(2012) Porta-aviões americano realiza uma manobra conjunta com a Coreia do Sul no Mar Amarelo
O compromisso militar dos Estados Unidos na Ásia ficará sob risco se Donald Trump cumprir sua ameaça de retirar as tropas do Japão e da Coreia do Sul, no momento em que a China avança na região e a Coreia do Norte aumenta suas provocações.
Durante a campanha eleitoral, o futuro presidente republicano disse que poderia retirar os soldados americanos do sul da península coreana e do arquipélago nipônico se os dois países não aumentassem significativamente sua contribuição financeira.
Tampouco hesitou em dar a entender que preferia que ambos os países tivessem suas próprias armas nucleares, algo que logo negou.
As declarações de Trump colocam em dúvida as alianças com os Estados Unidos vigentes desde a Segunda Guerra Mundial, assim como o "guarda-chuva nuclear" com o qual Washington se compromete a proteger esses países em troca da permissão de instalar bases militares em seus territórios.
"Sem dúvida, o debate sobre a possível nuclearização desses países voltará à mesa", explica Céline Pajon, uma especialista sobre o Japão do Institut Français des Relations Internationales (IFRI).
Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, estará na quinta-feira em Nova York e será um dos primeiros líderes a se reunir com Trump antes que ele assuma oficialmente suas funções em janeiro.
"Isso demonstra a urgência do Japão para tratar questões estratégicas e a necessidade de esclarecer as coisas o mais rápido possível", explica Valérie Niquet, responsável da Ásia na Fondation pour la Recherche Stratégique (FRS).
Abe prometeu na segunda-feira ao Parlamento "discussões sinceras sobre vários temas, incluindo a segurança".
Durante a campanha, Trump disse que o Japão tinha que aumentar sua contribuição econômica para manter os 47.000 soldados americanos em seu território.
Nos anos de 2015 e 2016 sua manutenção custou 190 bilhões de ienes (1,6 bilhões de euros), segundo cifras do governo japonês. Os gastos indiretos - que incluem indenizações aos vizinhos das bases - custaram 3,5 bilhões de euros.
Na semana passada, a ministra de Defesa, Tomomi Inada, assegurou que o Japão já paga o "suficiente". Também estão previstas reuniões com a Coreia do Sul, que esta semana enviará a Washington altos responsáveis das Relações Exteriores.
Nota DefesaNet
O Sr Donald Trump receberá o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, na quinta-feira (17NOV2016). Será o primeiro mandatário a ser recebido pelo novo presidente eleito dos Estados Unidos. Durante a campanha os Sr Trump fez as seguintes declarações sobre as relações Estados Unidos e Japão::
"If somebody attacks Japan, we have to immediately go and start World War III, okay? If we get attacked, Japan doesn't have to help us. Somehow, that doesn't sound so fair." – Donald Trump, Dec. 30, 2015, Hilton Head, South Carolina
"You're going to have to ask yourself, at what point and at what cost do we continue to protect Japan, Germany and many other countries. They're not paying for the protection anywhere near what it's costing us." – Donald Trump, Face The Nation, CBS News, April 3, 2016
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"Vazio estratégico"
"O grande risco de Trump é o vazio estratégico na Ásia", que levaria a China a "se sentir autorizada a aproveitá-lo", explica Niquet.
Céline Pajon acredita que essas incertezas legitimam o projeto de Shinzo Abe de "revisar" a Constituição pacifista e, assim, reforçar o papel do exército.
Se finalmente o Japão decidir ter armas nucleares, "suporia-se uma recomposição total" do equilíbrio regional com "consequências dramáticas" para a estabilidade, indica Valérie Niquet.
Mas segundo Takashi Kawakami, responsável do Instituto de Estudos Mundiais da Universidade de Takushoku em Tóquio, a oposição da população seria difícil de superar em um país que sofreu os ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki.
Além disso, segundo Mark Fitzpatrick, diretor para as Américas do International Institute for Strategic Studies (IISS), "o desenvolvimento de armas nucleares no Japão e na Coreia do Norte enfraqueceria o TNP (tratado de não-proliferação nuclear) e o não só no leste da Ásia".
Na Coreia do Sul, onde há 28.000 soldados americanos, o apoio às armas atômicas é minoritário, mas aumenta a cada vez que a Coreia do Norte realiza um teste nuclear.
"Não podemos pedir emprestado um guarda-chuva ao vizinho cada vez que chove, necessitamos um impermeável", disse em fevereiro Won Yoo-Cheol, líder no Parlamento do Saenuri, partido no poder.
Coreia do Sul adquire terrenos para sistema antimísseis THAAD¹
O governo da Coreia do Sul selou nesta quarta-feira um acordo para adquirir os terrenos que abrigarão o polêmico escudo antimísseis americano THAAD, destinado a proteger ao país contra um hipotético ataque da Coreia do Norte.
O executivo sul-coreano fechou o contrato com o conglomerado empresarial Lotte, que vai ceder os terrenos do Lotte Skyhill Country Clube, localizado a cerca de 300 quilômetros de Seul, em troca de uma parcela propriedade estatal perto da capital do país, afirmou à Agência Efe um porta-voz do Ministério da Defesa.
O THAAD, cuja implantação está previsto para 2017, ficará localizado nesta região relativamente isolada das áreas residenciais que atualmente abriga um campo de golfe e cujo valor estimado é de entre 100 e 150 bilhões de wons (cerca de 80 e 120 milhões de euros).
Após o acordo assinado hoje, acontecerá uma avaliação mais específica do valor dos terrenos para decidir se uma parte deve compensar a outra, afirmou o porta-voz.
Em um princípio, o THAAD seria instalado perto da base de Seongju, mas os moradores do condado protestaram, alegando que os radares do sistema poderiam causar doenças e prejudicar a agricultura local, além de colocá-los no centro das atenções caso haja um ataque da Coreia do Norte.
Após meses de negociações, o governo decidiu no final de setembro mudar a localização para o Lotte Skyhill Country Clube, que fica a uma altitude maior - 680 metros sobre o nível do mar, aproximadamente 300 a mais que a base antiaérea de Seongju - e mais isolado das áreas residenciais.
O THAAD procura garantir um sistema de defesa seguro para interceptar projéteis da Coreia do Norte como resposta aos progressos em armas nucleares e mísseis mostrados pelo regime de Kim Jong-un.
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