os chineses (e não mais a Rússia) que estabelecem o padrão usado por Washington para avaliar a capacidade de sua própria máquina de guerra.
E esta constatação é especialmente verdadeira para a Marinha e a Aeronáutica, que são o foco do esforço de modernização da China. O IISS é sediado em Londres, no Reino Unido. O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959.
O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país. As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos.
Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo. Antes da publicação do Balanço Militar (na última terça-feira), eu me reuni com pesquisadores do IISS para entender melhor os detalhes desta tendência.
O progresso técnico acumulado pela China é impressionante em várias áreas - desde mísseis balísticos de longo alcance até caças militares de quinta geração. No ano passado, por exemplo, a China colocou na água seu último navio de combate - o cruzador Type 55.
O poder de fogo da embarcação não fica aquém de nenhum equipamento da OTAN, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos. Neste momento, a China está trabalhando em um segundo navio porta-aviões (o primeiro, construído totalmente pelo país, foi lançado em abril de 2017).
Também está reformando a estrutura hierárquica do comando de suas forças. E, em termos de artilharia e defesa anti-aérea, já possui alguns armamentos mais avançados que os controlados pelos Estados Unidos.
Desde o fim dos anos 1990, a Marinha chinesa passou a receber transferências de tecnologia russa, e renovou a maior parte de sua frota de navios e submarinos. Os chineses também dizem que seu novo jato de combate para um tripulante, o J-20, já está em operação.
No jargão militar, o J-20 é o que se chama "jato de quinta geração". Significa que a aeronave traz a tecnologia "stealth" (parcialmente invisível a radares) e quebra a barreira do som quando está em velocidade de supercruzeiro (supersônica), entre outras coisas.
Os especialistas da IISS, porém, são céticos quanto às capacidades da Aeronáutica chinesa. "A Força Aérea chinesa ainda precisa desenvolver táticas viáveis para operar com estes aviões de quinta-geração", dizem eles, "e criar doutrinas militares capazes de mesclar os novos jatos de combate com os modelos de 'quarta geração' já existentes". "Apesar disso, o progresso chinês é muito claro", dizem os especialistas do IISS. "Além dos aviões em si, eles agora têm toda uma linha de mísseis disparados por aviões que não devem nada aos que existem nos arsenais do Ocidente", dizem.
E esta constatação é especialmente verdadeira para a Marinha e a Aeronáutica, que são o foco do esforço de modernização da China. O IISS é sediado em Londres, no Reino Unido. O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959.
O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país. As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos.
Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo. Antes da publicação do Balanço Militar (na última terça-feira), eu me reuni com pesquisadores do IISS para entender melhor os detalhes desta tendência.
O progresso técnico acumulado pela China é impressionante em várias áreas - desde mísseis balísticos de longo alcance até caças militares de quinta geração. No ano passado, por exemplo, a China colocou na água seu último navio de combate - o cruzador Type 55.
O poder de fogo da embarcação não fica aquém de nenhum equipamento da OTAN, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos. Neste momento, a China está trabalhando em um segundo navio porta-aviões (o primeiro, construído totalmente pelo país, foi lançado em abril de 2017).
Também está reformando a estrutura hierárquica do comando de suas forças. E, em termos de artilharia e defesa anti-aérea, já possui alguns armamentos mais avançados que os controlados pelos Estados Unidos.
Desde o fim dos anos 1990, a Marinha chinesa passou a receber transferências de tecnologia russa, e renovou a maior parte de sua frota de navios e submarinos. Os chineses também dizem que seu novo jato de combate para um tripulante, o J-20, já está em operação.
No jargão militar, o J-20 é o que se chama "jato de quinta geração". Significa que a aeronave traz a tecnologia "stealth" (parcialmente invisível a radares) e quebra a barreira do som quando está em velocidade de supercruzeiro (supersônica), entre outras coisas.
Os especialistas da IISS, porém, são céticos quanto às capacidades da Aeronáutica chinesa. "A Força Aérea chinesa ainda precisa desenvolver táticas viáveis para operar com estes aviões de quinta-geração", dizem eles, "e criar doutrinas militares capazes de mesclar os novos jatos de combate com os modelos de 'quarta geração' já existentes". "Apesar disso, o progresso chinês é muito claro", dizem os especialistas do IISS. "Além dos aviões em si, eles agora têm toda uma linha de mísseis disparados por aviões que não devem nada aos que existem nos arsenais do Ocidente", dizem.
Empurrar a guerra para o Pacífico
A edição deste ano do Balanço Militar dedica um capítulo inteiro aos desenvolvimentos no armamento aéreo de Rússia e China - segundo a publicação, um dos principais desafios ao domínio ocidental.
Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados usaram ataques aéreos em várias ocasiões, com um número muito pequeno de baixas. Mas esse domínio, segundo o IISS, será desafiado cada vez mais nos próximos anos.
A China está desenvolvendo uma linha de mísseis de longo alcance disparados por jatos contra outros aviões (no jargão, esses projetos são chamados de "míssil ar-ar"). O alvo dessas armas são aeronaves de comando e de abastecimento que hoje estão fora de alcance. Estas últimas são peças-chave - ainda que muito vulneráveis - de qualquer ataque aéreo.
De acordo com os autores do Balanço Militar, é possível que estes novos mísseis chineses ar-ar "forcem os Estados Unidos e seus aliados regionais a rever não só suas táticas, técnicas e procedimentos, mas o próprio direcionamento de seus programas de combate aeroespacial" nos próximos anos.
Já em terra, o Exército chinês está ficando para trás no esforço de modernização, segundo o relatório do IISS. Apenas metade dos equipamentos estaria atualizada e teria utilidade para o combate, diz o estudo. Mas, mesmo nesta área, há progresso sendo feito.
A China tem um objetivo estratégico claro por trás do desenvolvimento dos novos armamentos. A ideia é que, na eventualidade de um conflito armado, o poder militar dos Estados Unidos seja empurrado o mais longe possível das fronteiras chinesas.
De preferência, para o meio do Oceano Pacífico. No jargão militar, a estratégia é conhecida como "defesa de território por negativa de acesso", ou A2AD, na sigla em inglês. A estratégia está por trás da escolha chinesa de armas aéreas e marítimas de longo alcance, capazes de colocar em risco destacamentos inteiros da Marinha dos Estados Unidos.
Então, em uma analogia com o futebol, como adversária militar, pode-se dizer que a China chegou com êxito à Premier League (divisão de elite do Campeonato Inglês). Mas esse, porém, não é o fim do impacto militar global de Pequim. O país também está perseguindo uma estratégia ambiciosa de exportação de armamentos. Com frequência, a China tem tentado vender tecnologias avançadas para outros países.
Guerra comercial
O mercado de drones militares é um bom exemplo. Esta é uma tecnologia que está se expandindo rapidamente e que põe em questão a fronteira entre os tempos de paz e de guerra.
Os Estados Unidos, que foram pioneiros na área, recusaram-se a vender certos drones armados mais sofisticados para outros países, com exceção de aliados tradicionais, como o Reino Unido.
A França, que já opera com drones Reaper, de origem americana, anunciou planos para armar os equipamentos. Já os chineses nunca tiveram limitações parecidas: exibiram em feiras militares do mundo todo seus veículos aéreos não-tripulados, junto com os armamentos que eles podem carregar.
Segundo o relatório do IISS, a China já vendeu estes drones (chamados de UAVs, na sigla em inglês) para vários países, incluindo Egito, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Miamar, entre outros.
Este é um ótimo exemplo de como uma política para a área militar trouxe resultados imprevistos: a relutância de Washington em vender tecnologia deixou o caminho aberto para Pequim.
É inegável também que a decisão política dos Estados Unidos acabou estimulando países que, até então, só usavam drones para fins de inteligência, a irem atrás da variante de combate.
Exportadores de armas dos Estados Unidos e do resto do Ocidente veem a China como uma ameaça comercial crescente. Na comparação com o cenário de dez anos atrás, houve um aumento importante da presença chinesa no mercado, oferecendo equipamentos de boa qualidade.
O país do extremo Oriente, como mostra o exemplo dos drones, está tentando entrar em mercados que os fabricantes ocidentais e seus governos consideram "sensíveis demais". E, como me disseram os especialistas do IISS, a China tende a levar vantagem nesta disputa.
Geralmente, o armamento chinês oferece algo como 75% da capacidade do concorrente ocidental, mas por 50% do preço. Uma bela oferta. Já as exportações de armamentos de solo chinesas são menos impressionantes. Continuam restritas aos mercados de países como a Rússia e a Ucrânia.
Mas em 2014, quando o governo ucraniano perdeu o prazo de entrega de uma remessa de tanques comprados pela Tailândia, os tailandeses recorreram a um armamento chinês - o Carro de Combate VT4. E parecem ter gostado: no ano passado, a Tailândia encomendou uma nova remessa.
Os especialistas do IISS também dizem que a China está trabalhando em armas voltadas para mercados específicos - mencionam, por exemplo, um tanque de guerra leve pensado para países africanos, cujas estradas e infraestrutura não aguentam os modelos mais pesados desenvolvidos em outros países.
Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados usaram ataques aéreos em várias ocasiões, com um número muito pequeno de baixas. Mas esse domínio, segundo o IISS, será desafiado cada vez mais nos próximos anos.
A China está desenvolvendo uma linha de mísseis de longo alcance disparados por jatos contra outros aviões (no jargão, esses projetos são chamados de "míssil ar-ar"). O alvo dessas armas são aeronaves de comando e de abastecimento que hoje estão fora de alcance. Estas últimas são peças-chave - ainda que muito vulneráveis - de qualquer ataque aéreo.
De acordo com os autores do Balanço Militar, é possível que estes novos mísseis chineses ar-ar "forcem os Estados Unidos e seus aliados regionais a rever não só suas táticas, técnicas e procedimentos, mas o próprio direcionamento de seus programas de combate aeroespacial" nos próximos anos.
Já em terra, o Exército chinês está ficando para trás no esforço de modernização, segundo o relatório do IISS. Apenas metade dos equipamentos estaria atualizada e teria utilidade para o combate, diz o estudo. Mas, mesmo nesta área, há progresso sendo feito.
A China tem um objetivo estratégico claro por trás do desenvolvimento dos novos armamentos. A ideia é que, na eventualidade de um conflito armado, o poder militar dos Estados Unidos seja empurrado o mais longe possível das fronteiras chinesas.
De preferência, para o meio do Oceano Pacífico. No jargão militar, a estratégia é conhecida como "defesa de território por negativa de acesso", ou A2AD, na sigla em inglês. A estratégia está por trás da escolha chinesa de armas aéreas e marítimas de longo alcance, capazes de colocar em risco destacamentos inteiros da Marinha dos Estados Unidos.
Então, em uma analogia com o futebol, como adversária militar, pode-se dizer que a China chegou com êxito à Premier League (divisão de elite do Campeonato Inglês). Mas esse, porém, não é o fim do impacto militar global de Pequim. O país também está perseguindo uma estratégia ambiciosa de exportação de armamentos. Com frequência, a China tem tentado vender tecnologias avançadas para outros países.
Guerra comercial
O mercado de drones militares é um bom exemplo. Esta é uma tecnologia que está se expandindo rapidamente e que põe em questão a fronteira entre os tempos de paz e de guerra.
Os Estados Unidos, que foram pioneiros na área, recusaram-se a vender certos drones armados mais sofisticados para outros países, com exceção de aliados tradicionais, como o Reino Unido.
A França, que já opera com drones Reaper, de origem americana, anunciou planos para armar os equipamentos. Já os chineses nunca tiveram limitações parecidas: exibiram em feiras militares do mundo todo seus veículos aéreos não-tripulados, junto com os armamentos que eles podem carregar.
Segundo o relatório do IISS, a China já vendeu estes drones (chamados de UAVs, na sigla em inglês) para vários países, incluindo Egito, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Miamar, entre outros.
Este é um ótimo exemplo de como uma política para a área militar trouxe resultados imprevistos: a relutância de Washington em vender tecnologia deixou o caminho aberto para Pequim.
É inegável também que a decisão política dos Estados Unidos acabou estimulando países que, até então, só usavam drones para fins de inteligência, a irem atrás da variante de combate.
Exportadores de armas dos Estados Unidos e do resto do Ocidente veem a China como uma ameaça comercial crescente. Na comparação com o cenário de dez anos atrás, houve um aumento importante da presença chinesa no mercado, oferecendo equipamentos de boa qualidade.
O país do extremo Oriente, como mostra o exemplo dos drones, está tentando entrar em mercados que os fabricantes ocidentais e seus governos consideram "sensíveis demais". E, como me disseram os especialistas do IISS, a China tende a levar vantagem nesta disputa.
Geralmente, o armamento chinês oferece algo como 75% da capacidade do concorrente ocidental, mas por 50% do preço. Uma bela oferta. Já as exportações de armamentos de solo chinesas são menos impressionantes. Continuam restritas aos mercados de países como a Rússia e a Ucrânia.
Mas em 2014, quando o governo ucraniano perdeu o prazo de entrega de uma remessa de tanques comprados pela Tailândia, os tailandeses recorreram a um armamento chinês - o Carro de Combate VT4. E parecem ter gostado: no ano passado, a Tailândia encomendou uma nova remessa.
Os especialistas do IISS também dizem que a China está trabalhando em armas voltadas para mercados específicos - mencionam, por exemplo, um tanque de guerra leve pensado para países africanos, cujas estradas e infraestrutura não aguentam os modelos mais pesados desenvolvidos em outros países.
Armas da China em mãos de terceiros
O papel crescente da China como fonte de armamento sofisticado é algo que aterroriza vários países e não só os vizinhos do gigante asiático. As forças aéreas ocidentais tiveram cerca de três décadas de superioridade.
Mas a estratégia de "negativa de acesso" dos chineses acabou dando origem a armas que podem ser usadas para a mesma finalidade por outros países também. Um país da Europa Ocidental pode nunca enfrentar um conflito com a China, mas pode um dia ter de lidar com armas chineses nas mãos de outros países.
Como diz um pesquisador do IISS, "a percepção de que os riscos serão baixos ao intervir num território estrangeiro agora precisa ser revista", diz.
Mas a estratégia de "negativa de acesso" dos chineses acabou dando origem a armas que podem ser usadas para a mesma finalidade por outros países também. Um país da Europa Ocidental pode nunca enfrentar um conflito com a China, mas pode um dia ter de lidar com armas chineses nas mãos de outros países.
Como diz um pesquisador do IISS, "a percepção de que os riscos serão baixos ao intervir num território estrangeiro agora precisa ser revista", diz.
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