No dia 28 de maio de 1987, o piloto amador alemão Mathias Rust, de 19 anos, driblou os esquemas de segurança dos países da Cortina de Ferro e aterrissou em plena Praça Vermelha, na capital soviética.
Após atravessar a Escócia, as ilhas
Shetland, as ilhas Faroe, Reiquiavique (Islândia), Bergen (Noruega),
Helsinque (Finlândia) e sobrevoar três vezes a Praça Vermelha, em
Moscou, um pequeno avião aterrissou a 30 metros da Muralha do Kremlin.
Do seu interior, desceu um rapaz de 1,86m de altura, usando um blusão
vermelho e óculos escuros.
O avião era um pequeno Cessna 172 e o
piloto chamava-se Mathias Rust, programador de computadores de 19 anos
de idade, natural da cidade de Wesel, perto de Hamburgo. A julgar pelos
900 quilômetros percorridos em território soviético, sem ser contido, e
descendo a poucos passos do gabinete de Gorbatchov, ninguém teve dúvidas
de que a ousada façanha foi muito bem planejada. Detido imediatamente,
foi mais tarde julgado e condenado a quatro anos de prisão.
Mais de 300 pessoas estavam na Praça
Vermelha quando o avião desceu, às 19h30min (horário local). Ninguém
podia acreditar no que estava vendo. Mathias desceu, disse ser alemão,
mas que vinha de Helsinque, e começou a assinar autógrafos. Os guardas
do Kremlin só intervieram mais tarde.
Os oficiais chegaram em limusines
pretas. Vários caminhões cercaram o local, a identificação da aeronave
foi apagada com tinta e o piloto, preso. Ao mesmo tempo, a opinião
pública mundial se surpreendia com a ousadia do jovem, que em plena
Guerra Fria havia desafiado o poderio soviético. Mais ainda,
questionava-se por que seu voo não havia sido interceptado.
Graves falhas na segurança
Como motivo, em princípio, Rust alegou
querer impressionar uma garota. Mais tarde, ao prestar depoimento,
alegou que "veio à União Soviética numa missão de paz, para conversar
com Mikhail Gorbatchov".
O presidente soviético aproveitou o
pretexto das falhas na segurança e afastou seu ministro da Defesa e
alguns generais do alto comando militar. No dia 3 de setembro de 1987,
Mathias Rust foi julgado por um tribunal soviético e condenado a quatro
anos de trabalhos forçados.
Após grandes esforços diplomáticos, o
rapaz acabou sendo libertado 14 meses mais tarde e deportado para a
Alemanha. De volta ao seu país, não passaram de ameaças as intenções das
autoridades locais de julgá-lo por ter ameaçado o espaço aéreo. A
família, por seu lado, enriqueceu com a venda da história a uma revista
alemã.
Dois anos mais tarde, Mathias Rust
voltou às manchetes. Em novembro de 1989, ele atacou com uma faca uma
estudante de enfermagem, porque ela não queria beijá-lo. Durante o
julgamento, os psicólogos concluíram que Rust possuía uma personalidade
complexa, incapaz de aceitar uma rejeição. Para ele, a aterrissagem em
Moscou teria sido o maior êxito de sua vida. Rust acabou condenado a
dois anos e meio de prisão.
Libertado em 1994, retornou no ano
seguinte a Moscou para visitar um centro de crianças. Depois de
trabalhar dois anos na capital russa como vendedor de sapatos, voltou à
Alemanha, enfrentando graves problemas financeiros. Em 2001, esteve mais
uma vez no banco dos réus. Aos 33 anos de idade, Mathias foi condenado
em Hamburgo a pagar multa de 10 mil marcos por ter roubado um blusão de
caxemira numa loja de departamentos. Ele recorreu da sentença, e no
final teve de pagar 600 marcos de multa.
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