O Estado Islâmico está mesmo perdendo território?




John Kerry, secretário de Estado americano, afirma que militantes estão sendo forçados a recuar na Síria e no Iraque pela coalização liderada pelos EUA.

Tanque do Exército iraquiano avança após entrar em conflito com militantes em Ramadi, no Iraque (Foto: AP Photo/Osama Sami)Tanque do Exército iraquiano avança após entrar em conflito com militantes em Ramadi, no Iraque (Foto: AP Photo/Osama Sami)
"Ganhamos mais território. Agora, o Estado Islâmico tem menos", disse o secretário de Estado americano John Kerry enquanto visitava Paris para fazer uma homenagem às 130 vítimas do ataque de militantes na cidade em novembro.
A campanha aérea contra o grupo autodenomido Estado Islâmico (EI) foi intensificada desde então. O envio do porta-aviões Charles de Gaulle para o combate triplicou a capacidade de realizar ataques aéreos.
Kerry estava se referindo a um relatório de abril, que afirmava que a coalização liderada pelos Estados Unidos contra o EI havia feito com que o grupo recuasse e perdesse de 25% a 30% do território que ocupava.
Isso representa entre 13 mil e 17 mil km2 segundo o documento do Pentágono, o qual mencionava a retomada das cidades sírias de Kobane e Tal Hamis, assim como um acirramento do cerco aos jihadistas em grandes cidades iraquianas, como Mosul.
Mas o Estado Islâmico está mesmo perdendo terreno? E, se isso estiver ocorrendo de fato, qual é a dimensão deste recuo?
Equívoco
"A ideia de que eles (os militantes do EI) perderam 25% do seu território é um equívoco", diz Frank Gardner, correspondente para assuntos de segurança da BBC.
"Talvez você consiga ilustrar isso de alguma forma em mapas, mas o fato é que, só no ano passado, eles assumiram o controle de Palmira e Ramadi e não há sinais de que abrirão mão de Mosul - a segunda cidade mais importante do Iraque. Eles ainda estão aqui. Eles não foram embora."
Gardner diz ainda que "não há dúvidas" de que os ataques aéreos contra o grupo estão surtindo efeito. "Eles estão perdendo um líder de médio ou alto escalão praticamente todos os dias com estes ataques, segundo os americanos, mas eles são capazes de substituí-los."
Paul Rogers, consultor de segurança global do centro de estudos independente Oxford Reseach Group, também lança dúvidas sobre as estatísticas oficiais.
"É verdade que o EI foi impedido de avançar no Iraque e que sofreu alguns reveses no nordeste do país, onde os curdos fizeram progresso, e em torno das cidades de Tikrit e Badgi, ao norte de Bagdá, que parecem ter sido retomadas pelo governo", afirma Rogers.
"Mas em importantes cidades, como Fallujah, Ramadi e Mosul, tem sido muito difícil enfrentar o EI."
O especialista afirma que evidências apontam, na verdade, para um aumento do território controlado pelos membros do grupo, mas ressalta que o índice de 25% a 30% pode estar preciso se estiver se referindo a áreas sem população em vez de áreas populadas.
A real preocupação
Pessoas fazem um minuto de silêncio em frente ao restaurante Le Carillon, na esquina das ruas Bichat e Alibert, em Paris. O restaurante foi alvo dos ataques (Foto: Eric Feferberg / AFP)Pessoas fazem um minuto de silêncio em frente ao restaurante Le Carillon, na esquina das ruas Bichat e Alibert, em Paris. O restaurante foi alvo dos ataques (Foto: Eric Feferberg / AFP)
Ainda assim, Rogers não acredita que o tamanho do território ocupado pelo EI seja uma boa medida do sucesso do combate ao grupo. Ele afirma que deveríamos estar nos preocupando com a capacidade de ação dos militantes.
"O preocupante em relação ao EI é que ele voltou a usar as táticas empregadas pela Al-Qaeda há dez anos e começando a realizar ataques em outros países", afirma ele.
"Até recentemente, eles estavam se concentrando em criar seu próprio território geográfico, seu próprio califado, como eles dizem. Agora, passaram a agir internacionalmente."
Os ataques em Paris, o bombardeio de um jato russo e o recente ataque em Beirute, no Líbano, são evidências desta mudança, diz Rogers.
"Estamos entrando em uma nova era em que o EI está mais determinado a facilitar e encorajar ataques internacionais e esta deve ser nossa real preocupação."

 

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