Apesar de derrotas, EI não está acabado, garantem analistas








Os reveses militares no Iraque e na Síria se acumulam, e vários de seus chefes morreram, mas o grupo Estado Islâmico (EI) ainda não está derrotado e conserva uma capacidade de recuperação que não deve ser subestimada - advertem analistas.
A organização extremista sofreu uma séria derrota no domingo (4), ao ser expulsa de suas últimas posições na fronteira turca na Síria. O autoproclamado "califado" se encontra mais isolado do que nunca do mundo exterior.
Essa derrota mostra o retrocesso geral do grupo, que precisa enfrentar muitos adversários poderosos: tropas sírias e iraquianas, combatentes curdos, forças turcas, bombardeios americanos e russos, assim como rebeldes sírios.
O EI perdeu um terço de seus territórios, conquistados em 2014: agora controla apenas 20% do Iraque e 35% da Síria, um total de 150.000 km2 habitados por 4,5 milhões de pessoas.
Isso contrasta com os 240.000 km2, onde viviam 8 milhões de habitantes no momento máximo de sua expansão em 2015, segundo o geógrafo francês Fabriche Balanche.
Fora do "califado", o EI está prestes a perder seu bastião líbio de Sirte.
A isso se soma o impacto em sua organização da série de assassinatos de seus líderes, em particular do comandante Omar al-Shishani e do estrategista e porta-voz Abu Mohamed al-Adnani.
"O EI sofre pressões crescentes que limitam muito suas capacidades para lutar, deslocar-se, financiar-se e continuar proclamando que seu califado avança", explica o pesquisador Charles Lister, do Middle East Institute.
"Mas conserva uma forte capacidade de adaptação" para realizar operações assimétricas, tendo como alvo particularmente os civis, descreve o analista, advertindo que "não se pode subestimá-lo".
'Consolidação'
A perda dos pontos-chave na fronteira sírio-turca afeta profundamente suas capacidades de transportar armas, mercadorias e combatentes. Mas o grupo parece ter-se preparado para isso.
"Os acessos do EI na fronteira foram claramente reduzidos já há um tempo" por operações turcas e curdas, ressalta o pesquisador Thomas Pierret, da Universidade de Edimburgo.
O EI usa redes de contrabando, em especial para o fornecimento de armas.
"Isso seria suficiente para possibilitar a sobrevivência do grupo como movimento insurgente, mas manter um proto-Estado nessas condiciones parece problemático", avalia Pierret.
O EI terá cada vez mais dificuldades para fazer chegar - passando pela Turquia - novos combatentes, em especial da Europa.
O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, anunciou nesta terça-feira (6) uma "clara diminuição" do número de extremistas franceses nas zonas de combate no primeiro semestre deste ano. O número foi de somente 18, bem inferior em comparação aos 69 nos seis primeiros meses de 2015.
Nesse contexto, perfila-se uma estratégia para o EI: a de "consolidar" o controle de seus bastiões urbanos ao mesmo tempo em que aumenta sus capacidades "para realizar frequentes ataques com bomba", considera Lister.
A organização ultrarradical ainda controla com mão de ferro suas "capitais" de Raqa, na Síria, e Mossul, no Iraque, embora se projetem operações para retomar essas cidades, em especial a iraquiana.
Mais ataques
Paralelamente, o EI aumenta os ataques, a maioria deles cometida por homens-bomba, em ambos os países. Nesta segunda-feira (5), o grupo deixou clara sua capacidade para golpear em pleno centro zonas controladas pelo governo sírio com um duplo atentado que deixou pelo menos 35 mortos em Tartus (oeste).
Os riscos de atentados continuam sendo extremamente elevados na Europa, como mostra o ataque realizado na última quarta-feira (31) contra policiais dinamarqueses em nome do EI por um traficante de drogas da Bósnia.
"A trajetória (da organização) é caracterizada por uma tendência geral de retrocesso de sua influência militar e por sua capacidade para preservar seus territórios, em paralelo a um avanço dos ataques terroristas contra alvos civis fora de suas próprias fronteiras", estima o pesquisador Charlie Winter, do Centro Internacional de Luta contra o Terrorismo de Haia.
Essa mudança é perceptível nos órgãos de propaganda relacionados com o EI, como a agência Amaq e os boletins , ressalta Aymenn Al Tamimi, especialista em movimientos extremistas no Middle East Forum.
"Constatamos um retrocesso da propaganda militar, como o anúncio da instalação de novas 'wilayas' (províncias) em países estrangeiros", afirmou.
Entretanto, completou, "se concentram nas reivindicações dos ataques".
Para Winter, o EI já não está em "seu apogeu militar, mas, em termos de influência, continua sendo objeto de uma grande preocupação".

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