Revolução 1917 - A Dissolução do Exército Russo 1917





A dissolução do Exército Imperial Russo em 1917 permaneceu um mistério durante muito tempo para os militares e estudiosos da História. Muito difícil explicar como uma poderosa força, que era o Exército Russo em 1917, de forma repentina entrar em colapso e se desagregar voltando para a Pátria, completamente abatido e derrotado.

O que aconteceu com o Exército Russo pode ser atribuído, em parte, pelas condições da política interna do país. Os Russos tanto civis como militares, haviam perdido o espírito de luta. O colapso da tradicional disciplina russa foi o resultado de muitos fatores, podendo-se, entre eles destacar o cansaço da guerra e as condições precárias de trabalho existentes no país, influenciando no descontentamento da tropa.

Desde o início da Grande Guerra (1914/1918), o Exército Russo evidenciou falhas gritantes na sua organização. As tropas em contato com o inimigo estavam com a logística comprometida, pois os suprimentos vitais para o combate eram fornecidos de forma precária e com a continuidade do conflito só pioraram. Em fevereiro de 1917 a Rússia convocou mais  de 19 milhões de homens para suas fileiras. No entanto, não havia nem a metade dos fuzis necessários para serem distribuídos a tropa.

Outro fator que afetava o combatente era o baixo nível de educação do camponês russo convocado, tornando-o presa fácil da propaganda bolchevista. A média de alfabetizados era de aproximadamente 39%, índice que não conferia ao soldado médio julgar os fatos com equilíbrio e isenção necessários.

A combatividade russa foi muito prejudicada pela falta de munição, particularmente granadas de artilharia, pois a fabricação do material bélico necessário para atender o conflito não era correspondido pela incapacidade da indústria russa. A cadeia logística era deficiente e não atendia, com oportunidade, a tropa.

Certamente, a falta de munição e a logística mal conduzida foram dois fatores que contribuíram para enfraquecer a vontade de lutar do soldado russo. Com a “crise de suprimento”, o combatente sentiu-se esquecido sentindo que seu sacrifício pela Pátria não valia a pena. E isto estava de acordo com o que os propagandistas comunistas lhe diziam, insuflando o desanimo no pessoal que estava em contato com o inimigo.

No que se refere a Oficialidade de carreira, pertencentes à tradicional Guarda Imperial eram sustentáculos da Força, até que fossem feridos e mortos em combate. O mesmo não acontecia com os Oficiais convocados, muito dos quais oriundos da classe média, deixavam bastante a desejar sua atuação no conflito, faltando-lhe o espírito militar, principalmente a combatividade. Assim é que foram assinalados numerosos casos de se entregarem como prisioneiros de guerra. A Arma de Infantaria incorporou nas suas fileiras grande parte dos rudes camponeses, perdendo seu valor combativo e moral muito mais depressa do que o restante do Exército. Isto, porque, os infantes russos eram menos instruídos do que as unidades de Cavalaria, Artilharia e Elementos Motorizados.

As Armas mais técnicas necessitavam de um número elevado de oficiais e praças instruídos. Os cavalos, canhões e viaturas funcionavam como um freio contra a rebelião, assim também os equipamentos que exigiam cuidados. A atenção da tropa com as atividades acima assinaladas imprimiam um cunho de disciplina imposto pela rotina diária dos soldados quer na frente de combate, quer nos quartéis. Entre fevereiro e outubro de 1917 a desintegração do Exército alastrou-se como uma epidemia. Massas de infantes oriundos dos campos escutavam falar frequentemente de “terras livres” (propaganda e ação bolchevistas) e sobre a distribuição de propriedades no interior da Rússia e, com essa notícia, desertavam em grande número(propaganda e ação bolchevistas).



Tropas desfilam em formação. Porém a pobre logística e falhas no comando serviram para a desmotivação e revoltas.


Os soldados procedentes das “áreas industrializadas” também ficaram “contaminados” perigosamente, do contagiante desejo de regressarem às suas fabricas e partilharem do “espólio“ (propaganda e ação bolchevistas). “Em perfeita sintonia com a rebelião no Exército Russo havia a revoltan dos camponeses” que começavam a tomar as propriedades dos “donos da terra”. Como já vimos a massa do Exército Russo era recrutada entre os camponeses e, desta forma, é fácil compreender a afinidade entre o camponês e o soldado.

Interessante observar que a maior parte dos descontentamentos não se iniciou nas frentes de combate, mas sim nas grandes guarnições como Petrogrado e Moscou. Lá se encontravam as tropas melhor alimentadas e melhor alojadas, a salvo das agruras da linha de frente. Os combatentes em contato aceitaram, com entusiasmo, a conquista do poder pelas tropas daquelas guarnições na retaguarda, já bastante inoculadas com a (propaganda e ação bolchevistas).

As constantes derrotas do Exército no “front” aumentavam a convicção de uma guerra perdida. O desastre se completaria pela existência de uma barreira entre oficiais e praças os segundos acusando os primeiros de serem uma relíquia do escravagismo feudal. Desta forma iniciou-se a enfermidade que levaria a morte o Exército Imperial Russo.

Considerando o ambiente criado no “Front”, quando o soldado passou a não confiar nos seus oficiais e a não obedecer as suas ordens, verificou-se o desaparecimento da disciplina e da hierarquia no Exército. Ele morreu.

O documento base da Revolução Russa orientando todas as medidas que deveriam ser tomadas contra o Exército Russo foi a famosa “ORDEM GERAL Nº 01”, baixada pela reunião partidária dos operários e destinava-se, supostamente, a todas as Forças Armadas. 

O espírito geral da ORDEM era lançar a suspeita sobre os oficiais, como uma classe, com o propósito de dissociar a tropa entre oficiais e as praças. Essa ORDEM teve maior influência sobre a desintegração do Exército Russo do que qualquer outro ato das Comissões Revolucionárias. 

Quando a “ORDEM GERAL Nº 01”, foi publicada aumentou, de forma considerável, a propaganda do Partido entre os soldados. Todavia, o artigo que retirava dos oficiais, entre outras medidas severas, o controle do armamento, dificilmente poderia se harmonizar de alguma forma, com eficiência militar quebrando a hierarquia e a disciplina, dando causa, também a uma rápida desintegração do poderio do Exército Russo. 

O desarmamento e o assassinato a sangue frio dos oficiais que estavam apenas procurando cumprir os seus deveres levando a Guerra adiante tornou-se uma ocorrência comum. Os soldados Russos na sua ignorância, oriundos do campo, jogavam toda a culpa de sua situação sobre o oficial que representava para ele a classe odiada (propaganda e ação bolchevistas). A sempre aconselhada técnica do BOATO foi usada pelos bolchevistas com considerável sucesso.



Tropas marcham para o combate.


A diminuição do efetivo do Exército Russo em Campanha é um atestado seguro da “febre de deserção” que nele se alastrou em 1917. Entre 1º de junho e 1º de setembro daquele ano o efetivo diminuiu de 6,9 milhões para 6 milhões. Essa diferença de quase um milhão pode ser atribuída a deserção, principalmente após a abdicação de Nicolau II, seguida da destruição de seu regime e a publicação da ORDEM GERAL Nº 01.

Um governo revolucionário tentando dar continuidade a uma guerra herdada do regime por ele deposto tinha a difícil missão de lutar contra o inimigo externo e de se esforçar para impedir a sucessão de rebeliões internas. Essa era a posição do Governo Provisório após a abdicação de Nicolau II. Quando as “ameaças de morte” ou de “exílio para a Sibéria” falharam em deter a desintegração do Exército, o Governo revolucionário voltou-se para a Psicologia.

Tentou-se a formação de “Tropas de Choque Especiais” que iriam liderar todos os ataques, servindo de exemplo para os infantes desanimados. Essas tropas deveriam ter o “espírito militar” e o “arrojo” em alto grau a fim de conseguir conquistar o objetivo colimado. Todavia, elas não puderam cumprir sua missão. A “Honra e a Glória” já haviam se perdido na lama e no sangue nas trincheiras russas. É preciso assinalar que na Revolução Russa foram organizados os “BATALHÕES DE MULHERES”, treinados e comandados por seus próprios oficiais prestaram relevantes serviços combatendo na frente ocidental, mas infelizmente na convulsão interna o efeito foi inexpressivo. O próprio Estado-Maior Imperial já não tinha mais nenhuma confiança na capacidade do Exército em continuar o conflito, após a divulgação da ORDEM GERAL Nº 01. Assim, a desintegração prosseguiu uma vez perdida a disciplina e a hierarquia nada poderia deter o seu curso.

Alexandre Kerensky (Ministro da Guerra do Governo Provisório) não encontrava chefes militares que tivessem forte liderança para conduzir as operações com firmeza, competência e determinação. Os homens não seguem seus comandantes a não ser que neles confiem, e o próprio Kerensky havia destruído qualquer resquício de confiança entre oficiais e soldados ao permitir a publicação da ORDEM GERAL Nº 01. 

A desintegração final do Exército Russo poderia ter sido evitada pelo famoso General Kornilov, um comandante valoroso que propôs a implantação de um Governo Militar e a restauração das disciplinas perdidas. De início, Kerensky apoiou a ideia do General Kornilov, mas em seguida mudou de ideia e prendeu o General. Os bolcheviques com essa desavença se apoderaram do governo em seguida e o desastre foi completo. O governo provisório tinha se tornado o herdeiro aparente do deposto regime czarista e como consequência viu-se obrigado a continuar a Guerra.

Apesar da pobreza de suprimentos e de equipamentos o Exército Russo ainda era capaz de infligir sérios danos ao inimigo se pudesse ter empreendido uma ação ofensiva coordenada contra as forças austríacas e alemãs, contra as quais combatia. Todavia, acelerado pela propaganda e pelos efeitos da ORDEM GERAL Nº 01, o Exército Russo marchou rapidamente para o ocaso.
Com tristeza e seus tambores emudecidos, eles se entregaram, irremediavelmente à sua sorte e ao trágico destino da Nação Russa.

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