Trump diz que "paciência estratégica" com Coreia do Norte chegou ao fim



Presidente dos EUA recebe líder sul-coreano na Casa Branca em diálogo que teve Pyongyang como tema central. Apesar de defenderem abordagens diferentes para tratar a questão, eles prometem resposta firme à ameaça nuclear.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (30/06) que "a era da paciência estratégica" com a Coreia do Norte chegou ao fim. A declaração foi feita ao lado do novo presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante visita oficial à Casa Branca.
Enquanto Moon defende uma abordagem diplomática com o governo em Pyongyang como a melhor forma de convencê-lo a desistir de seu programa nuclear, o líder americano deixou claro que não está disposto a negociar com um regime que, segundo ele, é "temerário e brutal".
"A ditadura norte-coreana não tem consideração pela segurança de seu povo e dos vizinhos, e não tem respeito pela vida humana", acusou Trump, lembrando a morte do jovem americano Otto Warmbier, de 22 anos, em 19 de junho passado. Após 17 meses preso na Coreia do Norte, Warmbier foi devolvido aos EUA em coma, mas acabou morrendo seis dias depois.
"Estamos trabalhando em conjunto com a Coreia do Sul e o Japão numa série de medidas diplomáticas, econômicas e de segurança para proteger nossos aliados e nossos cidadãos dessa ameaça conhecida como Coreia do Norte", completou o presidente americano.
Sobre o programa nuclear norte-coreano, Trump disse que a questão exige uma "resposta determinada" e defendeu que intensificar as sanções é a melhor forma de agir.
"Os EUA convidam outras potências regionais e nações responsáveis para se juntarem a nós na implementação das sanções e para exigir que o regime norte-coreano escolha um caminho melhor – e o faça rapidamente – e um futuro diferente para seus cidadãos, que sofrem há muito tempo", disse.
Moon, por sua vez, reiterou que a ameaça do país vizinho é "o desafio mais grave" enfrentado pelos governos sul-coreano e americano, e prometeu uma "resposta severa" às provocações de Pyongyang.
"A Coreia do Norte não deveria, em nenhum momento, subestimar o firme compromisso da Coreia do Sul e dos Estados Unidos em relação à questão", destacou o presidente do país asiático.
As falas foram proferidas em coletiva de imprensa na Casa Branca após uma reunião entre os dois líderes. Apesar das promessas, agências de notícias internacionais afirmam que eles falharam em elaborar uma estratégia conjunta sobre como lidar com a ameaça representada por Pyongyang.
Durante a coletiva, Moon afirmou que Trump aceitou "muito amavelmente" seu convite de uma visita a Seul ainda neste ano. Apesar de ainda não ter tido uma data confirmada, o encontro pode ocorrer em novembro, quando o líder republicano tem viagens marcadas ao Vietnã e Filipinas.
Os Estados Unidos mantêm mais de 28 mil soldados na Coreia do Sul com intuito de defender o país de seu vizinho comunista. Nos últimos meses, a Coreia do Norte tem intensificado seus testes de mísseis, tendo realizado ao mesmo cinco ao longo das últimas semanas.
O progressista Moon foi eleito em maio após o impeachment da presidente Park Geun-hye, envolvida num escândalo de corrupção. Sua vitória deu fim a quase uma década de governo conservador em Seul. Uma dos temas centrais de sua campanha era justamente uma abordagem mais conciliatória em relação à Coreia do Norte, diante do crescimento das tensões na península.
Estudos desmistificam perfil do eleitor de Trump


A narrativa corrente para explicar a rápida ascensão de Donald Trump, das primárias do Partido Republicano à inesperada vitória na eleição presidencial americana, é algo assim: o impetuoso magnata conseguiu despertar e politizar uma base operária adormecida, atraída por seu estilo pouco ortodoxo e alguns temas-chave.
Esses empolgados eleitores da classe trabalhadora, segundo a teoria popular, evoluíram para uma massa – primeiramente em seus comícios e depois nas cabines eleitorais, assegurando a Trump uma vitória sobre a democrata Hillary Clinton.
A narrativa soa atraente, mas tem um problema: não é exata. Segundo dois estudos recentes, os eleitores de Trump, na verdade, correspondem mais ao eleitorado padrão republicano, no qual a classe operária americana desempenha um papel – mas não uma importância como muitas vezes lhe é atribuída na vitória eleitoral do atual presidente.
"Com esses dados, não há nenhuma razão para pensar que a sua base era composta, na maior parte ou mesmo perto disso, por pessoas da classe trabalhadora", afirma Noam Lupu, cientista político da Universidade Vanderbilt, que analisou os últimos resultados do estudo da "American National Election", principal pesquisa em nível acadêmico sobre eleitores nos EUA.
O que Lupu e sua colega encontraram quando começaram a olhar em quem votou em Trump foi um padrão republicano bastante tradicional. Segundo a pesquisa, aproximadamente um terço do eleitorado de Trump possuía renda familiar abaixo da média americana, um terço ganhava entre 50 mil e 100 mil dólares; e o terço restante, mais de 100 mil dólares.
Dado que as profissões dos entrevistados, tradicionalmente um bom indicador de status social, não aparecem geralmente em estudos americanos, os pesquisadores tiveram que confiar nos dados salariais para definir critérios que correspondem à classe trabalhadora. Assim, as pessoas que ganhavam abaixo da renda familiar média foram consideradas eleitores da camada operária para fins de pesquisa.
"As pessoas ficaram surpresas com os dados", explica Lupu. "O eleitorado de Trump é muito parecido, demograficamente, a uma base republicana padrão."
Segundo o pesquisador, isso também é apoiado pelas recentes metas políticas de Donald Trump e congressistas republicanos, eliminando o seguro-saúde implementado por Barack Obama e implementando uma reforma tributária – ambas tradicionais ideias republicanas, mas não necessariamente defendidas pela classe trabalhadora.
Não existe um típico eleitor
Os pesquisadores também descobriram que Hillary Clinton recebeu mais votos da classe operária americana que Trump, um resultado que mostra novamente que as intenções de votos da classe trabalhadora pendem para o lado democrata.
Emily Ekins, diretor no Instituto Cato, ligado ao Partido Libertário, também observa isso no eleitorado de Trump, com base em dados do grupo de estudos "Democracy Fund's Voter". A pesquisa de Ekins mostra, da mesma forma, que a classe trabalhadora americana responde apenas por um de cinco segmentos diferentes que formam a base eleitoral de Trump.
"Não existe tal coisa como um típico eleitor de Trump que votou nele por uma só razão", explica Emily Ekins. "Dos cinco grupos, aquele que se encaixa na média do estereótipo de eleitor de Trump é aquele que chamo de americano preservacionista [American Preservationist]."
Essa é a tão mencionada classe trabalhadora americana que está profundamente preocupada com a imigração e minorias raciais, mas se comporta de forma economicamente progressiva e apoia o aumento de impostos sobre a riqueza, como também grandes programas governamentais como o Medicare [programa de saúde destinado a pessoas mais velhas].
Enquanto os preservacionistas americanos respondem pela mais estridente – e mais incomum – fatia da população que apoia Trump, eles compõem somente 20% do eleitorado do presidente.
O seu oposto, rotulado de "defensores do livre-mercado" (free marketeers), responde por 25% do eleitorado de Trump, enquanto os conservadores convictos (staunch conservative) são 31%. Ambos os grupos apoiaram Trump com menos entusiasmo; especialmente o primeiro, que votou explicitamente contra Hillary, aponta a pesquisadora.
Comícios podem ser enganosos
Ainda assim, no final, ambos os grupos – tradicionalmente um número maior de leais republicanos do que de americanos preservacionistas, um quinto dos quais votou em Barack Obama em 2012 – escolheram o candidato republicano.
Isso é importante, porque sem o apoio dos republicanos tradicionais – e apesar do feroz apoio de eleitores da classe trabalhadora – Trump não teria sido capaz de ganhar a eleição. As pesquisas de Lupu e Ekins sobre o eleitorado têm várias implicações para o público, mídia e os políticos.
Confiar nas pessoas que apareceram e gritaram mais alto em eventos eleitorais pode não ser um indicador confiável do eleitorado de um candidato, explica Lupu, fazendo alusão a jornalistas que tendem a dar destaque aos participantes de comícios em suas reportagens.
"Acho que nesse caso em particular isso pode ser enganoso", afirmou. "Um monte de eleitores-padrão da base republicana não estava provavelmente animados com Donald Trump, não aparecendo assim em seus comícios, mas mesmo assim votaram nele. Quem participa de comícios não é uma base muito representativa do eleitorado."
Lupu também advertiu contra o que considera a tipificação habitual dos eleitores da classe trabalhadora como atores irracionais que votam contra os seus interesses econômicos, já que votam nos republicanos.
"Há um elemento de estereotipificação e condescendência frente a pessoas da classe operária, de forma que a ideia de que foram enganados por Donald Trump e por seu populismo alimentou o mito que de certa maneira já existia", opina.
Para Ekins, um dado-chave que pode se levar de sua pesquisa é a enorme diversidade da base republicana. "É muito mais diversificada do que as pessoas imaginam."

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